sábado, 26 de dezembro de 2009

Virtude

Acabei de assistir novamente um filme fantástico, este me inspirou a recriar a liga da virtude há algum tempo atrás, este filme fala sobre caráter, ética, moral e virtudes. Sempre digo que precisamos de mais filosofia nas escolas, em nossas casas e no mundo em geral.
Estudar filosofia é estudar a história humana, suas conquistas e seus fracassos, é poder avaliar os rumos tomados e as idéias que norteiam nossa sociedade, inclusive hoje. Somos hoje o reflexo de grandes homens que nos antecederam.
O filme que relato acima é Clube do Imperador, todos deveriam assistir e tentar perceber a magia que a realidade nos traz, não precisamos de mistérios, de paraíso, de energias inexplicáveis, nem de Deus, o mundo já é pleno em surpresa, magia e desafios.
Clube do Imperador é um desafio a virtude e como formar cidadãos conscientes de caráter e de valores, sem precisar de uma vírgula sequer de religião. As pessoas acham que Ateus são desprezíveis, porque não crêem em nada, são vazios por dentro. Digo que quem mata Deus e não coloca nada em seu lugar é desprezível mesmo, ninguém vive sem valores.
Nietzsche nos ensinou, amigos, que precisamos de valores para viver, mas estes valores não precisam ser valores do além, de algo ilusório, simplório e inimaginável, o homem é capaz de criar valores maravilhosos sem precisar de livros espirituais.
Durante o filme percebemos como a história humana é rica em criação de valores totalmente distintas de religião. Acontece que os valores criados são mutáveis e devem ser. A sociedade caminha, não fica parada, nossos valores precisam sempre mudar. A historia nos ensina que estes valores são criados, mudados e alterados por indivíduos notáveis, seres capazes de enxergar além de montanhas, e são justamente estes homens que são lembrados e transcendem suas existências.
Pois é, que todos possa se deslumbrar com vida terrena e presente; e criar SEMPRE novos valores importantes para a convivência humana na busca de um mundo melhor. Chega de verdades imutáveis, não precisamos de verdades absolutas para encontrarmos um caminho. Deus é o caminho mais fácil, difícil é encontrarmos nossos valores, nossas próprias verdades e nossos sonhos.
Viva os grandes homens que nos antecederam e que deixaram a escuridão para enxergar um caminho próprio a seguir.
A Luz não está acessa, precisamos encontrar sua fonte para iluminar nossas vidas e nossos sonhos.
Coragem!!!

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo V

Texto na Integra:
V
Depois de pronunciar estas palavras, Zaratustra considerou de novo a multidão e se manteve em silêncio. “Ei-los diante de mim”, disse consigo mesmo, “e ei-los que riem. Não me compreendem , não sou a boca que convém a esses ouvidos.
Será preciso antes furar-lhes os ouvidos para que aprendam a ouvir com os olhos? Será preciso retumbar como os tambores e os sermoneiros da quaresma? Ou só acreditam naquele que gagueja?
Há algo de que se orgulham. Como chamam a isso de que se orgulham? Cultura, é como lhe chamam, e é por ela que se distinguem dos guardadores de cabras.
Por isso não gostam de ouvir a palavra “desprezo” usada contra eles. Vou antes falar-lhes ao orgulho.
Para tanto, devo falar do que há de mais desprezível: do ultimo homem.”
E assim falou Zaratustra à multidão:
“É chegado o tempo de o homem estabelecer a sua meta. É chegado o tempo de o homem depositar na terra o grão de sua esperança mais alta.
Seu solo é ainda bastante rico para isso. Mas um dia esse solo estará tão pobre e exaurido, que nele nenhuma àrvore de porte poderá mais crescer.
Ai de vós! Eis chegado o tempo em que o homem não mais lançará a flecha de seu desejo para além do homem, o tempo em que a corda de seu arco terá desaprendido de vibrar!
Eu vos digo: é preciso ter caos ainda dentro de si para poder gerar uma estrela piscante. Eu vos digo: ainda tendes caos dentro de vós.
Ai de vós! Eis que chega o tempo em que o homem não poderá mais dar á luz uma estrela. Ai de vós! Eis que chega o tempo do mais desprezível dos homens, aquele que nem é mais capaz de desprezar-se a si mesmo.
Vede! Eu vos mostro o último homem.
‘Que é o amor? Que é a criação? Que é o desejo? Que é uma estrela?’ Assim pergunta o último homem com um piscar de olhos.
Eis que a terra encolheu-se e sobre ela saltita o último homem, que amesquinha tudo. Sua espécie é indestrutível, como a dos pulgões; o último homem, o que perdura mais tempo.
‘Inventamos a felicidade’. Dizem os últimos homens com um piscar de olhos.
Abandonaram as regiões onde era difícil viver; pois precisam de calor. Ainda amam seu vizinho e a ele se aconchegam, pois precisam de calor.
Adoecer e desconfiar, para eles é pecado; avança-se com cautela. Insensato aquele que ainda tropeça em pedras ou em homens!
De quando em quando, um pouco de veneno: traz sonhos agradáveis. E muito veneno, no fim, para se morrer agradavelmente.
Trabalham ainda, pois o trabalho é uma distração. Mas ficam atentos para que esse divertimento não os canse.
Ninguém fica mais nem pobre nem rico: é algo penoso, tanto para um quanto o outro. Quem ainda deseja governar? Quem ainda deseja obedecer? São ambos consativos demais.
Nenhum pastor e um só rebanho? Todos querem o mesmo, todos são iguais. Quem sente de maneira diversa se condena ao hospício.
‘Outrora, todo o mundo era louco’, dizem os mais astutos, com um piscar de olhos.
Estamos bem avisados, sabemos tudo o que acontece. Por isso, não paramos de escarnecer. Acontece ainda discutirmos, mas logo nos reconciliamos – as brigas fazem mal ao estômago.
Temos nossos pequenos prazeres diurnos e nossos pequenos prazeres noturnos; mas cuidamos da saúde.
‘Inventamos a felicidade’, dizem os ultimos homens com um piscar de olhos.”
Com isso teve fim o primeiro discurso de Zaratustra, também chamado prólogo, pois os gritos de júbilo da multidão o interromperam nesse ponto: “Dá-nos esse ultimo homem, Zaratustra”, gritavam eles. “Faz de nós esses ultimos homens, que te daremos o super-homem de presente!” E a multidão inteira se rejubilava e estalava a língua. Mas Zaratustra, tomado de tristeza, assim falou consigo:
“Não me compeendem: não sou a boca que convém a seus ouvidos.
Sem dúvida passei muitos anos na motanha, a escutar demais riachos e as arvores, e agora lhes falo como a guardadores de cabras.
Minha alma está serena e clara como a montanha ao amanhecer. Mas eles me tornam por um cínico, um zombeteiro de sinistras ironias.
E, então, olham para mim e riem; e rindo, também me odeiam. Há um gelo no seu riso.”

Comentários:
A chegada do super-homem implica necessariamente na morte de Deus, ou na derrubada dos valores, para o autor é preciso destruir o homem para construir outro. No entanto este processo não é simples e pode fazer com que o homem se torne um ser sem valores, ou seja, o último homem.
O último homem é aquele que destruiu o homem, os valores religiosos e cristãos, mas não é capaz de criar uma nova moral nem novos valores.
O super-homem nega Deus de forma afirmativa, para criar uma nova metafísica, o ultimo homem nega Deus de forma negativa, apenas para destruí-lo. Para o ultimo homem se Deus não existe tudo é permitido e neste sentido não há nenhuma razão para se proibir tornando o homem vazio.
O autor está neste momento descrevendo uma etapa na transformação do homem no super-homem, nesta etapa de destruição de valores o homem precisa ter mente que este destruição ocorre para a criação de uma outra, quando isto não acontece o homem torna-se o último homem, e como Nietzsche diz, o mais desprezível dos homens, pois não coloca nada no lugar, nenhum homem pode viver sem valores. Para o último homem tudo é permitido, ele não tem virtudes, não tem justiça, não tem sabedoria, tudo torna-se material e efêmero, ele transforma a felicidade em algo passageiro e ilusório baseado nos desejos.
O ultimo homem torna-se tão cético de tudo que não é capaz de desprezar-se a si mesmo, pois isto não é capaz de criar nada novo.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Peixinho Doido

Há muito tempo atrás quando terminei minha primeira faculdade de Administração, tinha uma empresa de representação, uma namorada, um carro, acabara de me formar, ou seja, tinha tudo para começar uma vida boa, digamos padrão.
Depois que li este texto, repassado pela minha professora de comunicação, mudei totalmente minha vida. Vendi meu carro, peguei o dinheiro e me joguei no mundo em busca de experiências, deixei tudo que tinha para trás para viver o inesperado, o novo. Fui viajar o mundo por um ano e meio.
Procuro este texto há muito tempo e somente hoje achei na internet. Lendo-o agora novamente, me emociono ao ver que o vivi literalmente. Ele mudou minha vida e espero que também toque a de vocês e que novos peixinhos doidos nasçam pelo mundo e descubram que a vida pode ser muito mais do que achamos apenas vivendo como os outros.
Apenas lembrando e comparando com os pensamentos de Nietzsche, nos textos sobre Zaratustra, percebam que há muita semelhança entre eles.
O mais importante na vida é o querer.

Texto:

Era uma vez um peixinho que vivia em um aquário e, ele pensava que o aquário era o mundo. O pai, muito rico explorava as algas do fundo do aquário. A mãe era uma peixinha muito conhecida, por isso ele e os irmãos iam herdar as riquezas do pai.
Uma noite, ele acordou e perdeu o sono. Só que desta vez ao invés de ficar pensando na vida, resolveu dar uma volta e, então, descobriu que o mundo não era só um aquário; havia um rio que se perdia no infinito.
Ai o peixinho ficou muito grilado e acordou os irmãos para contar sua descoberta. Cada um achou uma coisa: o primeiro achou que ele estava com febre, o segundo que ele tinha bebido, o terceiro não achou nada, e o último achou que ele tinha ficado louco.
E contou pro pai (peixão preocupado) que conversou com a mãe (peixinha nervosa) e resolveram levar o filho a um peixiatra. Mas o peixiatra era daqueles que costumam jogar os livros na cabeça e no coração dos peixes; rapidamente achou que ele estava maluco mesmo, e o internou em uma clínica peixiátrica onde ele tomou muitos remédios para que continuasse a acreditar que o mundo era só um aquário mesmo.
O que é pior, ele quase acreditou que estava louco mesmo, mas conseguiu fugir da clinica e todas as noites ia namorar o mundo através do vidro.
Como era muito religioso resolveu procurar o grande sacerdote do aquário (peixão barbudo). Mas o sacerdote também sabia que o mundo não era só um aquário; não que ele tivesse visto, mas porque estava escrito em um daqueles velhos livros onde os sacerdotes aprendem coisas. Entretanto, por saber que todo aquele que pensa e sente de uma forma diferente dos outros pode sofrer muito, o sacerdote fez tudo para convencer o peixinho a desistir daquelas idéias; lhe ensinou um monte de rezas e lhe deu um terço cheio de conchinhas coloridas para que não pensasse mais nestas coisas. Aí o peixinho teve a sua segunda grande descoberta; não adiantava ficar no aquário reclamando dos outros; se ele não estava satisfeito, que fosse embora. Então, todas as noites, subia um pouquinho até que um dia, ficou deitadinho em cima do vidro olhando para frente e para trás. Quando olhava para trás pensava: este aquário é tão bom! Além do mais eu já sei quase tudo. Mas este rio me tenta porque eu não sei nada dele! De repente, Ploft! Até hoje não se sabe se pulou, se caiu, se escorregou e já estava do outro lado podendo ir ou voltar. Então, olhou para a mãe com a sacola do supermercado, o pai com sua pasta de homem importante, os irmãos indo para a escola e, se mandou...
O começo foi difícil. Ele foi aprendendo a se esconder, descobriu que ficar com raiva não era pecado mortal, como haviam lhe ensinado no aquário. Às vezes era preciso brigar, para sobreviver. Um dia ele fez um amigo e então se descobriram e seguiram a caminhada sem destino. Até que um dia o amigo olhou para um ponto da margem do rio e disse: vou ficar aqui, porque o meu objetivo era chegar até aqui. Mas o do peixinho não era; para falar a verdade ele não sabia o que era ter um objetivo. Aí descobriu que ia perder um amigo e ficou muito triste. Mas depois descobriu que ninguém perde ninguém; podia ser que um dia o amigo estivesse muito na sua frente, podia ser que ele, o peixinho voltasse. Podia ser tudo. Então como podia ser qualquer coisa, ele se foi.
Até que um dia ele encontrou uma peixinha. E, namoraram em cima dos corais, se descobriram e se foram. Até que uma noite a peixinha se fez bem bonita, botou vestido longo da cor das Águas e sentou-se em sua frente, olhando no fundo do seu olhar. Eles já se conheciam tanto que não precisavam mais das palavras para se dizer, e no silêncio ela lhe disse: - Sabe? Acho que a gente vai se separar, porque pelo menos hoje você é um poeta e eu sou uma peixinha; e o que eu queria é que a gente se casasse, que você comprasse tinta para eu pintar minhas escamas e fizéssemos uma casa bem bonita onde recebêssemos os amigos e pudéssemos criar nossos filhos. Mas se você ficasse porque eu estou pedindo sei que você seria um enfeite na minha sala. E o peixinho em silêncio disse: - Sabe? O que eu queria era que você seguisse comigo na viagem; podia ser que daqui a um segundo a gente se casasse e tivesse uma casa; mas se você fosse porque eu estou pedindo, será¡ que seria bom?E eles se separaram se amando.
E o peixinho chorou; descobriu que peixe que chora nem sempre é frágil, como lhe haviam ensinado no aquário; que às vezes é preciso chorar. E foi.
Até que um dia descobriu que o mundo não era só um rio, que o rio dava para o mar. No começo sentiu paz. Como é que peixe de Água doce vai viver na Água salgada? Enfim ele tinha chegado a um limite. Mas depois foi ficando tenso, e começou a estudar muito como ele era feito por dentro. Pesquisou, aprendeu até descobrir que as coisas podiam mudar, saltou para o meio do oceano.
Então, namorou a sereia, apaixonou-se por uma concha, brincou com a estrela do mar, e entrou na boca do tubarão, até que um dia descobriu que o mundo não era só Água. Havia o resto. Novamente paz! Como é que peixe vai viver no resto? Mas depois foi ficando novamente tenso, e começou a estudar como é que ele era feito por fora. Estudou, pesquisou muito, até que descobriu que poderia se transformar num passarinho.
Aí sentou-se em cima da nuvem, voou num raio de crepúsculo, bebeu uma taça de arco-íris, ganhou, perdeu, fez ninhos, desfez, até que um dia apaixonou-se por uma bolinha de sabão.
Ele vinha voando e ela vinha dançando, refratando a luz nas suas cores. Mas no momento que eles iam entrar um no outro, os dois tiveram medo. Cara, acho que não vai dar, porque eu tenho um dono; é um passarinho que vem me ver todos os anos, quando chegam às aves de arribação. Eu também estou com medo; afinal de contas também deixei uma peixinha no meio do caminho. Mas olhe só! Se minha peixinha ficou lá e o seu dono só vem daqui a um ano, porque a gente não pode namorar agora? Ah! Acontece que o peso dele eu já conheço e sei que quando ele entrar dentro de mim e eu dentro dele nós não vamos nos arrebentar. Mas eu não conheço o seu peso, nem você conhece o meu; pior que isto tenho muito medo que a gente se arrebente todo de tanta surpresa.E aí o peixinho e a bolha de sabão descobriram que, às vezes existe muito medo. E ele se foi.
Até que um dia descobriu que o mundo é muito maior que um planeta; novamente a paz. Como é que um peixe pode voar fora do planeta? Novamente tensão. E ele voltou a pesquisar muito, para saber como seria possível viver fora do mundo. Então fabricou uma roupa de aeronauta e pulou para o meio das estrelas.
Conversou com o sol, namorou com as estrelas cadentes, andou a cavalo num cometa, até que, um dia descobriu que era o rio, o aquário, a bolha de sabão, que era tudo. E viveu assim um segundo ou mil anos-luz, até que um dia sentiu uma enorme tensão, pois descobriu que ser tudo não é a última coisa. Então: Era uma vez um peixinho que morava num aquário e acordou assustado de tanto sonho!
O Peixinho Doido, de vez em quando, passa pela minha cabeça e pelo meu coração. Ele me conta que todo mundo é capaz de perceber suas passagens, mas como a maioria das pessoas vive muito ocupada com as suas ambições e com os seus sofrimentos, pouca gente se descobre.
Na última vez, ele me contou que sua viagem solitária lhe ensinou muito, mas agora ele está em busca de algo novo: ele quer companheiros. Mesmo sabendo que às vezes os peixes e as bolhas de sabão às vezes sentem medo!
Autor: Aluizio Collares

Seguem abaixo as sequencias do peixinho feitas por mim:

2) http://ligadavirtude.blogspot.com.br/search?q=peixinho+doido

3) http://ligadavirtude.blogspot.com.br/2010/03/peixinho-esquentado.html

4) http://ligadavirtude.blogspot.com.br/2010/04/peixinho-bobo.html

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo IV

Texto na Integra:
IV
Mas Zaratustra contemplava, admirado, a multidão e lhe falou assim:
“O homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda sobre o abismo. Perigosa a travessia, perigoso o percurso, perigoso olhar para trás, perigoso o tremor e a paralisação.
A grandeza do homem está em ser ponte e não meta: o que nele se pode amar é o fato de ser ao mesmo tempo transição e declínio.
Amo os que só sabem viver em declínio, pois são os que transpõem.
Amo os que desprezam com intensidade, pois sabem venerar intensamente, e são flechas lançadas pelo anseio-da-outra-margem.
Amo os que não se satisfazem em procurar além das estrelas uma razão para serem declínio e oferenda, mas que, ao contrário, se sacrificam a terra para que esta um dia se torne a terra do super-homem.
Amo o que vive para conhecer, e quer conhecer para que um dia o super-homem viva. E quer assim o seu próprio declínio.
Amo o que trabalha e inventa para construir a morada do super-homem, e prepara para ele a terra, os animais e as plantas. Pois assim quer o seu declínio.
Amo o que ama a sua própria virtude, pois que a virtude é vontade de declínio e flecha do desejo. Amo o que não guarda para si nem uma só gota de seu espírito mas quer ser inteiramente o espírito de sua própria virtude. É dessa forma que ele, como espírito, atravessa a ponte.
Amo o que faz da virtude inclinação e destino, pois ele, por amor à sua virtude, quer viver ainda e não mais viver.
Amo o que não quer virtudes em demasia. Uma única virtude é mais virtude do que duas, pois ela é o nó mais forte onde se ata o destino.
Amo o que prodigaliza sua alma, e que, ao fazer isto, não visa á gratidão nem ao pagamento; pois sempre dá e nada quer em troca.
Amo o que se envergonha quando o dado cai a seu favor, e então pergunta: serei um trapaceiro? – pois é para sua ruína que ele quer se encaminhar.
Amo o que antecede com palavras de ouro os seus atos e sempre cumpre mais do que promete; pois ele quer o seu declínio.
Amo o que justifica os que serão e resgata os que foram; pois quer perecer por aqueles que são.
Amo aquele que pune seu Deus porque o ama; porquanto só poderá perecer pela cólera de seu Deus.
Amo o que, mesmo ferido, tem a alma profunda, e que um simples acaso pode fazer perecer. Assim, ele atravessa de bom grado a ponte.
Amo aquele cuja alma transborda e a tal ponto se esquece de si que todas as coisas nele encontram lugar. Assim, todas as coisas se tornam seu declínio.
Amo todos aqueles que são como pesadas gotas caindo uma a uma da negra nuvem que paira sobre os homens; anunciam a chegada do raio e perecem como anunciadores.
Vede, sou o anunciador do raio, uma gota pesada dessa nuvem. Mas o raio se chama super-homem.”

Comentários:
Viva Nietzsche, viva.
Precisamos destruir este homem, eliminá-lo, decliná-lo, para posteriormente construir outro, sem esta moral dualista e que afasta o homem de seu eterno recomeço.
Temos que explicar melhor a intenção de Nietsche, ele fala o tempo inteiro em declínio, não de forma negativa, ele apenas quer desmoralizar o homem existente para depois criar algo novo. Este novo homem, chamado de super-homem, também não tem uma verdade uniforme, para o autor este homem depende apenas de suas vontades para atingir suas metas. Nietzsche não busca uma meta ou verdade, para ele o importante é o querer, a vontade individual de cada um, aonde vai chegar? Não importa, o homem é ponte, não meta. Não existem padrões, nem verdades absolutas.
O importante agora é que o homem não seguirá mais nenhuma moral ou verdade, ele será um ser em eterna transmutação, querendo sempre algo novo, criando sempre algo novo, este é o novo homem, o super-homem.

A criação de uma nova metafísica
O Deus de Zaratustra não é o Deus do sofrimento, da culpa, não é o Deus judaico-cristão.
O Deus do autor é o da vontade afirmativa e criativa, com vontade de crescimento, de potência, de expansão, de afirmação de si mesmo, da espontaneidade, um Deus sem intenções nem morais nem lógicas.
Vejam as diferenças, Nietzsche não era ateu, ele muda os adjetivos do Deus conhecido e propõe um novo, ele cria uma moral, não é amoral.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo III

Texto na Integra:
III
Assim que chegou à cidade mais próxima, na orla da floresta, Zaratustra encontrou muita gente reunida na praça principal, para ver um funâmbulo que fora anunciado. E Zaratustra dirigiu-se assim à multidão:
“Eu vos proponho o super-homem. O homem é algo a ser superado. O que fizeste para isto?
Até então, todos os seres imaginaram algo superior, acima de si mesmos, e vós quereis ser acaso o reverso desse grande fluxo, preferindo antes voltar ao animal do que chegar ao super-homem?
O que é o símio para o homem? Objeto de riso ou ignomínia. E é justamente isso que o homem deve ser para o super-homem: objeto de riso ou ignomínia.
Já fizeste o caminho que vai do verme ao homem, mas ainda há muito de verme em vós. Outrora fostes símios, contudo ainda hoje o homem é mais símio que qualquer dos símios.
O mais sábio entre vós não passa de um conflito, um ser híbrido entre a planta e o espectro. Porventura ordenei que vos tornásseis espectro ou planta?
Vede, eu vos ensino o super-homem!
O super-homem é o sentido da terra. Fazei dizer à vossa vontade: que o super-homem seja o sentido da terra!
Eu vos conclamo, irmão, permanecei fiéis à terra e não acrediteis nos que vos falam de esperanças ultraterrenas! Não passam de envenenadores, conscientes ou não.
São gente que despreza a vida, seres agonizantes, igualmente intoxicados, dos quais a terra se cansou. Que eles, pois, desapareçam!
Outrora, a ofensa a Deus era a maior das ofensas, mas Deus está morto, e com ele morreram seus detratores. O terrível, agora, é injuriar a terra, pois seria dar mais valor às entranhas do insondável que ao sentido da terra!
Outrora, a alma olhava o corpo com desprezo, e esse desprezo era o que havia de mais sublime. A alma queria o corpo magro, horrendo, faminto. Pensava, assim, sobrepor-se a ele e á terra.
Oh, mas essa alma era também magra, horrenda e faminta, e a crueldade era toda a sua volúpia!
Mas vós, irmão, dizei-me: que vos informa o vosso corpo sobre vossa alma? Não é ela miséria, imundície e reles bem-estar?
Em verdade, um rio imundo é o homem. E só o mar pode absorver um rio imundo sem macular-se.
Qual o mais sublime experiência que poderíeis viver? É a hora do grande desprezo. Essa hora em que mesmo para vós a felicidade se transforma em náusea, e bem assim vossa razão e vossa virtude.
A hora em que dizeis: “Que é afinal minha felicidade? Simplesmente miséria, imundície e reles bem-estar. Ora, minha felicidade devia ser a própria justificação de minha existência!”
A hora em que dizeis: “Que é afinal minha virtude! Ela ainda não me fez revoltado. Como estou farto de meu bem e de meu mal” aqui só há miséria, imundice e satisfação grosseira!”
A hora em que dizeis: “Que é afinal a minha justiça? Não me sinto um carvão em brasa. Ora, o justo é um carvão em brasa!”
A hora em que dizeis: “Que é afinal a minha compaixão? A compaixão não é a cruz onde se prega aquele que ama os homens? Ora, minha compaixão não cruscifica!”
Já falastes assim? Já gritasse assim? Ah! Por que ainda não vos ouvi gritar assim?
Não é vosso pecado, mas vossa medida que brada aos céus, é vossa avareza no pecar que brada aos céus!
Mas onde está o raio que vos virá lamber com sua língua? Onde a loucura de que deveríeis inocular-vos?
Vede, eu vos ensino o super-homem: ele é esse raio, essa loucura!”
Ao terminar Zaratustra de falar assim, alguém exclamou na multidão: “Já ouvimos demais sobre o funâmbulo, queremos agora vê-lo!” E toda a multidão se riu de Zaratustra. Quanto ao funâmbulo, acreditando que estas palavras lhe dissessem respeito, logo se preparou para iniciar o seu trabalho.

Comentários:
Não posso deixar de falar sobre minha admiração deste capítulo de Nietzsche, somente ele poderia descrever tão bem o que é uma vida religiosa que transforma o homem em mero expectador do mundo e da vida.
Com isto ele anuncia um novo homem com as responsabilidades da superação e da direção de sua própria vida. A chegada do super-homem é o clímax do pensamento de Nietzsche em Zaratustra.
O que é afinal o super-homem? Vamos estabelecer algumas características do dele de acordo com o retirado do texto acima:
Ø Não crê no além, recusa a existência de Deus;
Ø Acredita na Terra;
Ø Recusa o dualismo entre bem e mal, céu e terra, mundo divino e terreno;
Ø Diz sim a vida, sim ao ser, sim a vontade de criar e de criar-se a si mesmo;
Ø Grande desprezo a moral vigente baseada na idéia de divino (bem e mal), de caráter pobre, temeroso e frágil;
Ø Felicidade como justificação da própria existência e finalidade da vida;
Ø Despreza a razão, Nietzsche quer desprezar as decisões previsíveis, esperadas e sem risco da razão, a razão e a ciência estão preocupadas com a segurança, uma verdade clara, não quer conhecer, quer tranqüilizar, querem um mundo previsível, lógico, onde o acaso não tem lugar nenhum;
Ø Despreza a virtude
Ø Despreza a Justiça
Ø Despreza a compaixão
Zaratustra mostra seu desprezo com a moral vigente e busca libertar o homem das amaras religiosas e científicas, recusa a religião moralizante e culpabilizante.
Outro ponto importante é que o autor começar a delinear algo novo na história da filosofia, que apenas evidenciamos assimilações superficiais na realidade e que em cada época as verdades se modificam, assim como o mundo, assim como as leis naturais, etc. Para Nietzsche mais importante que o “Ser” é o “Querer”, isto é chamado de vontade de potência.
Começa aqui meus problemas com a psicologia. Em geral, os psicólogos buscam a verdade no ser, no “eu” interior, na personalidade única de cada indivíduo, e acho que o foco está totalmente errado (os psicólogos vão me matar, mais a discussão é importante, sempre).
Para mim, assim como Nietzsche escreveu, o que importa não são nossos problemas, nem em nosso “eu”, o problema está justamente no querer de cada indivíduo, o foco deve ser direcionado no querer, no onde queremos chegar e não no problema em si. Por exemplo, as vezes vemos um individuo com muitos problemas pessoais mudar radicalmente apenas por ter entrado em alguma religião ou Igreja, isto acontece por que ele mudou o querer, este deveria ser o foco dos psicólogos, e aí está minha maior crítica a eles.
E que venham as críticas dos psicólogos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Com muito risco, please

Dando um pulo na continuação dos artigos sobre Zaratustra de Nietzsche, que voltam na semana que vem, gostaria de falar um pouco sobre uma palavra muito utilizada no meu ramo de trabalho, na economia, nas finanças e que tem tudo a haver com nossa própria vida, escolhas e liberdade. A palavra é Risco.
Vamos começar pela definição de risco para o mercado financeiro, prometo ser rápido: risco é a probabilidade de um determinado ativo ou acontecimento ocorrer ou não. E quanto maior for a distancia alcançada do alvo, maior o risco.
A vida não é exatamente assim? Não sabemos o que vai acontecer, não podemos determinar nada com 100% de grau de certeza. A imprevisibilidade é marca registrada em nossa existência, não sabemos quando começa nem quando termina esta.
A prova que o risco é inerente a tudo no universo, começa na determinação da matéria mais essencial, o átomo. Não é possível determinar a posição dos elétrons, os geradores de energia primária do universo. A probabilidade pode ser calculada, mas os riscos de imprevisibilidade estão lá e não podem ser 100% determinados. Que loucura, parece que tudo é relativo mesmo, e isto para mim é que é fascinante e maravilhoso. Tudo que é 100% determinado é monótono, chato e desestimulante.
Imaginem a vida determinada por destinos, como se tudo estivesse escrito. Sério, vamos analisar friamente: seria um tédio, seria muito chato imaginar que tudo está escrito e determinado a acontecer independentemente de sua vontade ou não. Volto a atacar a idéia de paraíso bíblico novamente, o paraíso onde todos são iguais e tem tudo que precisam, ora, isto também seria um tédio, o risco dos acontecimentos vem ao lado da necessidade que temos de querer mais, almejar mais, desejar mais, amar mais, etc.
Alguns têm medo deste risco todo; risco de amar, de desejar, de viajar, de morrer e de viver também, pois vida pressupõe coragem e riscos, muitos riscos que devemos nos defrontar.
Sem correr riscos não alcançamos nenhuma realização, não criamos nada para o mundo e nem para nós mesmos, não arriscamos, não sonhamos e não vivemos. Viver pressupõe correr riscos, e o risco é essencial à vida de qualquer ser vivo, aliás, a tudo que existe no universo. As mutações necessárias a evolução das espécies são determinadas justamente pelos riscos e complexidade da vida e da reprodução.
O ponto importante para mim é que o risco traz graça à vida, traz a responsabilidade dos acontecimentos, um pouco ao acaso, mesmo quando direcionamos nossas vidas não temos 100% de certeza dos eventos. Mesmo que tenhamos coragem de enfrentar os desafios e de realizar coisas, a imprevisibilidade traz um frio na barriga e ele nos mantém alertas.
A possibilidade de sair tudo errado e diferente do planejado existe, pode trazer alegrias e desapontamentos. Acho que não deveríamos ficar frustrados quando as coisas não saem como planejado, seria monótono também se todos os nossos sonhos se realizassem com facilidade ou da maneira que queremos. O risco faz toda a diferença de novo, ele nos traz para a realidade de que nem tudo depende de nós. O que seria a alegria sem a tristeza, o amor sem o ódio, o claro sem o escuro. O risco nos coloca os opostos. Todos vivenciamos os antônimos a todo o momento, não podemos determinar nossas experiências, nem nossos sentimentos.
Pois é, quanto maiores os riscos, maior será nossa ambição e consequentemente maiores os nossos sonhos. Isto mesmo, o risco de vida é proporcional ao tamanho dos nossos sonhos, sem riscos não há realizações.
É por isto que sempre digo, o paraíso é aqui e agora, não pode haver nada mais perfeito e fascinante que nossa existência. Não saber o que pode acontecer no próximo segundo nos deixa com uma vontade de viver o inesperado e o imprevisível, aquilo que ainda será escrito e que depende de nossas vontades e de nossas relações com o mundo. Viver o presente é viver os riscos e aceitá-los, quando aprendemos isto, vivemos com mais sabedoria e intensamente nossos momentos.
Quero viver com muito risco, please.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo II

Texto na Integra:
II
Zaratustra desceu só da montanha, sem encontrar ninguém. Mas ao chegar à floresta, viu-se de súbito diante de um ancião, que deixara a sua sagrada choça para ir à procura de raízes silvestres. O ancião dirigiu a Zaratustra estas palavras: “Este viandante não me é desconhecido; há muitos anos o vi passar por aqui. Então se chamava Zaratustra; mas agora está mudado.
Naquela época, levavas tuas cinzas para o monte. Queres agora trazer teu fogo para o vale? Não temes o castigo que sofre o incendiário?
Sim, reconheço Zaratustra. Seu olhar é límpido, e sua boca não encerra mágoas. Não caminha como um dançarino?
Zaratustra está mudado, Zaratustra fez-se criança, Zaratustra é homem desperto: que procuras agora entre os que dormem?
Vivias na solidão como no mar, e esse mar te levava. Pobre de ti, queres acostar? Queres de novo, infeliz, arrastar teu próprio corpo?”
Zaratustra respondeu: “amo os homens”
“Por que pensas”, disse o santo, “que busquei a floresta e o deserto, senão porque amava demasiadamente os homens?
Agora, amo a Deus; e não aos homens. Acho por demais imperfeito o ser humano. O amor aos homens me faria perecer.”
Zaratustra respondeu: “Por que falei de amor? Na realidade, trago aos homens um presente!”
“Não lhe dês nada”, disse o santo. “É preferível aliviá-los de alguma coisa que possas carregar com eles – será o que de melhor farás em seu favor se acaso isso te satisfazer!
Se insistes em dar-lhes um presente, que não seja nada mais do que a esmola, e, mesmo assim, depois de a mendigarem!”
“Não”, respondeu Zaratustra, “não lhes darei esmolas. Não sou bastante pobre para isso.”
O santo riu de Zaratustra e lhe falou assim:
“Então, procura fazer com que aceitem teus tesouros! Desconfiam dos eremitas e não querem acreditar em nossas dádivas.
Para eles, nossos passos soam por demais solitários nas vielas. De tal forma que, à noite, ao ouvirem, já no leito, andar lá fora um homem, muito antes do raiar do sol, perguntam-se com certeza: “aonde irá esse ladrão?”
Não busques os homens, e fica na floresta! Vai antes ter com os animais! Por que não queres ser o que eu sou: um urso entre os ursos, um pássaro entre os pássaros?”
“E que faz o santo na floresta?”, perguntou Zaratustra.
O santo respondeu: “Componho canções e conto-as, e quando componho canções, rio, choro, e murmuro: é assim que louvo a Deus.
Contando, chorando, rindo e murmurando, louvo a Deus que é meu Deus. Mas, afinal, que nos trazes de presente?”
A essas palavras, Zaratustra saudou o santo, dizendo-lhe: “Que teria eu para vos dar? Mas deixai-me partir depressa, antes que vos tire algum coisa!” E assim se separaram, o ancião e o homem, a rir como dois jovens.
Mas quando Zaratustra ficou só, falou consigo mesmo; “Como é possível? Esses santo ancião na sua floresta não sabe ainda que Deus está morto?”

Comentários:
A morte de Deus anunciada não é, evidentemente, a pregação do ateísmo, na verdade Nietzsche não demonstra tentar provar a existência ou não do divino, entretanto ele quer transparecer que a existência de Deus não é importante para o ser humano, Deus não está aqui e agora, e não precisamos dele para viver nossas vidas. As descobertas científicas durante o século XIX fizeram Deus perder poder sobre nossas decisões. Nietzsche quer acabar com nossa noção de “além”, devemos viver o presente, o agora, e não mais viver para uma vida após morte ou paraíso, ou qualquer que seja sua noção de divindade.
Nossa cultura é baseada na noção de vida após morte, entre mundo físico e mundo divino, este dualismo é atacado pelo autor, pois esta visão é fundamentalmente negativa, já que o mundo físico não vale nada, tudo nele é ilusão, pecado e angustia. Para Nietzsche o fim deste dualismo traz luz aos homens, quando ele diz: “amo os homens” ele prega uma cultura positiva e afirmativa. A alegria do autor com a “Morte de Deus” é uma posição positiva em relação à vida e a nossa existência, temos agora uma nova metafísica, baseada na alegria, no pensamento positivo e na ação criativa do homem para o presente.
Outra crítica do autor a moral cristã é percebida quando Zaratustra sugere que veio aliviar os homens do peso, do fardo que carregam por causa das instituições religiosas e do espírito mau, culpado, maculado e originalmente pecador que Jesus nos deixou.
Zaratustra diz: “trago aos homens um presente”, este presente traz uma reabilitação, à volta ao próprio homem, uma desalienação, a restituição ao homem de sua honra perdida. Mas também traz um fardo grande embutido, o da responsabilidade sobre suas decisões de agora em diante.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo I

Texto na Íntegra
I
Quando tinha trinta anos, Zaratustra deixou sua terra natal, e o lago de sua terra natal, e foi para as montanhas. Lá, durante dez anos, cultivou seu espírito e a solidão. Mas por fim, seu coração se transformou – e levantando-se, um dia, com a aurora, pôs-se diante do sol e lhe falou assim:
“Grande astro! Qual seria tua felicidade sem aqueles a quem iluminas?
Há dez anos que vem subindo até a minha caverna; já te terias cansado de dar a tua luz e descrever este percurso se aqui não estivéssemos nós, eu, minha águia e a serpente.
Mas, a cada manhã, nós te esperávamos e te aliviávamos de teu excesso, abençoando-te por isso.
Vê! Estou saturado de minha sabedoria, como a abelha que acumulou demasiado mel; anseio por mãos que se estendam.
Quero oferecer e partilhar, para que os sábios entre os homens de novo se rejubilem de sua loucura, e os pobres venham de novo a amar sua riqueza.
Preciso, pois, descer ao mais profundo, como fazes à noite, ao mergulhares por trás do mar, levando tua luz ao mundo inferior, ó astro exuberante!
Como tu, é necessário que eu “decline” para falar como os homens aos quais quero descer.
Abençoa-me, pois, olho sereno, tu que podes contemplar sem mágoa uma ventura tamanha!
Abençoa este cálice que anseia transbordar para que dele escorra a água dourada capaz de levar a toda a parte o reflexo de tua fruição!
Vê! Este cálice quer de novo esvaziar-se, e Zaratustra quer de novo ser homem.”
-Assim começou a declínio de Zaratustra.

Comentários:Neste primeiro capitulo Nietzsche começa a descrever como será as linhas do pensamento do autor e como é sua forma literária, a da linguagem poética. Primeiramente precisamos entender porque o autor escolheu Zaratustra.
Zaratustra era um profeta iraniano do século VII antes de cristo que inventou o dualismo moral entre o bem e o mal, não o bem ou mal humano e sim o teológico ou divino, para ele existia o Deus bom e o Deus mal. Zaratustra foi o primeiro profeta a pregar um dualismo e um moralismo que serviram de herança para a Bíblia e a Grécia antiga e que impregnam nossa cultura até hoje.
O ponto importantíssimo é que este dualismo é a chave central do pensamento de Nietzsche e para justamente criticar profetas, como Zaratustra e Jesus Cristo, que Nietzsche escolheu Zaratustra para opô-lo a Zaratustra. Seria interessante ressaltar que a obra do autor não colhe a recusa como algo negativo, toda sua obra nos traz algo positivo e de transformação. Para ele a recusa da realidade humana é o primeiro passo para esta transformação a algo muito melhor.
Profetas, em geral, têm momentos de reflexão e de reclusão, e o autor faz justamente esta relação no capitulo I, e por um momento de chamamento divino, estes descem a montanha e vem falar com as ovelhas (nós).
Interessante é como o autor usa a comparação em forma de metáforas. Jesus Cristo aos 30 anos desceu as margens do rio Jordão e começou sua vida pública. A obra platônica utiliza a alusão da caverna para separar o mundo metafísico, das idéias, e do mundo ilusório. Portanto Nietzsche ataca no nível mais alto: Jesus Cristo e Platão
O sol faz o papel de Deus, na verdade em muitas culturas e religiões o sol é o Deus maior, conversar com ele é dialogar com o divino.
Outro ponto interessante é a figura da águia e da serpente. A serpente se liga ao fato do realismo, ser rastejante, terreno, racional e que liga a figura do mal bíblico (Gênese). A águia é a figura do ideal platônico, do idealismo e também podemos relacioná-la com o Deus bom (Júpiter e sua Águia). Veremos em todo o texto de Nietzsche a critica radical a este dualismo totalmente impregnado em nossa cultura e nossos valores.
O autor termina o texto com a frase “Assim começou o declínio de Zaratustra”, portanto começa a grande jornada humana, a da transformação do homem num outro ser, menos ligado a razão e a fé divina. O Declínio de Zaratustra inicia a mutação do mesmo, de um ser voltado ao divino, por ser profeta e ao racionalismo, pelos momentos de reflexão sozinho nas montanhas.
Como será este novo ser?
Aguardem próximos capítulos e que comece o diálogo com o mesmo.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Zaratustra – Nietzsche – Introdução do Prólogo

Iremos começar hoje uma série de interpretações do prólogo do livro Zaratustra. Pessoalmente considero este livro um dos maiores ensaios de todos os tempos. Nietzsche demonstra, com sua forma peculiar, cheio de metáforas, todo o seu pensamento. Ao contrário de seus antecessores, Nietzsche escreve em forma de poesia, sem os racionalismos exacerbados em praticamente todos os filósofos anteriores, considero que isto foi proposital, já que para ele a razão não nos diferencia no mundo. Há razão em praticamente todos os animais, porém arte, musica e poesia somente os humanos são capazes de criar.
Vamos detalhar o prólogo por ser um resumo bem pedagógico de toda sua obra, uma introdução sistemática, muito estruturada, ao resta do livro Zaratustra. O Prólogo contém 10 capítulos e que serão descritos na íntegra. Tentarei fazer alguns comentários posteriormente e deixarei em aberto a cada semana para comentários dos leitores.
Zaratustra é um livro complexo, de difícil compreensão devido à forma poética que foi escrito. Algumas vezes precisei ler 3 ou 4 vezes a mesma frase para compreender o pensamento do autor, ele escreve por metáforas e praticamente todas as palavras têm outros significados que o literal. Portanto o leitor pode discordar e trazer sua própria interpretação buscando estabelecer um diálogo com Nietzsche.
Amanhã estarei publicando o capítulo I do Prólogo de Zaratustra.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Viajante Solitário

Viajar é descobrir algo novo a cada esquina, é deslumbrar novos ares e paisagens, enxergar o mundo como algo novo, sentir novos odores, tocar em objetos jamais imaginados, na verdade viajar é voltar à infância, tudo é novo, lindo, fascinante e cheio de oportunidades.
Sempre voltamos renovados ao viajar, acho que isto acontece por causa da sensação de que a vida é mais que simplesmente trabalhar, cuidar de filhos e pagar contas. Quando viajamos esquecemos os problemas, pois a quantidade de novas experiências que adquirimos nos faz preencher toda a mente e nos deliciar a cada passo. Como é bom viajar...
Pensei comigo mesmo estes dias em porque muitas pessoas me questionam sobre como deve ser ruim viajar sozinho e que a falta de troca das experiências novas com outra pessoa faria a viagem ficar vazia. Precisava escrever algo sobre isto, demonstrar minha visão e experiência, não que tenha qualquer fundamento de convencimento nisto, apenas para expor algo, provavelmente não experimentado por muito de vocês, leitores.
Viajar sozinho é conhecer você mesmo (esta é a principal característica), é experimentar as coisas do seu jeito, é contar com sua alegria, sua coragem, seu mal humor, seus medos e de suas vontades, sem depender de ninguém, isto traz um autoconhecimento sem precedentes, quando contamos somente com nós mesmos, aprendemos com nossos erros e acertos, com nossas alegrias e tristezas, com nossos limites e descobrimos com muita facilidade nossos sonhos, estes saltam aos nossos olhos a cada desafio.
Viajar sozinho é olhar o mundo com estes olhos, com nosso próprio “eu”. Uma criança não pede auxilio a outra na hora de experimentar, ela vai e faz. Pois é, viajar sozinho é experimentar as coisas do seu jeito, assim como fazem as crianças, é tomar as rédeas de nossas vidas e decidir o que fazer. É o contrario da musica de Zeca Pacodinho “... deixa a vida me levar, vida leva eu...”. Viajar sozinho é tomar as decisões dos rumos a serem percorridos a todo instante, sem alternativas de adiamentos, você depende de você e mais ninguém, por isto é a vida na sua frente, você precisa decidir a todo o momento o que fazer, a vida é posta a prova e sua decisões refletem –se instantaneamente. Seus erros e acertos são revelados a cada passo. Seria como uma vida inteira passada em dias.
Viajar sozinho é viver intensamente, apenas por dias, vidas inteiras. Conheço muita gente que não tem coragem de tomar decisões sozinhas, estas iriam encarar seus medos e desafios a cada minuto. Muitos não vivem nada parecido, vivem sempre fugindo dos momentos decisivos, vivem vidas alheias por medo de tomar as próprias decisões, precisam dos outros para compartilhar tudo em suas vidas até seus momentos mais únicos.
Alguns dizem que ficar sozinho é chato e entediante, acho que estas não se conhecem, pois basta uma conversa interna (entre você e seu “eu”, pode parecer engraçado, mas faço muito isto, converso comigo mesmo na terceira pessoa) para perceber quanto somos maravilhosos para nós mesmos, nos amamos muito porque somos únicos, se você ainda não descobriu isto, corra, a vida está passando e ninguém no mundo o fará mais feliz que você mesmo. Quando viajo sozinho me perco a toda hora rindo de mim mesmo, pelas decisões erradas, pelos desencontros e pelos encontros, pelos momentos proporcionados pelas minhas decisões, sejam felizes ou não. O importante é que foram momentos proporcionados por minhas escolhas, meus medos e minha forma de enxergar o mundo.
Outros dizem que ninguém vive sozinho, na verdade quem viaja sozinho nunca está sozinho. Quem viaja sozinho está sempre aberto a novas amizades, seu coração e suas expectativas estão sempre antenados para captar novas vibrações e pessoas, só que em vez que compartilhar a companhia de alguém por todo o tempo, somente trocamos experiências pelo tempo necessário para não julgar a vida alheia. Nossas amizades são por trocas de experiências, não de convívio e isto faz toda a diferença.
Pois é, não sei se entenderam meu recado, não estou propondo que todos viajemos sozinhos sempre de agora em diante, estou apenas relatando algumas experiências pessoais para ilustrar situações que muitos não conhecem, quando encontramos viajantes solitários sempre iremos ver em seus olhos alegria, alegria de viver experiências únicas, sempre percebi isto em minhas andanças pelo mundo, dar para ver nos olhos os viajantes solitários e distingui-los em qualquer multidão.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Imortalidade Humana

De repente, ninguém mais morreria.
Não haveria mais a figura da morte. E a velhice chegaria, mas de uma forma diferente, “programada”, lenta...
Não é uma coisa impossível. Até mesmo Saramago já imaginou um país em que as pessoas pararam de morrer. A morte suspendeu suas atividades.
Ao imaginar isso, já me delicio ao imaginar as milhares de coisas e loucuras poderiam ser finalmente realizadas – e todos aqueles livros que ainda não li, e as viagens que não fiz, as coisas que não disse....
Àqueles que já são capazes de se deslumbrar com a vida, àqueles que já possuem o espírito cheio de mundo, vivências, virtudes, imaginação... Para esses, a possibilidade de vida eterna seria uma dádiva, todo o conhecimento, a ser adquirido, todo o amor que poderia ser vivido e todas as possibilidades que seriam criadas...
Pessoas normais se transformando em pessoas extraordinárias.
No entanto, imortalidade não é promessa de harmonia, ou vida mais tranqüila.
Digo isso, porque pensei no homem-comum, aquele que retiramos de nossos pensamentos e acrescentamos em preces diárias (mais um problema pra deus – se é que existe – resolver). Pensei no excluído, no miserável, que não tem onde morar, nem o que comer. A vida sem tempo lhe daria chance de mudança? Em que a imortalidade ajudaria esse homem?
Pra muita gente, o tempo não resolve nada.
A tal da vida eterna não transforma a essência da pessoa. Aqueles que se servem da maldade, continuariam malvados, os perdulários, continuariam gastando, e o homem que mendiga continuaria miserável.
Seria justo condenar um homem de rua à uma vida eterna de esmolas, intempéries e maus tratos? Não acredito que pelo simples motivo de poder viver eternamente, ele seria capaz de se erguer da margem da sociedade e se incluir. Não se tornaria cidadão, nem deixaria de ser invisível para os outros.
A imortalidade socorre a quem tem riqueza de espírito. Ela só seria um benefício para quem tem uma desavença com a pressa do tempo, já que é ele que nos avisa que estamos acabando, que as coisas perecem.
Viver é bom demais. Porque haveria de ter fim? (como Zorba, que gritou: “Um homem como eu, deveria viver mil anos”).
A imortalidade acabaria com a angústia de haver um final. Traria a sabedoria num momento da vida em que ainda se teria forças para aproveitá-la. Abraçaríamos a multiplicidade de desejos. Não haveria pressa em resolver tantas questões. (se bem que ainda seria muito bom ouvir um “quero você aqui e agora”, pra essas coisas, a eternidade não tem influência nenhuma).
Mas a imortalidade não é um dos meus desejos.
Porque o tempo é culpado pelas mudanças. É ele que instiga as loucuras, as aventuras... O tempo urge. Talvez até nos faça amar mais... Amamos como quem já se despede. Queremos estar junto o tempo todo. Pra não acabar.
A morte é necessária, faz parte da vida. Chegada e partida.
Tenho medo da eternidade. O “pra sempre” cansa. O que você seria capaz de fazer por toda a vida sem se cansar?
Com a imortalidade, muitas coisas perderiam a importância. Há coisas que são bonitas porque são findas. A eternidade nos roubaria essas belezas.
E acredito que a beleza de certas coisas é capaz de conferir a elas o título de eternas. Há músicas eternas, peças eternas, quadros eternos, pessoas eternas.
Enquanto a ciência não nos apresenta uma possibilidade real de eternidade, podemos almejar a imortalidade conquistada com a beleza. Ter uma história de vida boa, talvez consiga nos conferir um pouco de imortalidade, na lembrança daqueles que amamos.
Gosto do diálogo com a morte, do livro de Saramago:
- “Vc não é a vida”.
- “Sou muito menos complicada que ela”.

Por Fernanda Amaral

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A evolução do homem como animal

Apesar de extremamente debatido e criticado, ainda hoje, pelas diversas religiões do planeta, o tema da Teoria de Evolução proposta por Charles Darwin no século XIX merece uma análise e maior aprofundamento sobre o esclarecimento do surgimento da vida em nosso mundo.
A ciência já teoricamente provou as etapas da vida em nosso planeja, existem provas comprobatórias da evolução da vida e da criação do Homo Sapiens. Estamos apenas numa fase do tempo da vida na Terra, um lugar no futuro, presente e passado deste planeta. A vida evoluiu e pelas adversidades e seleção dos mais aptos surgiu um ser que pôde ter a consciência de sua própria existência, um ser tão complexo capaz de refletir sobre sua vida e morte, de poder ter suas próprias escolhas, desejos e sonhos. Este ser tornou-se possível devido a várias conjunturas, e que ainda não evoluiu o suficiente para afirmarmos que trata-se de um ser racional, nós ainda não somos racionais, acredito de ¾ de nossas ações são providas pelo instinto animal presente em nossa natureza e apenas ¼ seja racional.
Existem outros seres vivos que tem consciência de sua existência também, e que utilizam a razão, claro que menos que nós, mas tem os mesmos elementos básicos do desenvolvimento da razão. Exemplo de animais com consciência de si mesmos: Chipamzé, Golfinho-Nariz-de-Garrafa, Elefante Asiático.
O que poderíamos classificar de racional? O que é ser racional? Estas perguntas são, em meu modo de ver, a grande gestão do momento, até que ponto podemos nos auto declarar racionais. A racionalidade provém de análise e de reflexão sobre as melhores escolhas e não as escolhas que nos proporcionem mais prazeres. Somos impulsionados pelo desejo de satisfação de nossos desejos, que são instintivos, desejos criados a partir de nossa ancestralidade animal presente em nossos genes.
Temos a capacidade de nos tornarmos seres realmente mais evoluídos, ou seja, que utilizem mais racionalidade do que instinto. Vislumbramos inteligência em alguns setores de nosso planeta, porém ainda há muita ignorância em outros. Acredito que estamos neste instante, vivendo nossa transição para uma nova espécie que poderíamos chamar de Homo Logos, ou seja, coexistimos com seres que já utilizam bastante razão em suas decisões e seres ainda muito desprovidos dela.
Não estou propondo esquecermos as emoções e apenas vivermos totalmente racionais, pois neste caso seríamos iguais as máquinas, estou propondo um aumento, um acréscimo do percentual de razão em nossas decisões, acredito que viveríamos bem melhor, a emoção nos ilude muito, nos deixa cegos, lembram do artigo sobre a felicidade: “Prefiro acreditar que a felicidade está baseada na condição humana de estar em harmonia com nossas virtudes que somente podem ser alcançadas através da busca da compreensão de nós mesmos e do mundo, nesta busca, a confiança que vamos adquirindo sobre nossas pontecialidades nos tornam mais fortes, confiantes e consequentemente felizes” (http://ligadavirtude.blogspot.com/2009/05/ignorancia-e-felicidade.html)
Não consigo ver felicidade verdadeira sem análise e razão, mas também não consigo vê-la sem a paixão que nos move. Viva novamente a razão com paixão (risos).
Abraço a todos e já espero muita polêmica.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

As diferenças de amores

Tanta foi a polêmica sobre o tema de família e amor entre seus membros que gostaria de estender (só um pouquinho, prometo) o debate.
Primeiramente não questionei o sentimento amor em sua plenitude, em todo o debate sobre família, valores familiares, e amor entre pais e filhos, questionei e questiono a validade do amor entre pais e filhos.
Este amor está contaminado por vários fatores:
i) Natural: todos os mamíferos possuem um sentimento forte entre a genitora e sua cria, este sentimento, podemos chamar de amor, instinto animal ou qualquer outro nome, precisa ser forte, precisa ser prazeroso, senão nenhuma mãe amamentaria seus filhos ou filhotes;
ii) Social: existe um padrão social e religioso envolto com a família, a sociedade cobra de todos fidelidade entre seus membros, este padrão traz problemas sérios internamente, já que são pessoas diferentes e que trazem muitos conflitos de convivência;
iii) Religioso: todas as religiões pregam a família, isto acontece para tirar a individualidade de cada um, é mais fácil convencer e enganar um ser que precisa preservar seus valores familiares que um ser sem laços fortes de grupo, ou família;
Em momento nenhum estou dizendo que não pode existir amor entre estes membros, claro que pode, com a convivência, o respeito, afinidade o amor pode prosperar. Questiono apenas a obrigação e a imposição social, religiosa e natural destes laços.
Já o amor entre um homem e uma mulher é diferente, ambos não tem nenhuma obrigação natural (seria apenas de sexo para reprodução ou prazer), social ou religiosa (poderia ter em épocas passadas, por isto mesmo o amor era mais difícil nestes tempos) de se amarem reciprocamente. A decisão de amar ou de adorar aquela pessoa é totalmente espontânea, individual e pessoal.
Quero afirmar, justamente pelos argumentos exposto, que o amor romântico de um casal é muito mais intenso, forte e emocional que entre pais e filhos. Talvez justamente por isto, ele acabe de forma mais rápida. Não existem obrigações de amar a ou b, é pessoal e, portanto vem muito intensamente e vai embora à mesma velocidade.
Não critico, nem jamais vou eliminar o sentimento “Amor”, critico a obrigação de existi-lo e que é muito comum nas famílias. Se a sua não for assim, ótimo, mas não analisem olhando para suas experiências pessoais. As idéias precisam ser debatidas pela razão, emoção traz sentimentos que se expressão pelos sentidos, e sentidos não são bons em descrever a realidade, nos enganam o tempo todo.
Outro ponto é a presença da emoção, jamais viveremos sem emoção, sem ela nada faz sentido, mas ela não deve ser objeto de avaliação nem de análise de nada, ela nos engana assim como nos traz satisfação. Nossas experiências pessoais não devem ser parâmetros para opiniões nem para desenvolvimentos de idéias universais, devemos sempre estudar os diversos aspectos das relações humanas ou físicas pela razão, pois ela nos deixa independente do objeto de estudo.
Ok, não vou fugir do tema inicial, tragam suas opiniões, abraços a todos com muita emoção.

Liberalização das drogas

Vamos falar sobre um assunto para lá de polêmico, envolve nosso cotidiano, nossas vidas, a de parentes e amigos e afeta nossa liberdade individual. Mas uma vez não quero expor minha opinião como algo imutável nem definitivo, temos poucos exemplos de casos bem sucedidos no mundo e, portanto não devemos aceitar nem tomar nada como conclusivo.
Vou avaliar o tema de acordo com alguns tópicos importantes como:
Ø Violência
Ø Econômico
Ø Político
Ø Social
Violência: De acordo com ONU, 200 milhões de pessoas no mundo consumiram drogas ilícitas no mundo em 2003, não tenho dados mais atuais, e são justamente estas pessoas que alimentam um enorme mercado de bilhões de dólares (US$ 50 bilhões somente com cocaína) e que contribuem para outros crimes associados, como homicídios, roubos, furtos, trafico de armas, trafico de pessoas, prostituição, entre outros.
A violência gerada neste negócio é extremamente elevada.
Econômico: A quantidade de dinheiro ilegal que movimentam é enorme, somente com cocaína estima-se em 50 bilhões de dólares, este dinheiro é utilizado para outros crimes, como lavagem de dinheiro, corrupção de políticos, advogados, contadores, juízes entre outros.
Outro ponto importante é a falta de cobrança de impostos destes produtos, deixamos de arrecadar bilhões em impostos sobre um produto de consumo.
Político: Imaginem uma organização criminosa influenciando a política, pois temos vários exemplos no mundo, das favelas do rio até em países como Colômbia e Venezuela.
As drogas estão em todo lugar e influenciam tudo em nossas vidas
Social: Não vou entrar no debate das pessoas que se destroem usando drogas, de acordo com estudos, somente 15% dos usuários de drogas se viciam ao ponto de desestabilizar suas vidas. A grande maioria dos usuários vive normalmente e usa drogas regularmente.

Vamos avaliar os aspectos positivos e negativos da liberação das drogas e debatê-los.
Aspectos negativos:
Ø Existe um medo muito grande do aumento imediato do consumo principalmente das drogas leve, como maconha. É bem possível que isto aconteça, com a venda liberada, jovens que ainda não experimentaram podem vir a utilizarem pela primeira vez. No entanto não temos como afirmar que estes jovens, após a primeira experiência voltem a consumir;
Ø Aumento do numero de acidentes de transito ou acidentes em decorrência do uso inadequado das drogas;
Ø Aumento do numero de problemas decorrentes do acréscimo de usuário, principalmente em família;
Ø Aumento dos gastos com saúde em decorrência de um numero maior de usuários;
Ø Aumento, provavelmente significativo, do numero de outros crimes como roubo, furtos e etc. Estatísticas provam que um aumento na fiscalização das drogas trazem um aumento no índice de outros crimes pela migração dos criminosos para outras formas de práticas ilegais.
Reparem que a maior parte dos aspectos negativos decorrem do aumento do numero de usuários, no entanto não temos como afirmar que no médio prazo isto venha a ocorrer, em países como a Holanda e Dinamarca isto não ocorreu, mas estes países possuem um alto grau de desenvolvimento humano, não sabemos como seria num país em desenvolvimento e nem tanto com o país subdesenvolvido.
Aspectos positivos:
Ø Fim do submundo envolvido no trafico e venda de drogas;
Ø Cobrança de impostos elevados sobre a venda de droga, visando suprir o aumento dos gastos com saúde;
Ø Controle maior sobre o numero de usuário e estabelecimento de estratégias para as campanhas de conscientização;
Ø Fim do dinheiro ilegal que alimenta outras formas de crime. O dinheiro das drogas faz girar um mercado negro de financiamento de corrupção, e outros crimes ligados;
Ø Fim dos homicídios ligados ao tráfico de drogas;
Ø Fim da corrupção dos poderes públicos ligados ao mercado das drogas;
O maior ganho de todos e o mais importante é a liberdade individual de qualquer indivíduo fazer o que quiser de sua vida sem o controle do estado. O estado não pode (JAMAIS, sou mesmo um liberal) interferir na vida privada de cada um. Quando digo isto, me refiro a vida privada, não aquela que influencia a de terceiros. Por exemplo, quando alguém usa drogas em casa, isto diz respeito somente a ele, mas quando este indivíduo usa drogas e sai dirigindo um carro, este interferindo na vida publica da sociedade e saindo de sua vida privada.
Afirmo isto com muita convicção e sei que será tema de muita discussão. A sociedade não pode interferir, nem tomar partido, nem emitir opinião na vida privada dos indivíduos por isto sou a favor da liberação total das drogas e do de tudo que possa ser consumido ou vivenciado na vida particular de cada um, porém a liberdade de cada um termina quando interfere na do seu próximo, combinado.

Toda mudança traz pontos positivos e negativos, vamos encontrá-los sempre, precisamos avaliar se os positivos são maiores que os negativos, isto deve ser debatido e experimentado antes de uma decisão final, estou propondo apenas um debate, nada de sociedade alternativa (risos).

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O que é morte? – Visão da ciência – O quebra cabeça da senescência

Voltando um pouco ao início das discussões sobre a morte, gostaria de acrescentar que este tema não é fúnebre, estudamos a morte para explicar a vida, ou seja, não podemos nem devemos fugir do nosso destino. Quando levantei o tema proposto queria na verdade estudar como se processa a vida dos seres vivos e não propriamente a morte.
Voltando ao assunto, a morte do ser humano começa com a morte das células individuais e é totalmente explicada por ela. Morte por ataque cardíaco, câncer, ou simplesmente velhice é morte causada por morte de células individuais. No entanto vimos anteriormente que a morte não é, a priori, uma exigência da vida. A morte das células somáticas – que morrem compulsoriamente - somente surgiu depois quando o DNA começou a fazer cópias de si mesmo e que seriam utilizadas para fins diferentes da reprodução. Para os seres humanos, isto significa que, depois que um número razoável de células germinativas tiver oportunidade de conferir seu DNA reprodutivo para gerações seguintes, o resto de nós – nosso eu somático – vira excesso de bagagem. Esta é a ordem biológica da senescência e morte.
Do ponto de vista humano, nosso eu somático é onde estão inseridas coisas como mente personalidade, consciência, amor e vontade, ou seja, coisas que nos definem como indivíduos únicos. Pensamos na reprodução apenas como uma das muitas atividades em que podemos desenvolver, mas não é assim que a natureza nos criou, fomos feitos para reproduzir e morrer. Temos usado nossa mente para inventar sistemas complexos de crenças para explicar a morte. Nenhum deles nos retrata como excesso de bagagem. Nenhum deles nos dispõe como meros instrumentos para transmitir DNA. No entanto, quando levamos a origem de nossa mente para além da mente e da crença, para seus verdadeiros primórdios – a morte das células individuais – chegamos a uma conclusão sombria e nada agradável: a irrelevância, no esquema maior do universo, de nosso eu somático. Não admira que a crença triunfe com tanta freqüência sobre a razão.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Fé x Religião

Por Camila Lisboa:

A leitura do texto sobre Fé x Razão (http://ligadavirtude.blogspot.com/2009/07/por-um-mundo-mais-tolerante.html) me fez querer discutir outra coisa: Fé x Religião, que na minha percepção são idéias distintas. As pessoas podem não seguir uma determinada religião, mas põem captar os ensinamentos que lhes pareçam mais interessantes em diversas religiões e estabelecer suas próprias doutrinas de viver baseadas no bem.
Infelizmente a religião não seguiu o seu propósito de União, vinda do verbo “religare” do latim. Os seres humanos e toda sua inteligência deturparam a essência da religião quando perceberam nela uma ferramenta de força e poder, utilizando-a de formas negativas. Foram se criando assim diversas religiões e o que por princípio deveria “re-ligar” as pessoas fez surgir blocos de doutrinas e pensamentos segregados.
Não vou discorrer sobre religião, pois este não é o foco deste texto. O que venho defender aqui é a Fé. Esta é uma das palavras mais fortes e presentes na vida de quem busca a felicidade. Fé pode ser em qualquer coisa... Fé que você vai conseguir correr 10km, fé que vai concluir um trabalho com sucesso, fé que um membro da família vai se curar... Simplesmente fé que não é mais do que acreditar com muita força de que algo que se deseje muito irá de fato ocorrer com sucesso.
Algumas pessoas atribuem a conquista de seus desejos de fé a Deus. Bem, para mim Deus é uma ilustração da força de vontade humana... Quando se diz que a fé move montanhas, nada mais é do que a força do homem focada em algo com muito vigor e desejo.
Adoro ler sobre grandes aventuras humanas e vejo a fé presente nas conquistas de homens que se depararam em situações onde só existiam eles, a natureza (com toda sua força e adversidades), a vontade de sobreviver e superar obstáculos e ninguém para contar. Nesta hora estas pessoas são regidas pela FÉ DA SOBREVIVÊNCIA. Por causa dela, podem ficar dias sem comer e mesmo assim ter forças para superar obstáculos que a ciência não explica.
Poderia dar INÙMEROS exemplos de fé aqui, de experiências pessoais, com amigos e relatos e livros que li. Vou comentar apenas um que para mim é uma das estórias mais impressionantes de força humana e fé que é a história de Shackleton. Foi a fé na vida que fez com que ele e sua tripulação completa sobrevivessem, apesar da escassez de comida, abrigos, referências e frio encontrados na Antártida no início do século passado. Recomendo esta leitura, é um exemplo de fé, determinação, coragem e liderança, além do enredo emocionante: A Incrível Viagem de Schackleton.
A fé na cura também é algo impressionante. É lindo ver pessoas reunidas em prol de ajudar a salvar a vida de alguém, seja através de doações, preces, conversas ou sorrisos. Esta energia dividida entre pessoas que amam alguém e desejam o seu bem é um ensinamento genuíno de amor e união através da fé. A fé une pessoas, independente de cor, raça, idade, classe social e religião – esta união vem da idéia comum, pensamentos positivos e ações em prol de ajudar o próximo. É uma pena que muitas pessoas só recorram à fé em momentos de desespero, mas é justamente nestes que fica claro a idéia de que somos todos iguais e a união de forças é a melhor forma de vencer barreiras, principalmente na luta pela sobrevivência.
O que defendo não é a religião em si e sim a MENTE RELIGIOSA, aquela voltada para o bem, que ama o próximo como a si mesmo.Conheço pessoas que vão à missa todos os domingos e, no entanto adoram uma fofoca e não têm uma postura religiosa na vida. Conheço outras ATÉIAS que negam a Deus e têm uma conduta exemplar de humanidade. Não existe um padrão de se ser religioso ou não faz as pessoas melhores ou piores, acho que a bondade e o amor estão no coração de cada um e cabe a cada pessoa expressar isso como sentir que é melhor. A religião pode servir apenas como ferramenta para uns... Cada um tem seu meio, não julgo nenhum.
Andar com fé: http://www.youtube.com/watch?v=yIyerOldVYA&feature=related

Camila Lisboa

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

O que é a morte? – Visão da Ciência – Porque envelhecemos?

Se realmente somos programados para morrer, se escaparmos de todas as outras formas de morte, quando chega a hora, morremos. Uma pergunta tem sido objeto de estudo no meio científico: porque envelhecemos? Porque apenas as células reprodutivas mantêm o potencial para a imortalidade enquanto todas as outras células, chamadas somáticas, envelhecem e perdem ao longo do tempo parte de seu DNA?
Dentre as muitas teorias sobre porque as células envelhecem, apenas duas são objetos de estudos atualmente:
1. Escola de pensamento “Catastrofista”: nesta escola acredita-se que à medida que as células param de se dividir, quando atingimos a maturidade física, a síntese das varias moléculas diminui muito, e começam a perde a capacidade de se reproduzir adequadamente, gerando cópias irregulares, incapazes de executar as tarefas vitais para sua sobrevivência;
2. Escola de pensamento “Programadores Genéticos”: percebe-se que diferentes estágios do nosso crescimento e desenvolvimento são programados e são irreversíveis, porque a morte das células também não seria? Os pensadores desta escola argumentam que se fosse uma questão de partes se desgastando, o que explicaria as enormes diferenças na expectativa de vida dos organismos pluricelulares, todos basicamente feitos do mesmo material molecular? Não existem diferenças reais entre as proteínas de um camundongo e de um ser humano. Porque um vive três anos e outro oitenta?
Na verdade as duas escolas têm argumentos sólidos e possuem provas convincentes, por isto acredita-se que as duas estão certas. As células realmente sofrem desgastes na reposição e reconstrução de seu DNA ao longo dos anos, as células somáticas não possuem instrumentos de correção das mutações, as enzimas de reparos do DNA são muito mais ineficientes que nas células germinativas ou reprodutoras.
Também existem evidencias em favor da determinação genética. Por exemplo, gêmeos idênticos morrem em média com uma diferença de 36 meses, ou seja, sua expectativa de vida é muito parecida, em irmão que não são gêmeos o tempo médio entre as mortes é de 106 meses.
Dentro deste cenário, outra pergunta vem à tona, porque já que descendemos de células imortais como os seres unicelulares, nos tornamos mortais? A resposta parece ser que todas as células de um embrião humano em crescimento retêm a propriedade da imortalidade, porém quando o embrião começa a sofrer as especializações ou diferenciação das células que dão origem aos órgãos e tecidos do indivíduo, todas estas células tornam-se mortais.
A idéia de a mortalidade ser geneticamente programada é importantíssima, pois, neste caso, poderíamos alterar este processo conhecendo os mecanismos.
Somos mortais porque é vantajoso, os seres precisam sofrer mutações para melhor se adaptarem ao meio (lembram-se da teoria da evolução das espécies).
Bem, este assunto está começando a se tornar interessante e levando a algumas perguntas:
 Poderíamos alterar a programação de morte em nossa DNA e nos tornarmos imortais?
 Quais os efeitos disto na natureza, já que bloquearíamos um processo natural de adaptabilidade sobre as alterações do meio ambiente?
 Existem seres imortais (seres unicelulares), porque não poderíamos também ser? A morte não é um co-requisito automático da vida.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O que é a morte? – Visão da Ciência – Porque morremos?

Algumas perguntas têm intrigado os cientistas: porque a célula morre? Existiria alguma coisa inerente na natureza da vida que requer que todos os seres vivos morram?
Como relatado nos artigos anteriores certos os seres unicelulares como bactérias e amebas não possuem mecanismos de morte em seu interior, portanto somente podem morrer a causas acidentais. Então a morte não é inextricavelmente entretecida com a definição de vida. O ser humano, assim como todos os seres pluricelulares, deve morrer e há muitos mecanismos em nós para que morramos com toda certeza.
Parece que a morte que não pode ser evitada, ou morte programada, ou senescência, surgiu a partir dos primeiros organismos pluricelulares, estes seres apareceram quando a atmosfera começou a ser amplamente destruída pelo oxigênio, este gás é extremamente corrosivo e mortal. Isto fez surgir formas mais complexa de vida que pudessem sobreviver à mudança climática, este seriam os primeiro seres pluricelulares, estes seres tinham a capacidade de atribuir funções biológicas específicas a cada tipo de célula, atingindo também tamanho maior e capacidade maior de sobrevivência num mundo em transformação.
A morte programada fez sua aparição justamente neste período quando os primeiro seres pluricelulares começaram a reprodução sexuada. Neste momento uma pergunta ficou no ar: porque o sexo rapidamente se tornou a forma dominante de reprodução, já que antes a reprodução era assexuada, ou por fissão das células? A teoria mais aceita no momento e que acho mais adequada seria que o sexo produz variação genética na espécie trazendo uma maior adaptação das mesmas ao ambiente externo em transformação, ou seja, o início da evolução das espécies e seleção natural.
Uma segunda vantagem da reprodução sexuada é o reparo ou eliminação de erros genéticos, como os genes são misturados e redistribuídos aleatoriamente na descendência, reduzia-se assim o numero de cópias “ruins” do gene que flutuam pela população.
Outro ponto importante é que neste momento os seres pluricelulares passaram a ter células exclusivamente para reprodução, chamadas de germinativas, diferentemente de todas as outras células chamadas de somáticas. Estas células têm poder de se auto-corrigir mantendo seu DNA praticamente intacto por todo vida, já as células somáticas perdem parte do seu DNA com o tempo fazendo com que morram.
A morte pode não ser necessária para a vida, mas parece que a morte programada é necessária para que vejamos toda a vantagem biológica do sexo como parte da reprodução.
Que coisa, o sexo nos trouxe a morte.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O que é a morte? – Visão da ciência – A morte de uma célula

“Se você não sabe como morrer, não se preocupe. Em algum momento a natureza o instruirá plena e suficientemente. Ela o fará precisamente por você; não se preocupe com isto” – Montaigne
As células são os “átomos da vida” para os seres vivos, elas são responsáveis por toda a diversidade de vida em nosso planeta. Entretanto sabemos que a vida não começou na forma de animais pluricelulares como os humanos, na verdade a composição da terra há bilhões de anos atrás criou um cenário propicio para o surgimento dos primeiros seres vivos que foram as células unicelulares, a ciência já conseguiu recriar em laboratório este cenário e conseguiu reproduzir a criação destes primeiros seres.
Estes organismos iniciais ainda existem hoje como bactérias, fungos, amebas e muitas outras formas de vida unicelular. As células, sejam indivíduos isolados ou parte de um organismo pluricelular, agora surgem somente de outras células, isto quer dizer que as bactérias e seres unicelulares existentes hoje são descendentes dos primeiros organismos há bilhões de anos. Este ponto é importante uma reflexão: nem todo ser vivo é programado para morrer, na verdade os seres unicelulares são imortais, eles somente morrem em decorrência de acidentes ou mudanças no ambiente, é bem possível que ainda hoje encontremos bactérias de bilhões de anos de existência.
Outro ponto importante é que todos os seres vivos do planeta nascem de uma única célula, ou seja, todo ser humano começa com uma célula, formada pela união de um espermatozóide com um óvulo.
Uma célula pode morrer de 3 formas: acidente ou infortúnio, chamada de necrose; por morte programada em seu DNA, a senescência; ou por autodestruição ou suicídio, chamada de apoptose. Isto mesmo que você leu, uma célula pode se autodestruir, esta descoberta foi um dos principais avanços no estudo da morte, algumas células de nosso corpo são programadas ou podem ser levadas a se suicidar em decorrência de algum evento importante de nossas vidas. Quando comentem suicídio, as células estão reagindo a um programa que não podem alterar de jeito nenhum e o numero de situações em que esta necessidade aparece é surpreendentemente grande. Como exemplo temos os neurônios, sua morte é o estado padrão de sua criação quando são enviados ao sistema nervoso central. Somente quando encontra uma conexão com outra célula é que desativarão seu programa de morte, cada célula nervosa que não encontra ou não consegue fazer uma conexão deve morrer cometendo suicídio. As células do sistema imunológico seguem o mesmo padrão, se não encontram nada para eliminar, devem morrer.
Outra descoberta importante é que toda célula do corpo tem embutido em si um programa de autodestruição, que podem ser ativados por outras células.
Próximo texto: Porque morremos?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O que é a morte? – Visão da Ciência – Introdução

Continuamos sobre o tema proposto anteriormente, segue abaixo os pontos mais importantes referentes aos primeiros capítulos do livro “Sexo e as origens da Morte – como a ciência explica o envelhecimento e fim da vida”.
O conhecimento realmente nos traz muita responsabilidade e ao mesmo tempo um medo muito grande das coisas que não podemos explicar. E a morte como o fim de nossa existência é o maior destes medos, somos os únicos seres no planeta que sabem que um dia vão morrer, criamos com isto inúmeras explicações para ela, nenhuma sociedade na história humana deixou de ter uma explicação para isto. A morte é tão importante para nós que ela influencia nossas vidas individuais e também nossos atos coletivos. Entende-la é uma parte muito importante da história humana.
Não existe uma área específica da ciência que estude a morte, na verdade a ciência tem até estudado muito pouco este assunto. Tem se preocupado mais em relação à vida das espécies e esqueceu que a morte ou o fim da vida é também importante para explicar a própria existência dos seres vivos.
Portanto, o que é a morte? A melhor maneira de estudar a morte é procurar entender a menor unidade indivisível da vida humana que é a célula. Neste ponto não somos diferentes dos outros seres vivos, todos são condenados a morrer como condição do nascimento e a morte de todos começa com a morte de algumas células.
Surpreendentemente, para os organismos unicelulares, evolutivamente mais antigos, a morte não é uma característica obrigatória da sua vida na terra. Parece que o envelhecimento e morte só tenham passado a existir muito após o surgimento dos seres unicelulares. A morte programada, ou morte por envelhecimento, ou senescência, somente apareceu quando as células começaram a experimentar o sexo ligado a reprodução. A ciência chama este período de perda da inocência, bem sugestivo.
Próximo Texto: A morte de uma célula.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O que é a morte?

Começaremos a partir de hoje uma série de artigos e debates sobre o tema: “O que é a morte?”, este tema é bastante complexo e gostaria que sugestões de textos e comentários fossem disponibilizadas para aumentar o conhecimento e o nível de discussão a ser travada.
Sugiro que a seguinte ordem seja seguida visando um melhor aproveitamento do tema e que os comentários enviados por email para mim fossem feitos nos comentários abaixo de cada artigo:
1. Visão da ciência
2. Visão das religiões
3. Visão da Filosofia
Nos próximos dias estarei publicando um resumo com meus comentários sobre a visão da ciência sobre a morte baseada no livro:
Sexo e as origens da morte: como a ciência explica o envelhecimento e o fim da vida
William R. Clark
Abraços a todos

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Idéia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita – Proposições 8º e 9º

Finalizando o tema “liberdade humana” onde começamos com a 1º de 9º proposições de Kant, descrevo abaixo um resumo das últimas proposições 8º e 9º. Quem ainda não leu da 1º a 7º favor dar uma olhada nos artigos anteriores para melhor compreensão.

Oitava proposição

Kant agora nos revela seu interesse em determinar a história humana, e que esta história é determinada pela disposição natural da raça humana e não depende da vontade individual de seus indivíduos.
Estas disposições naturais, na verdade, caminharão para o estabelecimento de uma constituição republicana, pois será determina pela vontade da maioria de seus cidadãos e das relações entre seus estados vizinhos.
Aparentemente não conseguimos hoje vislumbrar esta constituição perfeita, que Kant chama de estado cosmopolita universal, no qual poderemos desenvolver todas as nossas disposições originais da espécie humana. Vivemos ainda em conflitos de relações muito acirradas entre nações que impedem o estado de direcionar seus recursos para o aperfeiçoamento, através da educação, de seus cidadãos.

Nona proposição

A tentativa de Kant de estabelecer uma história universal do mundo e aonde esta historia irá nos levar, não é seu objetivo, e seria impossível esta determinação, a razão não pode ser determinada, pois não sabemos com exatidão o caminho e os obstáculos que serão encontrados, nem tão pouco podemos determinar aonde é o ponto de chegada.
Mas Kant procura deixar claro que seu objetivo não é determinar o ponto de chegada e sim estabelecer um fio condutor deste caminho e que poderá servir, como um sistema, para determinar um plano das ações humanas.
Podemos concluir ao observar o desenvolvimento humano até agora que existe sim um curso regular do aperfeiçoamento de uma constituição civil buscando revolver os conflitos gerados pelo excesso de liberdade entre os estados e seus cidadãos.
Parece-me louvável este estudo e a conclusão de Kant sobre o curso da história humana até os dias atuais, mas farei algumas considerações a seguir.

Considerações Finais

A história da humanidade realmente parece caminhar como Kant nos revela, o desenvolvimento da raça humana pressupõe o desenvolvimento da razão humana e esta acontece no estabelecimento de leis que regulam as relações entre os seres. No entanto parece-me um pouco exagerado a idéia que o desenvolvimento da razão e da sociedade humana seja regulado e determinado por leis naturais. Não me parece que a razão possa ter limites tão estabelecidos de seu desenvolvimento e que estes sejam totalmente determinados.
A liberdade do desenvolvimento da razão pode ser direcionada pelos conflitos gerados nas relações humanas e sociais, mas não podem ser controlados e determinados individualmente. Não creio que nosso fim como homens possa ser determinado.
A razão humana pode ser direcionada por leis naturais, entretanto não pode ser medida por estas leis. O desenvolvimento da razão humana, segundo Kant, não pode ser controlado individualmente, mas poderia e é medida coletivamente através do desenvolvimento das sociedades. Este argumento é forte mais ainda não foi provado, já que ainda estamos em estágios inicias desta história; o desenvolvimento humano também é marcado por idéias e brilhantismo de seres individuais que romperam as leis criadas pelas sociedades na história, e que influenciaram o modo de viver de gerações futuras. A liberdade no pensamento individual pode também influenciar o coletivo e não somente o contrário, e como este não pode ser determinado então às variáveis neste sistema, não podem ser determinadas, nem controladas, da maneira como Kant as apresenta.
As relações humanas moldam e amplificam nossa razão e nosso modo de pensar, mais não determinam isto, por isto não podemos afirmar qual será o destino da raça humana. As relações humanas podem ser alteradas e modificadas e por isto não podemos determinar qual será esta constituição perfeita universal. A razão em si também sofre evolução e uma constituição perfeita em determinado espaço e tempo, pode ser derrotada em outro.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Re-socialização x Punição

Primeiramente gostaria de dizer que não tenho a pretensão de discorrer de forma acadêmica sobre o assunto, já que não tenho formação em direito nem tenho embasamento jurídico para formar opinião conclusiva sobre o assunto. A intenção seria descrever um ponto de vista do cidadão, de um membro da sociedade sobre um assunto de tamanha importância e que deveria ser merecedor de muita discussão acadêmica e nos meios jurídicos.
Constantemente temos escutado decisões jurídicas baseadas na frase “... o papel de pena é a re-socialização do preso...” ou “... o preso que não oferece mais risco a sociedade não deve mais continuar preso...”, temos visto várias decisões de juízes baseadas nestas premissas. O que devemos avaliar neste momento não é se estas decisões são justas, ou são corretas, ou ainda se são baseadas em princípios universais, devemos analisá-las sobre o aspecto social, ou seja, esta decisão tem amparo nos anseios e expectativas da sociedade?
Desde Kant as leis foram criadas para transparecer um desejo social de convivência mútua e não de serem impostas pelos legisladores ou pelos princípios de justiça estabelecidos pelos juristas, alias qual seriam estes princípios? Não existem verdades neste terreno, não existe certo ou errado, quem define o papel de limitador para uma boa convivência social é a própria sociedade. Esta sim deve estabelecer os limites do certo ou errado e que é diferente em cada sociedade do planeta.
Após esta breve descrição sobre os princípios da justiça, vamos discorrer mais sobre os diversos pontos de vista deste tópico.
A re-socialização do preso deve sempre ser uma das metas a serem alcançadas, já que em algum momento este indivíduo será devolvido à sociedade e devemos nos assegurar que ele tenha condições de viver novamente sem cometer crimes. No entanto esta meta é de responsabilidade do sistema prisional, dos presídios e do poder executivo que é o responsável pelo cárcere destes presos. Considero inadequado que o poder judiciário tenha em suas leis a previsão de reduções altíssimas de pena, como exemplo de 5/6 em caso de bom comportamento, ora quem deve avaliar se o preso tem condições ou não de viver novamente em sociedade? Um juiz ou o responsável pela guarda deste elemento? Precisa-se ter muito cuidado quando o poder judiciário começa a participar demais da execução das ações sociais, o principal papel deste poder é de regular, controlar e julgar os atos cometidos pelos outros poderes, não te interferir em sua execução.
Dentro deste contexto considero que o papel do poder judiciário não é de buscar a re-socialização dos condenados e sim de puni-los, de avaliar a pena para o delito que cometeram e de estipular a pena que deve ser cumprida pelo erro cometido. Quando a sociedade prende um cidadão pelo erro cometido, em primeiro lugar, este cidadão deve pagar através de uma pena pelo seu erro. A função da justiça é estabelecer uma pena para o delito e não buscar a re-socialização do mesmo, esta busca é responsabilidade do poder executivo.
Esta dissonância entre os anseios da sociedade e o poder judiciário é a principal causa de descontentamento entre estes entes, a sociedade precisa ter a certeza que quando alguém comete um crime este será julgado e pagará a pena estabelecida como PUNIÇÃO pelo delito infringido.
Pelo pretexto de re-socialização soltam presos de crimes graves que cumpriram apenas 1/6 da pena, ora cadê a punição? Para que serve um julgamento sem punição? Toda a sociedade brasileira precisa de uma reformulação, os problemas não são somente políticos, o poder judiciário não atende mais os anseios da sociedade, sua principal função de reguladora não está sendo atendida; crimes considerados sem periculosidade como sonegação, corrupção são julgados através de penas leves como prisão domiciliar, liberdade condicional ampliada, cestas básica. Entretanto são estes crimes, entre outros, que destroem a sociedade por dentro, pois são crimes que envolvem a moral e ética de uma sociedade, sonegação é um crime gravíssimo, quando sonega, um cidadão está roubando seu próximo, está tirando de seu vizinho uma parte de seus benefícios sociais.
O poder judiciário deve começar a rever os princípios que tem regido a maioria de suas decisões, muitas vezes buscando diminuir o contingente de presos devido a falta de condições mínimas de dignidade no sistema prisional, a justiça passa para o descrédito quando solta criminosos que ainda não cumpriram a totalidade de sua pena com o pretexto de que este não oferece mais risco a sociedade. Volto a bater nesta tecla, o papel da justiça é estabelecer uma pena para um crime cometido, esta pena tem caráter PUNITIVO.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Idéia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita – Proposições 6º e 7º

Dando seguimento ao tema “liberdade humana” onde começamos com a 1º de 9º proposições de Kant, descrevo abaixo um resumo das proposições 6º e 7º. Quem ainda não leu da 1º a 3º favor dar uma olhada nos artigos anteriores para melhor compreensão. Posteriormente estarei enviando as proposições seguintes, da 8º a 9º.

Sexta proposição
Kant nos coloca agora a seguinte pergunta: como podemos desenvolver nossas potencialidades com liberdade de vontade, com oposição e coerção social e com limitação, sem gerar conflitos que tornem impossível o convívio social?
O homem sempre abusará de sua liberdade individual e sempre se inclinará em sua busca, por isto ele tem necessidade de um senhor, de alguém que o regule e quebre sua vontade particular e o obrigue a obedecer à vontade universalmente válida.
Esta realmente parece ser um dos maiores desafios para a espécie humana, como encontrar alguém, humano, que lance mão de suas vontades particulares e submeta-se a cumprir e a estabelecer metas universais, contrariando sua própria natureza egoísta e individual.
Parece-me que este ponto será atingido pela espécie em inúmeras tentativas de erros e acertos, onde a experiência adquirida irá, aos poucos, estabelecer critérios de escolhas onde se possa atingir uma constituição possível, e uma boa vontade de sua maioria para aceitar esta imposição.

Sétima Proposição
O estabelecimento de uma constituição civil perfeita é um objetivo que a razão deve alçar, e que somente pode ser alcançado com a resolução dos problemas gerados entre as próprias sociedades existentes. A relação entre os estados tem a mesma origem dos conflitos descrito na proposição sexta, ou seja, do mesmo desafio de limitar a liberdade de uma sociedade em contra posição a liberdade da outra.
Para uma sociedade atingir uma constituição perfeita, ela precisa primeiramente resolver seus problemas e conflitos com outros estados concorrentes e isto somente pode ser alcançado quando estas sociedades também saírem do estado sem leis dos selvagens e buscarem nas leis resolverem seus conflitos e desavenças.
Como comentado na proposição anterior, o estado precisa abdicar de sua liberdade total sem limites e buscar numa constituição seus limites em relação aos outros. Somente assim poderá encontrar um equilíbrio para o pleno desenvolvimento das finalidades naturais de seus cidadãos.
Um estado que não busque este equilíbrio estará privando seus indivíduos de seus propósitos e em algum momento e viverá em conflito até que perceba que seus propósitos expansionistas e muitas vezes egoísta, quando tentar impor seu modo de agir e pensar, estará indo de encontro com o perfeito desenvolvimento de suas partes, seus cidadãos.
Considero que Kant coloca com muita propriedade esta questão. O desenvolvimento dos humanos depende muito do desenvolvimento da sociedade em que estão dispostos, pois as relações humanas dependem das relações entre as sociedades e estas últimas moldam sua constituição civil.
O homem pode viver sem conflitos em seu estado selvagem, mais jamais atingirá suas disposições naturais sem conviver com seus pares. Contrariando Rousseau, é justamente na desigualdade gerada nas relações humanas que desenvolvemos nossas capacidades e saímos de um estado animal para uma realidade humana. Nossa razão somente é plenamente desenvolvida com a desigualdade e competição entre nossos pares.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Idéia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita – Proposições 4º e 5º

Dando seguimento ao tema “liberdade humana” onde começamos com a 1º de 9º proposições de Kant, descrevo abaixo um resumo das proposições 4º e 5º. Quem ainda não leu da 1º a 3º favor dar uma olhada nos artigos anteriores para melhor compreensão.
Percebe-se nestas proposições e tentativa de diálogo com Rousseau (“A Origem da Desigualdade entre os homens”), enquanto este último prega uma certa desgraça do homem no início do convívio social, sua perda de inocência, o inicio da corrupção, Kant traz uma visão totalmente oposta. Para Kant é justamente o inicio da vida social que traz desenvolvimento a razão humana, trazendo o desenvolvimento de talentos e potencialidades. O homem natural é um ser preguiçoso e acomodado, o homem social é inquieto e colocado em constante provação em sua busca de superar o próximo.
Posteriormente estarei enviando as proposições seguintes, da 6º a 9º.

Quarta proposição
O homem não poderia desenvolver sua razão vivendo individualmente, pois, assim, seria apenas um animal buscando suas necessidades instintivas. O homem sozinho seria apenas um animal solitário vivendo apenas para satisfazer suas necessidades básicas de sobrevivência.
Para desenvolver suas potencialidades, o homem precisa conviver com outros de sua espécie, o convívio social faz o homem sair de seu estado tendencioso a preguiça e ao isolamento, de um ser puramente animal, para em oposição ao próximo buscar sempre mais de si mesmo. A sociedade tornou o homem um ser em conflito, as relações humanas trouxeram ao homem a desigualdade, a busca de projeção, a inveja, a cobiça e com isto trousse a ele a possibilidade de melhorar e de potencializar suas capacidades máximas a fim de superar seu concorrente, ou seja, o próximo. A desigualdade humana trazida pelo convívio social, ao contrário de muitos pensadores, possibilitou ao homem o desenvolvimento de sua razão. A discórdia e os conflitos gerados pelas relações humanas permitiram que ele desenvolvesse seus talentos, e preenchesse o vazio da criação em vista de seu fim como natureza racional. Na busca pelo melhor de si, na superação de seu opositor, o homem busca sua concórdia, mas a natureza quer sua discórdia, pois somente aí ele poderá atingir suas disposições.
O homem quer instintivamente viver prazerosamente, comodamente satisfeito de seus instintos naturais, mas no convívio social ele é colocado em discórdia, precisa abandonar sua indolência e lançar-se no trabalho árduo visando ultrapassar seus pares.

Quinta proposição
No entanto, em continuação do exposto na proposição anterior, as desigualdades geradas pelos conflitos de diferentes interesses individuais poderiam gerar a desgraça a espécies humana se não for regulado por um direito universal, que possibilite a coexistência de liberdades individuais para a obtenção do desenvolvimento de todas as suas disposições.
A necessidade de viver coletivamente em sociedade e mesmo assim desenvolver a máxima liberdade de suas vontades traz ao homem a necessidade de submeter-se a regras sociais que limitem sua liberdade quando esta interfira na liberdade de seus pares.
Esta limitação, mesmo parecendo primeiramente algo inibidor de seu desenvolvimento pleno, ao contrário, permite que ele caminhe de forma mais perfeita na produção de conhecimento mais engajado de sua espécie, num conhecimento mais coletivo que individual, visando desta forma no desenvolvimento de toda sua espécie e não no desenvolvimento apenas individual.
Esta limitação da liberdade individual permite o desenvolvimento da cultura numa sociedade e torna o convívio social algo positivo que disciplina e potencializa a capacidade individual de todos.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Cérebro humano artificial pode ser construído em 10 anos

Olhem a notícia abaixo, se alguém ainda duvida do artigo publicado anteriormente (http://ligadavirtude.blogspot.com/2009/06/seremos-todos-cyborgs.html) é melhor começar a mudar seus conceitos:

Cérebro humano artificial 'pode ser construído em 10 anos' , diz cientista

Um cérebro humano artificial pode ser construído dentro dos próximos 10 anos, segundo Henry Markram, um proeminente cientista sul-africano. "Não é impossível construir um cérebro humano e podemos fazer isso em 10 anos", disse Markram, diretor do Blue Brain Project (BBP), à conferência acadêmica global TED na cidade de Oxford, na Inglaterra.
O BBP é um projeto científico internacional, financiado pelo governo suíço e doações de indivíduos, cujo objetivo é construir uma simulação computadorizada do cérebro de mamíferos.Markram já construiu elementos do cérebro de um camundongo. A equipe do cientista se concentra especificamente na coluna neocortical, conhecida como neocortex.'10 mil laptops' O projeto atualmente tem um modelo de software de dezenas de milhares de neurônios, cada um deles diferente, que os ajudou a construir, artificialmente, uma coluna neocortical.A equipe coloca os dados gerados pelos modelos junto com alguns algoritimos - uma sequência de instruções para solucionar um problema - em um supercomputador."Você precisa de um laptop para fazer todos os cálculos para um neurônio", disse ele."Portanto você precisa de 10 mil laptops", afirmou.Em vez disso, a equipe usa um supercomputador com 10 mil processadores.As simulações já começaram a fornecer pistas aos pesquisadores sobre o funcionamento do cérebro. Elas podem, por exemplo, mostrar ao cérebro uma imagem, como uma flor, e seguir a atividade elétrica da máquina, ou seja, como é feita a representação da imagem."Você estimula o sistema e ele cria sua própria representação", disse ele.O objetivo é extrair esta representação e projetá-la, permitindo que os pesquisadores vejam diretamente como o cérebro funciona.Segundo Markram, além de ajudar na compreensão dos mecanismos do cérebro, o projeto pode oferecer novos caminhos para se entender os problemas mentais."Cerca de dois bilhões de pessoas no planeta sofrem de distúrbios mentais", disse o cientista, reforçando os benefícios em potencial do projeto.