Como tema
inesgotável que é, o amor reaparece aqui sob outro olhar e, diante de novas argumentações
e reflexões, permito-me contradizer minhas próprias afirmações em outra
publicação.
Identificamos
como elemento diferenciador entre o amor e a paixão a idealização do ser amado originada
através da deturpação dos sentidos provocada pela paixão, sendo esta ilusão a
principal implicada no caráter conhecidamente efêmero da paixão. O amor, então,
é tido como um sentimento mais duradouro por ter suas fundações bem
estabelecidas no conhecimento aprofundado do outro, certo? Errado.
É certo que
o amor nos permite enxergar além da paixão mas todo relacionamento é baseado em idealizações
e decepções. Como Nietzsche constatou e não há como negar: idealizar é um vício
humano. A duração do sentimento ou do relacionamento vai depender da capacidade
dos indivíduos resgatarem os ideais criados no início para amenizar os efeitos
das decepções inevitáveis ao convívio.
Somos seres
mutáveis, em cada etapa da vida encontramos características que não
reconhecíamos em nós mesmos há tempos atrás. Como os sentimentos podem ser
conservados intactos ao longo dos anos? Simplesmente impossível. Nossos
sentimentos mudam conosco, amadurecem (ou não). Assim sendo, como é possível
manter um bom relacionamento amoroso por anos? Através da memória afetiva que nos
permite revisitar o sentimento original e as idealizações construídas
inicialmente. Além da capacidade de adaptação do casal às novas demandas
individuais em cada fase, obviamente.
Não pretendo
aqui desacreditar o amor, apenas valorizar a marginalizada ilusão, pois, para
aqueles que desejam um longo e bom relacionamento a dois, este ingrediente
torna-se indispensável. Segundo Freud, a ilusão pode ser um elemento de
alienação ou de estruturação nos relacionamentos amorosos. Fiquemos com a
segunda opção.
O amor
proposto por Nietzsche, despido de qualquer idealismo romântico, natural, cru e
cruel, elimina qualquer possibilidade de felicidade proveniente do
relacionamento amoroso, assim fadado ao trágico. Contudo, o próprio Nietzsche
coloca, em uma de suas conhecidas frases, um pouco de equilíbrio entre razão e
emoção ao referir-se ao amor: “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre
um pouco de razão na loucura.”
Somos seres
racionais mas não apenas isto, somos também seres emocionais. Utilizemos a
racionalidade ao máximo, inclusive para decidirmos o momento de silenciá-la
dando vazão à ilusão necessária.
Interessante o ponto de vista que foi apresentado no seu escrito, contudo, o trecho:" Como Nietzsche constatou e não há como negar: idealizar é um vício humano." para mim causou certa estranheza porque a constatacão de Nietzsche não é um áxioma ou um dogma. Assim, isso me distanciou um pouco de sua mensagem que é interessante. Justifico dessa forma, minha preocupacão de escrever aqui. Lembrancas
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