quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cachorros de Palha – Capítulo 4: O não-salvado

A idéia de pecado e redenção surgiu com o cristianismo, fundamentando esta crença e destacando-se no centro dos ensinamentos de Jesus. Afinal, se não formos pecadores, não precisaremos ser redimidos e a promessa cristã de redenção não aliviaria nossas dores.
Os humanos pensam que são seres livres, conscientes, mas são, na verdade, animais enganados. Ao mesmo tempo nunca cansam de tentar escapar do que imaginam ser, pois suas religiões são tentativas de livrar-se de uma liberdade que nunca possuíram. [O que torna o homem um ser não livre? A pouca consciência de si? Talvez o conceito aqui empregado para liberdade esteja errado. O homem é capaz de decidir sobre seus caminhos mesmo que em poucos e fugazes momentos de consciência e qualquer outro modelo de liberdade que não o experimentado pelo humano é teórico. Nossa liberdade é limitada em relação a que parâmetro? O engano deve estar no conceito.]
A média da humanidade leva seus salvadores muito pouco á sério para precisar deles e quando os buscam é por distração, não salvação.
Como o cristianismo no passado, o moderno culto da ciência vive da espera de milagres (fim da velhice, das doenças, da finitude da espécie humana), contudo, mesmo trazendo benefícios, a ciência trará também prejuízos (aperfeiçoamento da arte da guerra e refinamento da tirania), não restando “salvação” para a humanidade.
Segundo Gray, é raro indivíduos valorizarem sua liberdade mais do que o conforto que vem da subserviência, e mais raro ainda que povos inteiros o façam. [Carlos: percebam a profundidade desta afirmação, as pessoas preferem viver na ilusão que enxergarem a realidade]
O ateísmo é fruto da paixão cristã pela verdade. Nenhum pagão está pronto para sacrificar o prazer da vida em troca de mera verdade. Entre os gregos, a meta da filosofia era a felicidade ou a salvação, não a verdade. A adoração da verdade é um culto cristão. Deste modo, o cristianismo atingiu a tolerância pagã à ilusão, e ao sustentar que existe uma única fé verdadeira, deu à verdade um valor nunca antes atribuído, tornando possível, pela primeira vez, a descrença no divino. A consequência de efeito tardio da fé cristã foi uma idolatria da verdade que teve sua mais complexa expressão no ateísmo. Se hoje vivemos em um mundo sem deuses devemos ao cristianismo. [Carlos: que critica bem feita, sempre busquei a verdade, John tem destruído muito de meus conceitos]
Por que outros animais não buscam libertar-se do sofrimento? Será porque ninguém lhes disse que tem que viver novamente? Ou será porque, sem precisar pensar nisto, sabem que não viverão? Para aqueles que se sabem mortais, o que Buda buscava está sempre á mão (mortalidade e não ter que viver de novo). Já que a salvação já está assegurada, por que nos negamos o prazer da vida? [Marcela: Realmente incompreensível] [Carlos: não achei, o que o autor quer demonstrar é que a expectativa de uma vida após a morte traz sofrimento e angustia, por não sabermos o que nos espera, se vivêssemos sabendo de nossa finitude, teríamos muito mais prazer]
A verdade não é que tememos o passar do tempo porque conhecemos a morte, tememos a morte porque resistimos ao passar do tempo. Se outros animais não temem a morte como nós não é porque sabemos algo que eles não sabem, é porque não estão oprimidos pelo tempo. [Marcela: Como saber o que passa no íntimo dos outros animais se ainda não estabelecemos uma comunicação eficiente com eles? O autor, ao meu ver, interiorizou de maneira extrema o culto á sua própria verdade. Opinião não é sinônimo de verdade.] [Carlos: Marcela não resista a dialogar com o autor entre no mundo dele primeiro, é claro que o animais não sofrem com a morte natural – não estamos falando da morte acidental aqui - 99% deles não tem consciência de sua existência, precisamos conversar com eles para perceber isto?]

Comentário (Marcela): Acredito que os homens que buscam a fé em salvadores não o fazem por diversão e sim pelo conforto de transferir a responsabilidade pelo que acontece em suas vidas, aliviando-se deste “peso”. Ou buscam a fé para consolar-se de dores irreversíveis, tendo em vista o pesado fardo da mão única do tempo, como o próprio autor coloca “O tecido de nossas vidas é feito de atos irrecuperáveis e atos inalteráveis...”
Além disso, nascer sabendo que a morte é o fim certo é algo que nós humanos temos dificuldade em lidar. A idéia de vida eterna é aconchegante e tranquilizadora (bom para os que acreditam e péssimo para os que deixam de viver plenamente esta vida que conhecemos para viver outra que ninguém tem certeza). O argumento de que os animais não temem a morte é falso, eles temem a morte iminente e manifestam seu medo reconhecidamente. Não somos os únicos animais que temem o desconhecido.

Comentário (Carlos): a fé alivia mesmo o “peso” da existência, mas somente para os fracos, enxergar uma vida finita é muito mais confortável, acabamos com a espera e a ansiedade de uma vida melhor depois e passamos a viver como se cada momento fosse único e irrecuperável. Isto faz o homem viver para executar as coisas aqui e agora e o torna um ser muito mais feliz e realizador.
Desculpem-me mas não consigo ver benefícios a longo prazo para a religião, ela até pode trazer um conforto no curto prazo, mas ao longo da vida ela escraviza, manipula e domina as ações humana individuais para algo coletivo e ilusório.
Precisamos entender que não importa se teremos vida após a morte ou não, se Deus não está aqui e agora nos falando o que fazer é por que isto não é importante, se ele realmente existir quer que vivamos nossas vidas sem ele. Vivendo assim, o homem traz o paraíso eterno para o presente e vive sua vida de forma completa. Só vejo benefícios em imaginar uma vida finita, no entanto vale e muito esta discussão.
Sempre digo: "Se houver outra vida depois, será lucro"

3 comentários:

  1. O que eu disse ser "realmente incompreensivel" é abdicar de desfrutar desta vida para "garantir" uma outra que ninguém sabe se existe verdadeiramente.Compreendi o que o autor quis dizer, você que não entendeu minha observação.
    A crítica sobre as afirmações quanto ao não sofrimento dos animais tem muito mais haver com minha discordância do autor quanto a sua postura pessimista em relação à humanidade.As colocações de Gray posicionam sempre a espécie humana como inferior às outras, diferindo das demais apenas pelos terríveis defeitos humanos.
    Não nego o diálogo. Recuso apenas a arrogância com a qual os argumentos são expostos,tanto pelo autor quanto por você, ao analisar a humanidade como se vocês fossem diferentes de todos os outros pobres mortais e os únicos capazes de enxergar a verdade. O autor critica os maiores filósofos da história humana e impõe sua verdade com uma superioridade incompatível com as críticas que faz á nossa espécie. A humildade não está em igualar-se aos outros animais e sim aos outros seres de sua espécie. Vocês não são os únicos seres humanos inteligentes deste planeta.

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  2. A liberdade do homem está dentro dele, em si próprio.

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  3. Você quem está dizendo. Para John não existe esta liberdade, não está lendo os textos? não existe "eu".

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