segunda-feira, 16 de março de 2009

Porque filosofia?

Porque estudar e aprender filosofia? Esta é uma questão que tem me sido apresentada pela sociedade, amigos, colegas de trabalho e familiares. Porque um ser bem sucedido, aceito pela sociedade, pensaria em buscar questões enigmáticas, sem respostas, coisas vagas que não trariam nenhum resultado prático.

Acho que a palavra “Prático” me sugeriu um comentário, o que é prático nesta sociedade? Seria a busca de algo que melhorasse minha aceitação no mercado de trabalho, seria algo que pudesse imediatamente se transformar em capital, seria a busca incessante por um bem necessário, ou desnecessário?

Bem, senhores, acho que vou começar buscando uma ajuda em meus remotos companheiros de estudo, como Sócrates, que diz em seu julgamento final: “Não tenho outra ocupação senão a de vos persuadir a todos, tanto velhos como novos, de que cuides menos de vossos corpos e de vossos bens do que da perfeição de vossas almas, e a vos dizer que a virtude não provém da riqueza, mas sim que é a virtude que traz a riqueza ou qualquer outra coisa útil aos homens, quer na vida pública quer na vida privada. Se dizendo isso, eu estou a corromper a juventude, tanto pior, mas se alguém afirmar que digo outra coisa, mente”. Não quero com isto tentar persuadir ninguém, já que muitos de vos, tem milhões de argumentos sobre a loucura que é alguém estudar filosofia hoje, mas gostaria apenas de tecer alguns pequenos comentários.

Porque seria importante então, para minha existência neste planeta, nesta época ou nesta vida, viver buscando satisfazer meu ego? Porque viver para comprar um carro novo, um apartamento melhor, segurança financeira, reconhecimento pelo talento ou conhecimento em acumular capital? Estas perguntas, amigos, têm me feito refletir mais do que vossas questões filosóficas vagas e sem respostas. Mesmo não acreditando em outras vidas, ou em paraíso, ou em Deus, ou em Cristo, ou em qualquer outro pacote espiritual e religioso, porque será que nossa existência se basearia nisto, em simplesmente satisfazer nossos desejos superficiais, ou seja, prazeres proporcionados pelos nossos sentidos. Acredito que até o mais cético dos homens pensaria em como seria vaga esta existência, esta transformação da consciência, este momento de evolução da mente, se realmente fosse apenas crescer com saúde, ter muitos filhos, um bom apartamento, reconhecimento social, etc. Porque será então, que nos livros de história, lembramos de Sócrates, que dizia que a vida sem exame não é vida digna de um ser humano, e não de algum rico mercador ou cidadão respeitado de mesma época? Viver por viver não me parece inteligente, principalmente para o grau e nível de consciência que o ser humano adquiriu deste os símios (nossos ancestrais). Acho realmente que não vivemos como animais apáticos sem sequer questionar nosso ambiente e meio de vida.

Gostaria apenas de lembrar que há apenas alguns anos atrás, vivíamos por uma utopia, cidadãos do mundo eram influenciados pela construção de uma nova sociedade, sem guerras e autoritarismos. Hoje, vivemos para o sistema novamente. O que teria feito mudarmos tão rápido de opinião? O capitalismo? Os EUA? Ou quem sabe a mídia com a televisão? Vive-se apenas para produzir, para alimentar o acúmulo de capital, criam-se demandas e necessidades para nossos egos, não para nossa consciência. O mundo se tornou totalmente material, criam-se datas comemorativas apenas para aumentar a produção, o natal cristão é repartido individualmente, em família e não com nossos irmãos mais necessitados, conforme pregava o Cristo. O acúmulo individual de bens tornou-se fundamental para nossa aceitação social. Será que nossa existência deve-se basear apenas nisto? Será que nossos antepassados, que viveram em sociedades onde o foco era outro, estavam errados? Será que agora o homem atingiu seu ápice de evolução? Que o capitalismo terá sempre o mesmo foco material e que nossas gerações futuras buscarão as mesmas coisas que nós?

Filosofia nada mas é, que buscar um conhecimento das coisas, da realidade, do ser humano, da importância da vida. Buscar mudar e transformar a vida em nossa volta me parece fundamental hoje ou em qualquer outra sociedade. O filósofo acredita que nesta busca cresceremos como homens, já que a experiência de nossos antepassados nos tornaria maiores em conhecimento e a ignorância de vivermos nossas vidas apenas pela ordem social vigente, se dissiparia. A vida não pode ser vivida apenas pelas imagens e obrigações impostas pelo mundo na qual somos criados, precisamos aprender a viver e libertar nossos sentimentos e desejos mais íntimos. Portanto me parece de vital importância perceber a realidade a minha volta e decidir sozinho qual escolha devo tomar, sem preconceitos nem imposições sociais, minhas escolhas serão, então, livres.

Pois é, escolhi filosofia para não viver uma vida que não é minha, uma vida não escolhida por mim. Quero ter consciência de minha existência e a partir daí, tomar minhas próprias decisões. Filosofia é liberdade de consciência, é eternamente buscar a verdade. Se vou descobrir? Todos os filósofos têm consciência de que provavelmente nunca descobrirão, mas a busca pelo conhecimento e a inquietude de não viver na ignorância nos fascina, nos move, nos alimenta a cada dia. A percepção de enxergarmos o mundo pelos ombros dos gigantes que nos antecederam é deslumbrante. Aumentamos nossos horizontes a cada livro, nos libertamos a cada frase. Qual o propósito deste texto mesmo? - Porque estudar filosofia? Liberte-se amigo.

2 comentários:

  1. Apesar de ter estudado psicologia e ter me encontrado com a filosofia em alguns momentos da faculdade, apesar de estudar psicanálise e ela se servir da filosofia em muitos momentos, nunca fui tocada por ela e sempre questionei o seu valor prático. Assim como questiono a psicanálise e me volto para a psicanálise prática, a que se serve da lógica. Pratica, pq pra mim, não existe teoria sem a práxis, falo aqui da clínica, lógico, da minha experiência.
    Muito bom poder ler esse texto, ver uma perspectiva diferente da que eu tenho. Concordo que conhecimento liberta, amplia consciência e como você diz "move". Movimento, nisso acredito. Bons frutos ao blog, sejamos sim inquietos. Adorei!
    Milena

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  2. Belo texto... Acho que todo mundo tem que buscar uma razão, questionar o que é inquestionável por muitos, quebrar paradigmas.

    Essa idéia de ficar parada aceitando tudo que me oferecem como certo me angustia. Ao contrário, parto do principio que a massa é burra e quase tudo que vem dela está errado e precisa ser questionado.

    Por isso busco me informar pela tangente, ler aquilo que ninguém lê, frequentar os lugares que ninguém frequenta, escutar músicas diferentes. Ao mesmo tempo, faço questão de conhecer os lugares da moda, assistir a filmes hollywoodianos e ler best-sellers (confesso que tenho cada vez menos paciência para essas coisas), para ter minha visão crítica e analisar o comportamento das pessoas imersas neste mundo bitolado e sem imaginação. Desta forma crio uma visão de mundo a partir de outro angulo, apesar de estar imersa na mesma realidade onde muitos só conseguem ver a mesma paisagem.

    Se isso é filosofar ou não, sinceramente não sei. Prefiro não rotular atitudes. Filosofia, sociologia, psicologia... Acho que é tudo uma coisa só, na verdade um conjunto de idéias, análises, estudos e conhecimentos que juntos dão um único sentido à vida.

    Acho que a troca sim é imprescindível, não desprezo nada que escuto, mesmo que discorde completamente. E sempre que encontro algo conflitante, gosto de futucar para ver até onde vai...

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