sexta-feira, 15 de abril de 2011

Homem: bom ou mal?

Como o texto anterior de Marcela me fez pensar muito. Percebi que meu comentário ficaria grande demais, então resolvi escrever outro artigo.
O que é bom? O que é mal? Estes conceitos foram estabelecidos em nossa sociedade no início do cristianismo. Não existia o conceito de bom ou mal antes de cristo, ou não existia um padrão, o homem fazia o que deveria ser feito dependendo da ocasião, portanto o bem ou o mal não existem, são criações da sociedade, imposto principalmente pela religião para controlar o aumento de população nas cidades e nos conglomerados urbanos. Assim estabelecemos a moralidade. No último livro lido aqui na Liga, Cachorros de Palha, o autor nos mostrou bem isto, deem uma olhada: http://ligadavirtude.blogspot.com/2010/09/cachorros-de-palha-3-capitulo-os-vicios_29.html
Nietzsche, também, relatou brilhantemente este fato em Zaratustra, também bastante comentado em textos passados aqui da Liga, então esqueça estes padrões morais.
Tirando isto, nos sobra uma constatação: que o homem é capaz de qualquer coisa, assim como qualquer outro animal, e não tem problema nenhum nisto, todos os seres vivos são capazes de qualquer coisa para sobreviver. É uma lei natural, portanto como pode estar errada?
Volto a tocar neste ponto, somos produto do meio e o meio determina nosso comportamento. Já matamos e continuamos a matar crianças, na China (quando nascem mulheres), na Costa do Marfim e Ruanda (guerras étnicas) ou em qualquer outro lugar. O homem mata sim e quem disse que isto é mal? O que quero dizer é que não existe padrão para certo ou errado, matar para sobreviver é errado? Tudo depende do referencial e este julgamento é temporal e transitório, muda-se de tempos em tempos.
Quanto ao episódio do Rio de Janeiro, não venham inventar mentiras ou calúnias contra o rapaz, é obvio que seus motivos foram absurdos, o ponto não é este. Ele fez o que achou certo em seu referencial de vida, não me parece que tinha nenhum problema mental. Ficamos procurando problemas mentais nas pessoas que fazem as coisas diferentes para não enxergar uma verdade: todos nós poderíamos ter feito aquilo dependendo da ocasião ou do referencial cultural inserido.
A sociedade estabelece alguns referenciais e devemos ser punidos quando caminhamos contra, assim ordena-se uma sociedade através das leis. A vontade individual não pode ir contra a social quando interfere na liberdade de outro membro desta. Emmanuel Kant nos mostrou bem isto.
Não podemos ser ordenados por moral, brigo sempre contra este conceito, devemos ser cobrados pelas leis estabelecidades em cada sociedade, logo um ser totalmente amoral (não sei bem se é possível isto) pode ser um cidadão brilhante, ele deve ser cobrado pelo seu deveres e não por sua religião ou qualquer outro conceito moral.
Portanto, vamos esquecer religião, moral, problemas mentais, diabo, Deus e pensar em como nossa sociedade tem nos tratado, como nosso comportamento é determinado por ela, ela deve procurar suas respostas dentro dela mesma. Não se excluam colegas cidadãos.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A Sombra e A Maldade

Quando já certa de que nenhum ato cometido por seres humanos poderia chocar-me, sou surpreendida por imagens perturbadoras de crueldade. Não me refiro ao, tão explorado pela mídia, massacre de Realengo, mas a tantas outras cenas de violência que assistimos quase diariamente nos telejornais. Cenas estas que nos fazem pensar como o homem é mau. Será essa maldade natural ao ser humano? Se olharmos a história da humanidade, escrita sobre sangue e cadáveres, teremos certeza que sim. Por outro lado, sabemos de histórias sobre pessoas capazes de sacrifícios para ajudar outras em situações críticas (a exemplo dos brasileiros que viajaram horas de carro para levar água, comida e auxílio aos japoneses mais atingidos pela tragédia recente). Então o ser humano pode ser bom.

No caso do assassino de Realengo, há o atenuante do transtorno mental, o que não ocorre com os policiais que torturaram e friamente atiraram à queima roupa em um adolescente de 14 anos indefeso. Atiraram por 4 vezes no tórax do menino que teimou em não cair e insistiu em continuar vivo. Então o ser humano pode ser mau? Sim, infinitamente cruel. E a insanidade muitas vezes não justifica a maldade. Somos seres muito complexos, repletos de dualismos. Possuímos bondade e maldade naturais em nossa personalidade, entre outras características aparentes ou não. Desde pequenos somos “moldados” para reagirmos da maneira esperada e para assumirmos personalidades que atendam as expectativas sociais. Deste modo, ocultamos, de maneira inconsciente, sentimentos que consideramos inapropriados e, assim, é formada a chamada sombra. A sombra é, de maneira geral, um segredo que guardamos de nós mesmos e do mundo, aspectos inconscientes de nossas vidas e personalidades, mas que em algum momento manifestam-se. Momentos de descontrole nos quais falamos e fazemos coisas, nas quais não nos reconhecemos, geralmente, são manifestações da sombra.

A maldade existe em todos nós, só que suprimimos suas manifestações de maneira consciente ou inconsciente, por medo das consequências do ato ou pelo desejo de sermos virtuosos. Contudo, algumas pessoas, por razões diversas internas e/ou externas, deixam-se tomar pelo prazer da maldade e ainda encontram justificativas para seus atos. Guerras, massacres, roubos, homicídios, entre outros, são sempre justificáveis por aqueles que os cometem.

Todos, em algum momento da vida, descobrem que não são tão bons quanto pensavam (ou tão maus). Negar a existência da maldade em nós não nos ajuda a lidar com ela, precisamos descobrir e aceitar que somos seres dotados de maldade e bondade, e que podemos, em sã consciência, escolher qual predominará em nossas vidas. Não podemos nos desfazer de nossas sombras mas, ao tomarmos conhecimento dela, podemos escolher o que manter sob seu véu.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

O PAI DO HOMEM

Todos sabem que não gosto de publicar textos de não membros do blog, mas achei bastante interessante este e deixa para discussão.

Depois de ler o que pude, ouvir o rádio e ver a TV, peguei meu carro, era dia de folga, jornalista folga de quinta-feira, fui até a oficina, vi os dois Weber que colocaram no Meianov, ligamos o carro, o motor ficou com um ronco legal, depois descemos lá onde eles fazem funilaria e pintura, a peruinha já está toda raspada, sem motor, descobrimos a cor original. Descobrir a cor original de um carro de 55 anos é algo emocionante para quem gosta deles, dos carros. Foi arrancar o forro do teto e lá estava o azul, Azul Firenze, segundo o amigo das cores, intocada a pintura, uma coisa bacana, ajuda muito na restauração, mesmo que o Azul Firenze não seja lindo, eu tinha a ideia de fazer creme e vinho, ou branco Lotus e azul-marinho. Mas ela era azul, ora bolas, e se nasceu assim, que continue assim. Acho que será azul, e também encontrei o número do chassi, é umas das únicas 173 fabricadas em 1956, creio que o mais correto seja mesmo fazê-la como era quando saiu da fábrica e tal.
Depois fui ao centro da cidade, com um trânsito curiosamente bom, atrás de um emblema e de umas calotas, o trânsito curiosamente bom.
As irrelevâncias nos movem. Tudo que fiz hoje foi irrelevante, ver uns carburadores, descobrir uma cor, procurar uns emblemas e umas calotas. Foi tudo que consegui fazer. Mergulhar na irrelevância e na indiferença.
O rapaz que entrou na escola atirando não se encaixa em nenhum perfil que permita esbravejar. Até onde se sabe, não era traficante, ladrão, fugitivo. Não era militante de nenhum partido, não lutava jiu-jítsu, não era um skinhead, não pertencia a nenhuma torcida organizada. Até onde se sabe, não usava drogas, não bebia, não era pedófilo, não era evangélico, não era muçulmano, não era judeu, não era cristão, não era xiita, não era sunita, não tirava racha na rua, não tinha suásticas tatuadas na pele, não pertencia a nenhuma seita, não era gótico, não era punk, não ouvia Bossa Nova, não usava piercing, não era rico, não era pobre, não era gordo, não era magro, não estava em liberdade condicional, não tinha passagem pela polícia, não vivia no Complexo do Alemão, não era do Jardim Ângela, não morava numa cobertura da Vieira Souto, não era nada. Segundo sua irmã, ele era estranho.
Estranho.
Seu nome era Wellington de Oliveira, um nome bem brasileiro, há milhares de Wellingtons, Washingtons, Andersons. O Brasil tem um estranho fascínio por W e por nomes que terminam em “on”. Wanderson, Jackson, Jobson, Richarlyson. Ele era um Wellington de Oliveira.
Quando não se pode culpar traficantes, fugitivos, ladrões, militantes, lutadores, skinheads, nazistas, torcedores organizados, drogados, cristãos, bêbados, pedófilos, muçulmanos, góticos, magros, evangélicos, rachadores, punks, gordos, xiitas, ricos, pobres, nem o prefeito, nem o governador, nem a presidenta, nem o ministro, nem o secretário, nem a polícia, nem o senador, nem o deputado, nem a diretora da escola, nem o médico, nem o professor, culpamos quem?
Culpamos quem?
Quando não podemos culpar ninguém, chegou a hora de assumir o que somos. Uma espécie fracassada, violenta, agressiva, condenada à extinção. Uma espécie habituada à barbárie, e que não se imagine que “nos transformamos em”. Sempre fomos assim, indecentes, obscenos, há séculos nos matando em guerras, inquisições, pogroms, chacinas, massacres, genocídios, atropelamentos, assassinatos, latrocínios, torturas, execuções. E pragas, pestes, terremotos, incêndios, tsunamis, deslizamentos, enchentes. Um moto-contínuo de mortes, mortes, mortes, e vinganças, vinganças, vinganças, ódio.
A criança é o pai do homem. Guardo um pequeno cartão com essa frase no meu carro, há anos está lá, era o convite da formatura do meu mais velho no pré-primário. Não o guardo como mantra ou guia espiritual. Está lá porque está lá, porque o carro que nos levou à formatura do pré ainda está comigo, e lá ficaram o cartão e a frase. De vez em quando uso o cartão, de papel de alta gramatura, cartolina, talvez, porque quando o vidro sobe levanta uma rebarba da forração da porta, e o cartão serve para colocar a forração no lugar. É um uso banal, irrelevante, coloco o cartão entre o vidro e a forração da porta, e tudo fica no lugar, tudo volta ao seu lugar. Um uso banal e irrelevante, mas que me faz ler essa frase todos os dias, ou, pelo menos, quando preciso colocar a forração da porta no lugar.
A criança é o pai do homem.
Wellington ajudou a nos matar mais um pouco hoje. É um erro, Wellington, matar-nos aos poucos. Da próxima vez, Wellington, mate-nos a nós, direto, sem intermediários.
Mate o homem, Wellington, não seus pais.
http://colunistas.ig.com.br/flaviogomes/2011/04/07/o-pai-do-homem/
Flávio Gomes

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Existe mesmo empresa privada no Brasil?

A pergunta poderia ser outra: existe alguma empresa verdadeiramente independente do estado no Brasil.
Parece que para uma empresa crescer, se desenvolver e criar notoriedade em algum momento ela precisará das mãos do estado brasileiro e assim entrar na cúpula do poder. Em algum instante precisará de um financiamento do BNDES, ou um terreno novo, ou uma liberação especial ou autorização para funcionar, tudo perfeitamente legal, não é? Conhecemos bem nosso país.
A burocracia estatal serve seus fins, o de engessar a todos e demonstrar que ninguém é verdadeiramente livre no país, quem manda são os políticos e mais ninguém. E a eles devemos favores, muitos deles.
Agora acordamos com uma notícia totalmente absurda para um país que se acha democrático e de livre iniciativa: Guido Mantega consegue, finalmente, tirar Roger Agnelli da presidência da Vale. Ora bolas como um ministro de estado pode ter tanto poder e influenciar o que acontece nos bastidores de uma empresa privada. Uma pergunta surge logo a minha mente, a Vale é mesmo privada?
Detectamos, neste caso, um erro tremendo nas privatizações do governo FHC, permitiram que fundos de pensão de empresa estatais participassem e com isto, de certa forma, estas empresas continuam indiretamente ligadas ao estado.
Como vamos criar um ambiente de competitividade desta forma? Dilma deu um grande passo para traz. Vinha admirando suas primeiras atitudes e coragem, coisa que faltou no ultimo governo, mas bastou encontrar novamente o Deus “Lula” que tudo desandou.
E os empresários? Devido à falta de independência do estado, ficam calados, assistindo a tudo de longe.
Não consigo ver luz no fim deste tunel e olha que venho tentando a bastante tempo.