quarta-feira, 23 de março de 2011

Sobre Amor e Paixão

O que é o amor? Certamente, a grande maioria das pessoas tem uma resposta para esta pergunta baseada em experiências pessoais e idéias próprias. Mas o que dizem os especialista a respeito deste assunto? (Sim, existem muitos estudiosos sobre o amor e a paixão além de experimentos científicos para auxiliar no desvendar destes sentimentos).
Buscando respostas, encontrei contradições e deparei-me com a inexistência de um consenso. Inclusive, há pesquisadores que tratam amor e paixão como um mesmo sentimento. Particularmente, descordo desta idéia.
A paixão é o resultado de uma "descompensação" de neurotransmissores: elevação de dopamina e/ou noradrenalina (responsáveis pela excitação - todos os principais vícios estão associados com elevação de dopamina) e redução da serotonina ( neurotransmissor do prazer). A porção do cérebro responsável pelo desejo de recompensa é ativado, por isso, a pessoa apaixonada torna-se obcessiva por sua recompensa (aquela pessoa que eleva seus níveis de serotonina). Por esta razão, a paixão é tratada também como uma obsessão por alguns autores.
Um estudo visando avaliar o cérebro dos apaixonados, comparou as atividades cerebrais de pessoas saudáveis que não estavam apaixonadas, apaixonados confessos e pacientes portadores de transtorno obsessivo-compulsivo, e descobriram que os dois últimos grupos apresentam alterações semelhantes na atividade cerebral.
Apesar da definição não ser consenso, todos concordam que a paixão tem prazo de validade (por volta de 2 anos), que é responsável pelo distanciamento da razão e turvação da visão, pois, só quando a euforia da paixão abranda o (ex)apaixonado consegue realmente enxergar o outro. Quem nunca ouviu: "ele(a) não era assim quando o/a conheci"? Não se encontra controvérsias, também, quanto à paixão ser involuntária e incontrolável.
Para os estudiosos que separam esses sentimentos, só após o fim da paixão pode surgir amor verdadeiro mas este não depende de paixão prévia para acontecer. Outras divergências surgem quanto ao caráter volitivo ou involuntário do amor. Para alguns, o amor é uma escolha inconsciente pois, por mais que se identifique algo no jeito de ser, de sorrir ou na aparência do amado que agrade, nada disto explica a origem do amor. Outros autores assumem que o amor é uma escolha consciente, reunindo razão e emoção.Contudo, esta visão limita-se aos casais que, após o fim da paixão, decidem construir o amor, não abrangendo o amor que surge sem o estágio da paixão.
A paixão é um evento fadado ao fracasso. Uma fixação por um ser perfeito criado pela ilusão romântica e com prazo para expirar. Alguns autores afirmam tratar-se de um instinto natural humano na busca de parceiros para a cópula e manutenção da espécie, tendo em vista os estímulos sexuais intensos provocados por uma paixão.
O amor não nos priva da razão nem da visão plena, talvez aí esteja o segredo de sua maior longevidade. Conhecemos os defeitos do outro (e ainda assim amamos), não somos enganados pela fantasia de perfeição, não há o desejo de fundir dois seres em um (uma das maiores frustações dos apaixonados) pois olhamos o outro em sua individualidade e encontramos razões para amá-lo (mesmo que não justifiquem o surgimento do amor).
Acredito que a razão nos permite selecionar critérios mínimos para nos interessarmos por alguém mas o amor não depende só disso. Mesmo sem a euforia e a obsessão da paixão, o amor também tem a sua química, a química, ainda misteriosa, da compatibilidade. Dentre muitas explicações relativas ao amor e à paixão, não é possível encontrar nenhuma que ajude a entender porque uma pessoa é a "escolhida" entre tantas outras. Muitas pessoas podem atender aos nossos critérios racionais de escolha de parceiros, contudo, só aquela pessoa desperta a vontade persistente de estar perto e mesmo certos de que podemos viver bem sem sua presença, a certeza é de que a vida pode ser bem melhor ao seu lado. Ainda não há explicação para esta escolha.
Concordo com a teoria do amor involuntário, assim como a paixão, mas ao assumirmos o amor podemos deixar de ser objetos para nos tornarmos sujeitos de nossas histórias.
"...o amor é indissociável de um certo não-saber. Apresenta-se como um enigma e nunca se deixa decifrar totalmente." - Betty Milan

6 comentários:

  1. Gostei muito do texto.
    Acho que a paixão é pura instinto e faz parte da natureza humana, necessário a preservação da espécie, muito bem colocado. No entanto acho que somos iludidos por esta palavra "Amor", na verdade acho que este sentimento não existe de jeito que imaginamos, amor nada mas é que se sentir bem ao lado de outra pessoa, nada mais que isto, é importante na manutenção das relações sociais.
    A paixão sim é forte, mas temporária.
    Vamos estudar mais o Amor, como não temos relatos históricos sobre este sentimento, não encontramos literatura sobre o amor romantico antes do romantismo europeu. Então acho que é um modismo deste momento social que pode acabar num próximo.
    Muito bom.

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  2. O texto é muito bom! Logo vi que foi escrito por uma mulher. Só as mulheres conseguem falar sobre os sentimentos ou, na verdade, vivem em constante busca. Que mulher não sonha em casar com seu príncipe encantado, que vai ficar ao seu lado sempre e nunca vai traí-la? A paixão é uma confusão de sentimentos, que te deixa em extrema felicidade e ao mesmo tempo te deixa angustiado. É viver em euforia e quando acaba para um dos 2 é como se fosse a morte para a pessoa. O amor é calmo, é vc olhar para a pessoa e saber oq ela está pensando, é saber ficar em silêncio e não se sentir amargurado, é querer que a pessoa seja feliz, mesmo que sem você. O amor é uma grandeza, a gente dá sem querer nada em troca, você simplesmente ama aquela pessoa e ponto. A paixão não, a gente quer a mesma intensidade, a mesma loucura, ciúme e pode matar. Mas quem não gosta de estar apaixonado??

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  3. Carlos, apesar de crer que o amor é involuntário, acredito que somos capazes de atribuir intensidade e dimensão aos nosso sentimentos. Se uma pessoa acredita que seu amor ou sua dor são incontroláveis, assim será, do mesmo modo, se você quer acreditar que o amor é só um bem estar ao lado de alguém, possivelmente você conseguirá, ou quem sabe, a vida não lhe surpreende (genericamente falando,rs). Beijos

    Anônimo, obrigada. Gostei e concordo com suas definições de amor e paixão, só acho que príncipe encantado está meio fora de moda (rs). Acredito que as mulheres modernas que trabalham e gostam de sua independência não querem mais "carruagem e castelo", querem parceria, incentivo e estímulo para um crescimento pessoal e conjunto.Claro que as ilusões sobre casamento e família ainda existem, contudo, creio que estamos cada vez mais próximas de desejos menos fantasiosos e mais realistas.Quanto à paixão, sinceramente "eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida..." rs. Abraço

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  4. Excelente texto! Não concordo que o amor seja involuntário, assim como é a paixão. Amor é algo que pode ser, e frequentemente é, construído.

    Uma criança que acaba de nascer não tem amor por sua mãe e muito menos por outros membros da sua família. Ela desenvolve esse sentimento a partir do contato oferecido por seus cuidadores e o afeto vai gradualmente se estebelecendo até que se torne amor!

    Amamos estranhos e desenvolvemos amizades, amamos amigos e desenvolvemos relacionamentos amorosos, amamos aqueles que nos cativam de algum modo, com suas qualidades e principalmente seus defeitos. Aceitamos aceitar esses últimos e por ser algo que podemos construir, o amor tem maiores chances de sobreviver do que a paixão.

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  5. Concordo que o amor pode ser construído com a convivência, e assim como tudo que pode ser, pode também não ser. Considero o amor involuntário porque não podemos escolher quem nem decidir quando amar alguém.Mesmo a criança que nasce sem amor e constrói este sentimento em família, ela não o faz voluntariamente.O amor acontece ou não. Prova disto é que o amor entre pais e filhos é uma constante mas não uma regra, mesmo havendo convivência.

    Única exceção à involuntariedade do amor, para mim, são os homens e mulheres que decidem ser pais. Ao decidir ter um filho, normalmente, já se decidiu previamente amá-lo incondicionalmente, independente do sexo, da personalidade ou do caráter (até porque nada disto ainda é conhecido). O amor é "criado" antes mesmo do nascimento da criança e o convívio concretiza o sentimento.

    Este é mesmo um tema inesgotável!

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  6. Hummm... Continuo discordando, pelo menos da parte inicial, mas aí só pessoalmente! rss

    Concordo certamente, que se trata de um tema inesgotável!

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