Estamos assistindo o ultimo suspiro desta celebração milenar, será o ultimo casamento importante da história humana. Casamento não faz e não fará mais parte do cotidiano humano, isto é positivo? É negativo? Vamos por partes.
Quando estudamos a história da união humana entre um homem e uma mulher, o casamento, percebemos que suas bases não têm mais sustentação. Suas causas não permaneceram durante os séculos e está afetando há décadas esta união.
Porque as pessoas se uniam em família? Primeiramente porque a mulher não era capaz de cuidar sozinha de sua cria por 10 anos seguidos (tempo médio de proteção para a prole humana), então buscava no convívio social a segurança e suporte necessário para sua sobrevivência. Temos vários exemplos de tribos indígenas que não tinham parceiras fixas, ou famílias, estas uniões começaram com a convivência com os povos europeus. Portanto não nascemos com o dever ou compromisso natural para viver em família, para mim isto é bem claro, podemos criar nossos filhos com ajuda de outros membros da sociedade e não somente com a mãe ou o pai deles.
O casamento foi criado para transferências de patrimônio através das crias, seu inicio decorre do começo da divisão humana em sociedade e do estabelecimento da propriedade privada. Com isto bens que eram públicos passaram a ser privados ou individuais, portanto precisavam ser preservados e consequentemente herdados. A função básica, do casamento, neste início, era gerar herdeiros e uniões onde seriam preservados os patrimônios familiares, percebemos isto ainda hoje em várias sociedades orientais. A mulher era uma mera mercadoria, ela apenas servia de troca ou de contrapartida para que as heranças fossem transferidas para a próxima geração.
Não existiam sentimentos envolvidos no casamento, ninguém, ou quase ninguém, casava-se por amor, por carinho, por paixão ou por qualquer outro sentimento. É difícil pensarmos assim hoje, mas as sociedades não valorizavam isto. Já falei antes aqui no blog, o sentimento de amor entre um homem e uma mulher começou com o romantismo europeu, não temos literatura de “Amor” antes deste período na história humana. Pessoas se uniam para procriar e para transferir e manter seus pertences.
Casamento era uma imposição social, quem não era casado não participava de festas, comemorações e baquetes, o casamento era uma instituição básica da sociedade e por isto quem não era casado não participa dela.
Um ser sem obrigações e livre era perigoso demais para a ordem vigente na época, um ser sem família podia fazer qualquer coisa, uma revolta, questionar leis, impor vontades, criar uma revolução, duvidar de Deus, ele simplesmente não tinha com o quer se preocupar, por isto até hoje são os jovens que iniciam as revoltas, eles não tem família para se preocupar, são livres para arriscar suas vidas e não têm nada a perder. Que perigo para a classe dominante. Por isto a religião estimulou e estimula à família, um ser familiar é um ser mais fácil de domar, mais fácil de convencimento, mais propenso a aceitar a ordem vigente das coisas, pois sua maior prioridade é a sobrevivência da prole. Ele não podia se revoltar contra nada.
A religião se utilizou desta ferramenta de opressão das vontades individuais em nome da família por séculos e ainda usa hoje, incrível como não percebemos isto. Quem disse que a família é importante: Deus? A sociedade? Seus amigos? Sua família? Pode até ser, mas não foi você com certeza, não foi por vontade própria que escolhemos este caminho, foi por imposição social, poderíamos ter filhos sem uniões conjugais, poderíamos fazer quase tudo em nossas vidas sem casamento, como sempre fizemos antes na história humana. Filhos não são consequências de casamentos bem sucedidos, isto também foi inserido em nós pela sociedade e pela religião. Também nossa velhice, muitos colocam no casamento aquela sensação de não envelhecer sozinhos, mas temos nossos amigos, temos toda a sociedade a nossa volta com todos seus recursos, sejam gratuitos ou não. No Japão as pessoas são respeitadas e convivem bem com sua comunidade até a morte, são importantes e tem funções até o fim.
Alguém poderia dizer que a razão mudou, agora casa-se por amor, neste caso temos um problema, amor é algo com várias definições e muito volátil. Se realmente os casamentos, de agora em diante, forem baseados no amor, então serão breves e com bastantes turbulências. Poucos serão capazes de mantê-lo por muito tempo. Amor não gera compromisso, gera conveniência, podemos amar vários parceiros numa vida, e portanto o casamento “para sempre” será cada vez mais raro.
Não quero acabar com o casamento, ele já acabou, as bases para sua sobrevivência vem sendo derrubadas há séculos e afirmo que atingiu seu ápice neste ponto, no casamento real inglês. Começaremos a ver uma diminuição destas uniões e consequentemente o fim delas no futuro. Não precisamos mais de uma família para transferir heranças, as mulheres já trabalham e tem condições de viverem sem os homens, alias não precisam deles nem mais para procriar. O dinheiro traz segurança nas sociedades moderna, ou seja, mulheres não precisam mais de homens para cuidar da prole, casamento não é mais uma imposição social, ele é agora apenas fantasia no imaginário popular, como o teatro, alias todo este casamento inglês não parece um teatro, tudo tão ensaiado e lindo, palco, atores, segurança, roupas, pacote completo.
Viva a fantasia teatral do casamento, somente assim mesmo para lembrarmos daquele tempo remoto e perceber que não precisamos mais dele. Viva os relacionamentos sinceros, cheios de paixão e que não vivem num mundo fantasioso, o mundo real é bem mais complicado. Sem amarras, os relacionamentos precisarão se reinventar a cada momento, desafios a cada dia e um parceiro para reconquistar a cada instante.
Bem vindo ao mundo real
História: liga criada em 1780, por Henriette Herz na Alemanha com o propósito da virtude e produto das idéias iluministas, pregava a igualdade de todos os seres humanos. Era um local onde intelectuais se reuniam uma vez por semana para falar sobre Deus, política e sobre seus sentimentos. Re-criada em 13 de março de 2009 em Salvador, Brasil, para a expressão livre de pensamento baseada na razão.
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Começando pelo fim do texto, concordo que os relacionamentos de hoje precisam ser reinventados para se manterem e este é o grande desafio, reconquistar continuamente o mesmo parceiro. Conquistar novos parceiros é a decisão mais fácil, assim como a acomodação, difícil mesmo é manter-se interessado e interessante aos olhos do "antigo" companheiro, já que não existe mais a obrigação de permanecer juntos e casados. Poucos conseguem, é verdade, o que não transforma esta possibilidade em impossibilidade.
ResponderExcluirSem dúvida o casamento hoje tem muito menos importância do que já teve um dia para a sociedade e ainda está cercado de conveniências e interesses. Contudo, hoje nos é dado o direito de escolha, casar com o parceiro escolhido ou não, o que torna a decisão do casamento muito mais significativa. Se não há obrigação, o casamento torna-se muito mais belo, por originar-se de uma livre escolha. Duas pessoas que decidem, simplesmente, viver juntas. Se o amor não for eterno que mal há? Poucas coisas nesta vida o são. Inclusive, o fato de não haver relatos antigos sobre o amor romântico não significa que ele não existisse. E mesmo que seja uma invenção humana, que diferença faz ao amante? Certamente quem ama concordará que o amor (se for)é uma das melhores invenções do homem.
Rapaz, começei a escrever um comentário para este texto que acabou virando outro texto, assim achei melhor postar no meu blog. Dar uma lida depois e comenta, é claro.
ResponderExcluirhttp://lucasmacedoadv.blogspot.com/2011/05/mundo-real-x-casamento-real.html
abraço
Lucas