Neste capítulo o autor questiona a idéia de que a “consciência, noção de si e livre-arbítrio são o que nos define como seres humanos” sendo que, segundo Gray, controlamos muito pouco do que mais prezamos e muitas das nossas decisões mais importantes são tomadas sem nosso conhecimento. Para ele, o domínio consciente da própria existência é algo inalcançável para os indivíduos, logo inviável para a humanidade.
Ao passo que classifica como irracionais as crenças sobrepujantes em Deus e na humanidade, lança o questionamento sobre qual sentido daremos às nossas vidas caso estejamos dispostos a abdicar das esperanças do cristianismo e do humanismo, mesmo sendo estas esperanças vazias.
Segundo Schopenhauer, principal pólo questionador citado neste capítulo, a filosofia era governada por preconceitos cristãos e o Iluminismo foi apenas uma versão secular do principal equívoco do cristianismo : a idéia de que somos bem diferentes dos outros animais. Para este filósofo, somos iguais a todos os outros animais, no íntimo, a individualidade não passa de uma ilusão e, assim como os outros animais, somos encarnações de uma Vontade Universal – energia [supostamente] responsável por dar vida a todas as coisas no mundo.
Davi Humer, filósofo escocês do século XVIII, também questionou a capacidade humana de ter consciência de si e do mundo argumentando que ao olharmos para dentro de nós mesmos veremos apenas feixes de sensações. Como saber, deste modo, o que é real se só podemos conhecer os fenômenos que a experiência nos propicia?
Jomhn Gray afirma que grande parte dos filósofos trabalhou para dar sustentação ás crenças de seu tempo, Schopenhauer foi uma exceção. Aceitando a idéia de que o mundo é incognoscível, conclui que tanto o mundo quanto o homem que imagina conhecê-lo fazem parte de uma espécie de sonho, sem nenhuma base na realidade.
Se para Kant apenas poderemos dar sentido á nossa experiência moral quando acreditarmos que somos um self autônomo e dotado de vontade livre, para Schopenhauer nossa experiência real consiste em estarmos sendo levados por necessidades corporais, como medo, fome e, principalmente, sexo. De acordo com este, o sexo “é o fim último de quase todo esforço humano.”
“Gostamos de pensar que a razão guia nossas vidas, mas a própria razão é apenas a atormentada serva da vontade. Nossos intelectos não são observadores imparciais do mundo mas particularmente ativos. A imagem que moldam dele nos ajuda em nossas dificuldades.”
Para Gray, se deixarmos para trás o cristianismo, temos que desistir da idéia de que a história humana tem algum significado. Se acreditarmos que os humanos são animais, não pode haver algo como a história da humanidade, apenas vidas de humanos particulares. [Não é contraditório afirmar que a individualidade é uma ilusão e a história coletiva não existe? Se não somos seres individuais e também não fazemos parte de um grupo -humanidade- o que somos afinal?]
A idéia de que a história tem que fazer algum sentido é apenas um preconceito cristão. Buscar significado na história é como buscar padrões nas nuvens. Nenhuma vida humana, ou de qualquer outro animal, tem significado que vá além de si mesma.
Filósofos de Platão a Hegel interpretaram o mundo como um espelho do pensamento humano enquanto, mais recentemente, Heiddeger e Wittgenstein afirmaram que o mundo, na verdade, é uma construção do pensamento. Estas duas idéias diferem pouco entre si e da mais antiga das filosofias – o Idealismo. Para os idealistas o pensamento é a realidade final e não há nada que seja independente da mente, o que significa que o mundo é uma invenção humana.
Por Marcela Costa
Comentários de Marcela: Se cada ser humano tem sua visão parcial do mundo a partir do conhecimento adquirido de experiências particulares, então não existe uma realidade universal. Não há uma verdade e sim várias verdades, cada uma tão verdadeira quanto as outras. Caberia, deste modo, a cada ser humano buscar sua verdade através da consciência de si que lhe seja possível alcançar.
Comentários de Carlos: é realmente muito difícil aceitar o óbvio, incrível como não conseguimos nos enxergar como meros e apenas animais. Surgiu a pergunta: o que somos afinal? Somos animais, criativos mas extremamente predadores e destruidores, e como animais seguimos a lei da seleção natural como qualquer outro ser vivo, portanto não temos livre-arbítrio em 99% de nossas ações (no próximo artigo será melhor explicado). O significado de nossas vidas é ela mesma, não tem mais nada depois. O homem não consegue se ver assim, a filosofia também não consegue isto, nenhum filósofo admitiu esta possibilidade, apesar de estar diante deles. Meu favorito Nietzsche por exemplo, chegou perto, mas criou a figura do super-homem e assim caiu no mesmo abismo que os outros. Não vejo isto com pessimismo, existem coisas maravilhosas que podemos fazer em nossas vida quando realmente temos consciência que ela é única, e vou tentar demonstrar isto no próximo artigo que estou começando a escrever: Realidade x Ilusão: em busca da felicidade.
História: liga criada em 1780, por Henriette Herz na Alemanha com o propósito da virtude e produto das idéias iluministas, pregava a igualdade de todos os seres humanos. Era um local onde intelectuais se reuniam uma vez por semana para falar sobre Deus, política e sobre seus sentimentos. Re-criada em 13 de março de 2009 em Salvador, Brasil, para a expressão livre de pensamento baseada na razão.
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