quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Cachorros de Palha – 3º capítulo: Os vícios da moralidade (última parte)

Voltando ao capítulo 3 do livro Cachorros de Palha. Para o autor a conclusão final de todo trabalho de Freud é que ser uma boa pessoa é uma questão de sorte. Ser gentil ou ser cruel é um senso de justiça que dependem dos acidentes da infância. Para Freud a bondade é uma dádiva do acaso e, portanto não é uma liberalidade da vontade, esta liberdade de escolha é uma ilusão.
Outro aspecto é a moralidade como afrodisíaco. Dificilmente a moralidade nos terá transformado em melhores pessoas, mas ela certamente enriquece nossos vícios. Todos que de alguma maneira foram cristãos, o prazer só pode ser intenso se estiver misturado com a sensação de estar agindo imoralmente, alguém discorda?
A moralidade humana é imoral. A paz e prosperidade de uma geração é sustentada por injustiças de gerações anteriores. A filosofia moral é um ramo da ficção
O mais importante para o ser humano é viver suas escolhas. Entretanto para os pré-socráticos as coisas eram um pouco diferentes, eram justamente os limites que nos tornavam humanos: forte ou fraco, belo ou feio, bravo ou covarde, todos estes aspectos de nossas vidas, alias os mais importantes, nos são dados e não podem ser escolhidos.
Os gregos antigos estavam certos, o ideal da vida que escolhemos não combina com a maneira como vivemos. O tempo e o lugar que nascemos, nossos pais, a primeira língua, tudo são acasos, não escolhas. A vida de cada um de nós é um capítulo feito de eventos acidentais.
A ética não é atributo humano, suas raízes estão nas virtudes animais. Nietzsche escreveu:
As origens da justiça, bem como da prudência, da moderação, da bravura – em suma, de tudo aquilo que designamos como virtudes socráticas – são animais: uma consequência daquele impulso que nos ensina a buscar comida e escapar de inimigos. Agora, se considerarmos que mesmo o mais elevado ser humano apenas se tornou mais elevado e sutil quanto à natureza do que come e em sua concepção do que é antagônico a ele, não é inadequado descrever todo fenômeno da moralidade como animal.
Ao contrário da visão grega e ocidental de que viver bem é viver livre e através de nossas escolhas individuais, para o Taoístas, a vida boa é viver sem esforços, de acordo com nossas naturezas, sem propósito, sem possibilidade de saber o que vem após a morte, sem possibilidade de progresso, um fatalismo muito próximo do determinismo, até mesmo a sugestão de que o organismo humano opera como uma máquina.
Podemos perceber algumas diferenças entre nós e os outros animais que, em parte, surgem nos conflitos entre nossos instintos. Os humanos buscam segurança, mas são facilmente entediados; são animais amantes da paz, mas tem um gosto pela violência; são inclinados a pensar, mas ao mesmo tempo odeiam e temem a incerteza trazida pelo pensar. Também como atesta a história da filosofia, os humanos tem um talento para o autoengano e crescem na ignorância de suas naturezas.
Não vamos esquecer: a moralidade é uma doença tipicamente humana.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cachorros de Palha – 3º capítulo: Os vícios da moralidade (1ª parte)

Desculpem pela ausência do blog nas ultimas 2 semanas, andei bem ocupado.
Voltando ao capítulo 3 do livro Cachorros de Palha. Nesta parte do livro o autor quer demonstrar que a moralidade não é importante para o ser humano. Para introduzir melhor as ideias do autor, vou tentar fazer um resumo da parte 11 do capítulo 3º onde é feita uma excelente introdução sobre o inicio da moralidade nas sociedades humanas.
De acordo com John Gray a moralidade começou com Sócrates, sobre sua influencia a ética deixou de ser a arte de viver bem num mundo perigoso, e tornou-se a busca de um bem maior que nada possa destruir, um valor potente que derrota todos os outros.
Para Sócrates a virtude e a felicidade andavam juntas, nada pode causar dano a um homem realmente bom, então ele imaginou o bom para torna-lo indestrutível. Surgiu, então, a ideia de que a ética está preocupada com algum tipo de valor além da vida terrena, que pode, de algum modo, prevalecer sobre qualquer tipo de perda ou infortúnio. Criou-se a moralidade.
Pensamos a moralidade como um conjunto de leis ou regras a que todos têm de obedecer e que consiste nesses preconceitos que herdamos parcialmente do cristianismo e parcialmente da filosofia grega clássica.
No mundo antes de Sócrates não havia moralidade. Havia ideias sobre certo e errado, mas não havia nenhuma ideia de um conjunto de regras que todos devessem seguir, ou de um tipo de valor que superava todos os outros. A ética tratava de virtudes como coragem e sabedoria, mas não de valores ideais.
Preferimos basear nossas vidas na presunção de que a moralidade sempre vence, no entanto não acreditamos nisto realmente. No fundo sabemos que nada pode nos tornar a prova do destino e do acaso.
Para o autor não há progresso na moralidade humana, existem hoje mais assassinatos em massa do que em qualquer outra época humana. A ideia de criar uma raça humana superior sempre esteve presente no homem e o holocausto tinham preceitos totalmente progressistas que são utilizados até hoje.
Sócrates, também, trouxe a ideia de que a razão pode guia a vida, esta ideia está impregnada nos sociedades ocidentais e faz parte do humanismo moderno, porém está totalmente equivocada. Percebe-se isto quando colocamos o homem em situação extrema, como numa prisão perpetua sem esperanças, neste momento a vida humana não é trágica, mas desprovida de sentido, a alma é quebrada, mas a vida persiste.
A moralidade torna as leis universais, eternas e divinas, porém a crença de justiça e de ética são totalmente temporais, superficiais e transitórias. Leis utilizadas no século XVII são incompreensíveis hoje, e assim sempre será. A justiça é um artefato do costume, portanto instável e mutável.
Este capítulo é um dos melhores, destrói alguns conceitos de moralidade que veem principalmente das religiões modernas trazidas anteriormente pelos filósofos gregos e que permeia nossa sociedade hoje. As pessoas tendem a repugnar um ateu, principalmente pelo medo da amoralidade deste, entretanto não percebem que a falta de moral é justamente o principal preceito da virtude de viver bem, viver o presente e desfrutar a vida.
Semana que vem escrevo sobre a segunda e ultima parte deste capítulo.