Platão identificava a realidade última como o que é percebido por humanos em seus momentos de máxima consciência, sendo um axioma, desde Descartes, que o conhecimento pressupõe atenção consciente. Contudo, sensação e percepção não dependem de consciência, muito menos de autoconsciência tendo em vista que elas existem por todo o reino animal e vegetal. Mesmo em seres nos quais a consciência é altamente desenvolvida, a percepção e o pensar, normalmente, acontecem sem consciência. [Importante esta parte, pouca gente percebe isto].
A maior parte do conhecimento adquirido é proveniente da percepção subliminar e as coisas que nos vem em consciência são apenas frações do que já sabemos de maneira inconsciente. Quase todos os nossos afazeres diários são realizados sem atenção consciente, nossas maiores motivações não estão no consciente e os atos mais criativos da vida da mente acontecem sem ser notados. Muito pouco do que tem conseqüência em nossas vidas requer consciência e muito do que é vital só acontece na ausência dela. [Vejam bem isto, de acordo com o autor nossa consciência não tem poder de processar nossas ações, inclusive é provado por pesquisas, portanto 99% de nossas ações são providas pelo inconsciente].
Outros animais diferem dos humanos na ausência da sensação de si mesmos a qual pode ser tanto uma deficiência quanto um poder já que a mais exímia pianista não é aquela mais consciente de seus movimentos quando está tocando e o melhor artesão pode não saber como opera.
Argumentos contra o livre-arbítrio avolumaram-se com o apoio da pesquisa científica de Benjamin Libet a qual mostrou que o impulso elétrico que inicia a ação ocorre meio segundo antes de tomarmos a decisão consciente de agir. Nós nos concebemos como deliberando sobre o que fazer e, imediatamente após, fazendo, mas, na verdade, nossas ações são iniciadas inconscientemente em quase todos os momentos de nossas vidas. O cérebro nos prepara para a ação, então temos a experiência de agir.
A conclusão da experiência neurocientífica é que não podemos ser autores de nossos atos, contudo, o responsável por esta pesquisa conservou algum livre-arbítrio através da noção de veto (capacidade da consciência de adiar ou abortar um ato que o cérebro iniciou). A questão é que nunca poderemos saber quando (ou se) exercemos o veto, tendo em vista que nossa experiência subjetiva é frequentemente, talvez sempre, ambígua. [muito legal isto, nosso livre-arbítrio apenas tem o poder de veto, bastante interessante isto, não tinha a menor noção disto]
Quando na iminência do ato, não somos capazes de predizer o que faremos, mas ao avaliarmos a decisão tomada veremos que foi “um passo num caminho ao qual já estávamos confinados”.
Consideramos nossos pensamentos como eventos que nos acontecem em alguns momentos e em outros como atos próprios sendo o sentimento de liberdade e o livre-arbítrio, consequentemente, truques de perspectiva.
Schopenhauer acreditava no caráter intrínseco e inalterável dos homens, contudo, para Gray esta idéia surge da necessidade que temos em buscar explicações para nossos atos dentro de nós mesmos.
Pensamos que nossas ações expressam nossas decisões, mas a vontade não decide quase nada em nossas vidas. Não podemos acordar ou adormecer, lembrar ou esquecer os sonhos, evocar ou banir pensamentos a partir de uma decisão nossa. [Seriam estas ações citadas realmente decisivas no curso de nossa história? Não decidimos lembrar ou esquecer, mas decidimos investir em um negócio ou não, escolhemos ciências exatas ou humanas, refletimos sobre nossas escolhas antes de decidir e trilhamos nosso caminho mesmo sem poder escolher lembrar dos nossos sonhos - Marcela]. [No entanto estas decisões correspondem a 1% ou menos de nossas ações e, portanto acabam sendo consequência das ações anteriormente executadas pelo nosso inconsciente, não acha? – Carlos].
Segundo Gray, resistimos à idéia de que nosso self consciente sofre, apenas, pequena influência da atenção consciente por este fato parecer nos privar do controle sobre nossas vidas. No entanto, isto não significa que sejamos governados por instinto ou hábito e, sim, que passamos nossas vidas lidando com as situações que nos ocorrem.
Buscamos continuidades em nossas ações, frequentemente imaginárias, porque estamos programados para perceber identidade em nós mesmos quando, na verdade, existe apenas mudança. A noção de si mesmo é um efeito colateral da falta de refinamento da consciência; a vida interior é muito sutil e transitória para ser conhecida em si mesma.
Por Marcela Costa
Comentários de Carlos: simplesmente adorei este capítulo, vale a pena comprar o livro apenas por este capítulo, todo psicólogo deveria ler, tudo muito novo para mim, mas encaixa-se perfeitamente na Teria da Seleção Natural de Darwin. Sempre tive esta ambiguidade de ideias: somos animais, no entanto não conseguia explicar a complexidade do pensamento e justamente o livre-arbítrio. Existem animais que também tem consciência de si mesmo, então o homem apenas tornou isto mais complexo. Nossa consciência se dá apenas depois de tomada as decisões, que louco isto, temos apenas o poder de veto. Acho que agora fechou o ciclo do homem, mais uma vez pode parecer pessimista esta abordagem, mas quem disse que a realidade é linda e maravilhosa, temos que aprender a viver e buscar a felicidade dentro da realidade e não vivermos na ilusão, apesar deste ultimo ser bem mais fácil e divertido. Estou escrevendo o texto prometido no artigo anterior, bem complexo o tema.
História: liga criada em 1780, por Henriette Herz na Alemanha com o propósito da virtude e produto das idéias iluministas, pregava a igualdade de todos os seres humanos. Era um local onde intelectuais se reuniam uma vez por semana para falar sobre Deus, política e sobre seus sentimentos. Re-criada em 13 de março de 2009 em Salvador, Brasil, para a expressão livre de pensamento baseada na razão.
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Na verdade não, não acho. O próprio autor coloca que não existe um controlador central das nossas ações, não há nenhum self que nos conduza. A maior parte de nossas ações, que são realizadas sem consciência, são ações banais, habituais, as grandes decisões são nossas e, sim, conscientes (com o grau de consciencia que nos é possível ter).Como explicar a vida de pessoas que escolheram um rumo e direcionaram suas vidas para alcançar suas conquistas? O sucesso de alguns deve ser atribuído ao acaso de um inconsciente que lhes conduziu bem por sorte? De certa forma é fácil tirar a responsabilidade de autoria sobre nossa história dos nossos próprios ombros (apesar de ser difícil não recolocá-la em local algum). A idéia de que não decidimos o pricipal em nossas vidas nos coloca como marionetes manipuladas por ninguém. Não é uma idéia possível de ser aceita.
ResponderExcluirEm primeiro lugar, quando você diz que alguma ideia é dificil de aceitar, você está colocando seus preconceitos no lugar da razão e acaba perdendo o argumento. Qualquer ideia é possivel de ser aceita se é fundamentada, e devemos ter a mente aberta para isto.
ResponderExcluirO texto fala justamente nisto que comentou, que as maiores decisões são nossas, concordo com você, no entanto não temos o total livre arbítrio dela, que já nossas decisões são montadas atraves das limitações da percepção de nosso inconsciente, ou seja, não foi tomada por algum "eu", e sim por um ser humano limitado, através das percepções inerentes a espécie humana.
Sei que díficil aceitar isto, mas até as decisões mais individuais estão carregadas de cultura, geografia, história, e todas as interações com o meio que formaram nosso inconsciente até aquele momento, então não são tão individuais como achamos.
Nossa razão nos coloca no papel de conscientes de nossas ações, onde 99% das vezes acontece posteriormente, mas não perdemos e não vamos perder nossa condição de animais determinados pelo meio e por nossas limitações imputadas pelo mesmo. Sorry.
Podemos discutir isto novamente, adoro este assunto. Perceba que o sucesso de alguem não é determinado por um "eu" e sim por algum modelo de cultura, existe total influencia do meio para com isto.