quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A institucionalização do racismo

A palavra racismo denota algo pejorativo, pois em geral utilizamos para classificar um crime de discriminação de raças entre os humanos. Vamos começar buscando o significado no dicionário Michaellis. Racismo é a teoria que afirma a superioridade de certas raças humanas sobre as demais. Caracteres físicos, morais e intelectuais que distinguem determinada raça. Ou Ação ou qualidade de indivíduo racista. Ou ainda, apego à raça.
Ora você pode ser racista quando escolhe uma raça de cachorro ou gato em relação à outra, quando prefere uma onça em relação ao leopardo, ou gosta mais de papagaio em contra partida ao canário. No entanto a separação de humanos em raças é ilegal e é crime.
Pode parecer que vou defender o racismo, mas não vou não. Não por querer ser politicamente correto, que todos sabem que não sou, mas por que não consigo admitir que seres humanos tenham raça. Nós não somos diferentes, pretos, brancos, pardos, índios, temos as mesmas características e, portanto não podem ser separados por raça. Vejo muitos grupos étnicos, principalmente de negros afirmarem “Raça Negra”, mas o que seria a raça negra, um labrador (cachorro) pode ser marrom ou preto e mesmo assim pertence à raça labrador. A cor não pode ser utilizada para separação de humanos em raça.
A espécie animal a que pertencemos, o homo sapiens, é nova, bem recente em termos de vida no planeta Terra. De acordo com estudos científicos temos no máximo 200.000 anos, ou seja, somos uma espécie muito nova. A terra tem aproximadamente 5 bilhões de anos. Não houve tempo ainda para que aparecessem características distintas entre nós que poderíamos classificar como separação de raças. Pode até ser que no futuro existam classificações para determinar alguma característica bem acentuada de uma divisão natural da espécie, mas hoje não há.
Outro argumento é que como não temos atualmente nenhum povo ou sociedade isolada, isto traz uma uniformidade na reprodução e não isola a espécie impedindo uma mutação e diferenciação acentuada.
Pois é, não consigo admitir nem aceitar qualquer discriminação entre humanos pela cor, é cientificamente inconsistente, socialmente imoral, e humanamente ignorante. Não existem características diferenciadas a determinada cor, entre humanos, que possa ser catalogada e identificada. Somos totalmente iguais e não podemos, nem devemos nos separar ou diferenciar por ser preto, branco, pardo, moreno ou amarelo. Sim, “amarelo”, na minha certidão de nascimento aparece minha cor como amarelo, já ri muito disto.
Do ponto de vista sociológico, também é absurdo a discriminação racial. Separar a sociedade em raças cria caos social, cria grupos isolados, cria minorias que constantemente exigem serem ouvidas gerando tensão e discriminação entre os indivíduos sem razão aparente.
Dentre deste contexto, não posso aceitar que a constituição ou qualquer lei neste país dê, ou favoreça qualquer separação entre humanos por cor ou raça. Leis como a disponibilização de cotas universitárias para determinada raça, leis que favoreçam índios em certos concursos públicos, e etc. Se temos determinados grupos (não raças) que encontram-se excluídos da sociedade, vamos incluí-los através de políticas públicas de participação e inclusão, não institucionalizando a discriminação com leis absurdas.
As tensões sociais começam exatamente com a separação da sociedade em minorias, sejam lá quais forem. Levar esta separação as leis não me parece racional. Institucionalizar é a dar voz a elas para começarem a se unir e a se rebelar entre os diversos grupos sociais.
Discriminação racial é burrice em qualquer circunstância e devemos, como humanos dotados de alguma razão, nos rebelar contra qualquer forma de separação de grupos em cores ou raças.
Somos humanos, homo sapiens, não importa a cor, mesmo os amarelos (risos).

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Deus no Haiti

Caros, me enviaram o texto abaixo ontem por email, não sei quem escreveu, também não sei se concordo com os argumentos expostos, mas achei interessante o ponto de vista e gostaria de compartilhar com vocês este debate.
Eu fico me perguntando em porque temos países tão desenvolvidos no mundo, com qualidade de vida e etc., e outros sem a menor infra-estrutura, sem condições de prover o mínimo de condições de sobrevivência. Pode parecer cruel, mas sempre temos que escolher na vida entre Liberdade e Igualdade, esta para mim sempre foi à pergunta básica entre capitalismo e socialismo.
O capitalismo traz liberdade e isto pressupõe diferenças entre seus indivíduos, liberdade traz desigualdade, pois as possibilidades são conquistadas e não dadas, já o socialismo pressupõe igualdade, mas igualdade traz acomodação e falta de competição trazendo falta de liberdade. Esta escolha eu já fiz, quero e busco sempre a liberdade, mas cada sociedade deve ter a opção de escolher e a caminhar na direção escolhida, para isto temos a democracia, quando mais estatizamos as coisas, quanto mais aumentamos o estado, mais estamos tirando a liberdade das pessoas, pensem nisto.
As ajudas humanitárias devem ser sempre por um prazo finito, quando somos assistencialistas estamos tirando as conquistas e a força de vontade das pessoas e com isto sua liberdade.

Texto:
“O Haiti é aqui.”
Não, o Haiti é lá onde ele sempre esteve esquecido.
O Haiti é a prova irrefutável de que Deus não existe. Se ainda aquele povo insiste em glorificá-lo, é porque foi condicionado — todos somos produtos do meio, cães famintos sob vigas que não se sustentam. Foram soterrados pela esperança. Alguém em suas crendices lacrimosas há de dizer, as mãos levantadas aos céus, que, pelo menos, a cruz do Senhor Morto ficou de pé. Ficou de pé porque era feita de boa madeira, ora! Não preguemos, a partir de amanhã, o milagre da cruz. Não há milagre que não seja sustentado pela própria morte para confortar os moribundos. Talvez apenas um milagre seja recomendado ali: o da união dos outros povos para reconstruir aquele povo e soerguer sua pátria carcomida pela fome.
Naquele instante trêmulo, onde estava Deus onipresente que não respondeu aos gritos de socorro? Onde estava Deus onipotente que não freou as lágrimas...? Ah, sim, “Ele escreve certo por linhas tortas”, ou seja: Ele mata por vias indiretas.
Por mais que também soframos com o olhar soterrado da criança, jamais, em tempo algum, sentiremos em toda extensão a dor da mãe. E desta vez, nem se pode creditar à mãe África a desgraça de existir... A tragédia está à porta para uma reflexão momentânea. Daqui a pouco, as notícias vão escasseando e não choraremos mais os mortos-vivos, nem os mortos velhos.
Se Deus existisse, decerto nos ensinaria tão somente uma lição. Uma que não cobrisse de escombros a vida suave de dona Zilda, nem deixasse órfãos dois milhões de crianças. Se alguém por aí adiante ainda teima que Deus existe, Ele está justamente nessa força medonha da natureza, não no homem que a destrói, não na imagem da catedral que foi ao chão.
Assim concluo: Deus é a tragédia do universo à imagem e semelhança do homem que o inventou. Basta olharmos para o Haiti.
Autor: Desconhecido

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo VII

Texto na Integra:
VII
Enquanto isso, a tarde caíra e a praça do mercado se envolvia na sombra. Então a turba dispersou-se, pois mesmo a curiosidade e o pavor acabam por cansar. Mas Zaratustra continuou sentado no chão ao lado do morto, e, mergulhado em seus pensamentos, esqueceu-se assim do tempo que passava. Por fim, a noite veio, e um vento frio soprou sobre o solitário. Então, Zaratustra levantou-se e disse para si mesmo:
“Em verdade, Zaratustra fez hoje uma bela pesca! Não pegou um homem, mas assim mesmo um cadáver.
Angustiante é a existência humana, e, até este ponto, desprovida de sentido: um bufão pode lhe ser fatal.
Quero ensinar aos homens o sentido de seu ser: ou seja, o super-homem, raio da nuvem negra que é o homem.
Mas ainda estou longe deles, e o sentido do que falo não lhes fala ainda aos sentidos. Para eles, os homens, ainda estou a meio caminho entre o louco e o cadáver.
Sombria é à noite, sombrios são os caminhos de Zaratustra. Vem, companheiro rígido e frio! Vou levar-te ao lugar onde te sepultarei com minhas próprias mãos.”

Comentários:
Aconselho aqueles que participam do blog pela primeira vez que leiam os artigos anteriores de Zaratustra para uma melhor compreensão dos textos de Nietzsche.

Apesar dos “sombrios caminhos de Zaratustra” e de ironizar seu próprio insucesso de não convencer a multidão de seus propósitos, Zaratustra se mostra ainda mais decidido em sua peregrinação, ele quer ensinar ao homem o sentido do “ser”.
A escuridão que envolve o homem e sua existência “até este ponto, desprovida de sentido”, será revelada pela sua experiência e então irão perceber a necessidade de criar o super-homem em nós.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo VI

Texto na Integra:
VI
Mas algo então se passou que fez emudecer as bocas e arregalar os olhos. É que, nesse ínterim, o funâmbulo tinha dado início a seu trabalho: saíra de uma pequena porta e estava caminhando sobre a corda estendida entre duas torres, e consequentemente suspensa sobre a praça e a multidão. Achava-se exatamente a meio de seu percurso, quando a porta de novo abriu e nela apareceu um indivíduo todo pintado à maneira dos bufões, que se pôs a seguir o primeiro a passos largos. “Vamos, mais depressa, ó paralítico”, gritava com sua voz terrível, “anda, seu preguiçoso, seu impostor, vil aprendiz! Cuidado, que te vou pisar o calcanhar! Que fazes aqui entre as torres? Lá dentro delas é que é o teu lugar, lá deviam te encerrar para não estorvares o caminho de quem é melhor que tu!” A cada palavra mais se aproximava do outro. Quando estava a apenas um passo dele, aconteceu a coisa terrível que fez emudecer as bocas e arregalar os olhos. Deu um uivo diabólico e saltou por cima daquele que lhe impedia o caminho. Ora, este, vendo seu rival triunfar, perdeu a cabeça e a corda; largou a vara de equilíbrio, e, mais rapidamente do que esta, num rodopiar de braços e pernas, mergulhou no vazio. A praça e a multidão pareciam um mar fustigado pela tempestade. A multidão espalhou-se em atropelo, fugindo do local onde o corpo devia vir se espatifar.
Só Zaratustra permaneceu imóvel; o corpo caiu bem ao seu lado, todo disforme, mas ainda vivo. Após um momento, o homem recuperou os sentidos e viu Zaratustra ajoelhar-se junto dele. “Que fazes aqui?”, disse enfim, “Há muito que sabia que o diabo me daria uma rasteria. E agora, ele me arrasta para o inferno. Acaso podes impedi-lo?”
“Amigo, juro-te pela minha honra”, respondeu Zaratustra, “que isso de que falas não existe: não há nem diabo nem inferno. Tua alma morrerá ainda mais depressa que teu corpo. Agora já não tens o que temer!”
O homem ergueu os olhos, desconfiado. “Se dizes a verdade”, disse então, “nada perco por perder a vida. E não passo de um animal a quem ensinaram a dançar à custa de pancadas e magros bocados.”
“Não”, disse Zaratustra, “fizeste do perigo o teu ofício; não há nada de desprezível nisso. Morres vítima de tua profissão. Por isso, quero te sepultar com minhas próprias mãos.”
Depois dessas palavras de Zaratustra, o moribundo não mais respondeu; moveu apenas a mão como se procurasse a de Zaratustra para agradecer-lhe.

Comentários:

Vamos resumir um pouco o esquema montado por Nietzsche até agora:

DEUS + VONTADE DE POTÊNCIA NEGATIVA + FORÇAS REATIVAS = HOMEM
MORTE DE DEUS + VONTADE DE POTÊNCIA NEGATIVA + FORÇAS REATIVAS = ÚLTIMO HOMEM
MORTE DE DEUS + VONTADE DE POTÊNCIA AFIRMATIVA + FORÇAS ATIVAS = SUPER-HOMEM

Agora o autor vem expressar mais uma possibilidade.

MORTE DE DEUS + VONTADE DE POTÊNCIA NEGATIVA + FORÇAS ATIVAS = HOMEM SUPERIOR

Nesta possibilidade encontramos um homem sem criação de valores mas louvável pois sua moral não é apoiada por uma fé religioso. Se não tem fé não significa que não tenha leis.
Assim, nem engrandecido (como o super-homem), nem apequenado (como o último homem) pela morte de Deus, continua-se a respeitar os valores tradicionais, e, transpondo o catecismo para um código de saber-viver supostamente leigo, age-se em nome desse código.
Mas precisamos criar valores, esta é a função do homem, ou super-homem para Nietzsche, e estes valores precisam de uma vontade afirmativa, sem isto o homem sempre caminhará ao fracasso.