segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Crenças: não podemos viver sem elas

Depois de uma longa ausência no blog e aproveitando a semana de comemoração da psicologia, não poderia perder a oportunidade de cutucar novamente os profissionais da área. Meu artigo neste mês será sobre o novo livro do psicólogo Michael Shermer chamado em português “Cérebro e Crença”. Já falamos muito por aqui sobre a necessidade humana de explicar as coisas por crenças, a imaginação parece fazer parte da nossa capacidade de processar as informações do mundo externo e de compreendê-lo. Este grande psicólogo procura mostrar que tudo não passa de um processo natural da espécie, o de viver no pensamento mágico totalmente fora da realidade.
Nossa dita inteligência, na verdade, nada mais é que uma espécie de máquina de reconhecimento de padrões naturais, estes padrões, às vezes são até reais, mas, em sua maioria, são fruto da imaginação. Porque isto acontece? Tudo na vida tem uma função para existir, pela teoria da Seleção Natural, tudo que fica, seja comportamento ou diferenças físicas ficam porque ajudaram em algum momento estes indivíduos na sua adaptação ao meio, então se temos como padrão a criatividade de imaginar as coisas, esta deveria ter uma função para a espécie, não é? Qual seria?
De acordo com Shermer este padrão, há milhares de anos atrás, ajudou o homem a se proteger de ameaças, ao ouvir um barulho vindo da mata o homem poderia supor que seria um predador e seria melhor se prevenir “imaginando” o perigo que ser morto depois. Imaginar o perigo e fugir garantiu a sobrevivência. Começou assim a capacidade humana de não conseguir adequadamente distinguir a ficção da realidade. Portanto a convicção que o pensamento mágico e ilusório é o que basta para compreender o universo gera uma sensação de prazer. Ficamos felizes em imaginar seres místicos, sejam Deuses ou extraterrestres, que cuidam de nós. Em geral somos muito solitários e inseguros em relação a vida.
Brilhantemente os psicólogos modernos pararam de viajar em matéria de coisas sobrenaturais e explicações fora do campo científico, ou seja, sem comprovação científica (coloco muito dos estudos de Freud aqui) e passaram a estudar mais o cérebro humano, com a neurociência. Hoje já é possível provar a sensação de prazer quando se ativa as partes ligadas a imaginação, isto alivia os momentos de tensão quando enfrentamos estresse elevado, como nos casos de morte de parentes ou quando ficamos mais velho e próximos do fim.  Somos mais abertos a religiões quando envelhecemos ou quando somos jovens, o apelo a Deus explica melhor a confrontação com a tragédia (morte em filosofia).
Shermer afirma que a religião empobrece o homem pois não há debates ou conhecimento em acreditar em algo que não se pode provar. Para ele a ciência alimenta o ceticismo e a busca para encontrar a verdade, com isto favorece o progresso humano. A ciência é democrática, qualquer um pode estudá-la. Cientistas estão sempre abertos à possibilidade de estarem errados, ao contrário da religião. A crendice é intolerante e ditadora, fixa uma verdade e não abre espaço para perguntas. Se continuássemos apenas nas crença é provável que ainda estivéssemos nas florestas.
Crer não é de todo mal, a crença, na verdade, move a ciência. Qualquer experimento nasce da premissa de que seja verdade, como ainda não foi provado, não passa de uma crendice. Mas a crença das verdades absolutas, como a religião, não fazem bem ao homem e são as grandes responsáveis pelas guerras e massacres durante a história humana.
Os países menos religiosos do mundo atualmente, são justamente os mais tranquilos e seguros para se viver. Os países do norte europeu tem apenas um quarto da população que acredita em Deuses ou seguem alguma religião, com isto tem índices de criminalidade, suicídios e de doenças sexualmente transmissíveis bem inferiores a outros países como Brasil e EUA. Levantamos assim outra questão, os defensores das religiões alegam que a crença controla os conflitos sociais, no entanto, se isto é verdade porque os estados teocráticos são mais suscetíveis a criminalidade e as guerras?
Muitos me perguntam porque tento combater as religiões. Na verdade acredito que esta crença faz mal ao homem e é perigosa. Acreditar na medicina alternativa é um exemplo, se os remédios homeopáticos são eficientes porque não passam nos testes de placebo? Na verdade podem sim fazer muito mal ao organismo já que não passam nos testes laboratoriais e no rigor das agencias reguladoras. Esta metáfora serve para demonstrar o perigo de se acreditar em qualquer coisa.
Quem tem que provar se Deus existe são os religiosos, já que afirmam que existe. O fato de não se provar que Deuses não existem não é motivo para acreditarmos neles. Não há diferença em acreditar em Deus, ou em Duendes, ou em fadas madrinhas, nenhum destes pode ser provado. Se realmente existe um Deus e este nos deu a capacidade para duvidá-lo então devemos fazer isto o tempo todo, ele com certeza não deixou nenhum caminho a seguir na terra, cada um de nós deve escolhê-lo.
Prefiro viver com minhas escolhas que com as dos outros, como fazem os religiosos. Façam a sua, mas, ao menos, utilizem a maior capacidade humana: a de buscar a verdade das coisas ou seja, a curiosidade.