Há algum tempo tenho pensado em escrever um artigo sobre este tema, muitos têm me questionado sobre como tem sido minhas experiências em ambos os casos. Todos temos opiniões sobre este tema, já que faz parte da vida cotidiana e moderna a passagem habitual entre estes dois estados.
Não pretendo aqui repetir a mesma ladainha de sempre sobre o tema, pretendo tentar ir um pouco além das analises de botequim.
O homem é um animal, um mamífero, somos da mesma linhagem animal dos símios. Como mamíferos temos a necessidade natural de convivência em grupo, todos os mamíferos precisam dos pais por um tempo médio maior que outros gêneros animais. Isto decorre da nossa necessidade de amamentação, alimentação diária, proteção, entre outros. Quando crias, precisamos ser amamentados e nesta fase precisamos dos pais para quase tudo, uma criança humana não pode sobreviver sozinho nem por um dia. Também não temos capacidade de nos alimentarmos sozinho, o homem não tem armas naturais para caçar, nossos membros não são desenvolvidos para este propósito e sem falar em proteção, precisamos conviver em grupo para dividirmos as tarefas de proteção e alimentação.
Com isto, averiguamos a necessidade humana de conviver em grupo e assim desenvolver as características afetivas que temos. Podem perceber que os mamíferos, em geral, desenvolvem laços afetivos muito maiores que outros grupos de animais.
Dentro deste contexto, vejo como natural a união dos humanos em grupo, família ou casais, apesar deste ultimo ser muito mais uma característica desenvolvida pela cultura e religiões, que propriamente da natureza da espécie. No entanto me parece mais coerente vivermos em família que sozinhos ou em grupos maiores. Quanto menor o grupo a que pertencemos mais afetividade e mais proteção recebemos e o homem tem uma necessidade grande de proteção, precisamos nos sentir protegidos o tempo todo para conquistarmos a felicidade
Ora, então parece que pessoas que vivem solteiras ou sozinhas estão indo contra a tendência natural da espécie? Percebe-se que nosso sistema econômico e de governo atual, influenciou em muito nossa cultura e nossa forma de enxergar o mundo nos últimos dois séculos, principalmente após a segunda guerra mundial que trouxe uma aparente sensação de paz e prosperidade no mundo ocidental a partir desta data. Conquistamos as necessidades básicas de alimentação e de moradia, pelo menos para parte da população, mesmo que ainda pequena, hoje é muito maior que na idade média. Para esta classe média, alimentação e proteção não são mais problemas, aquela necessidade natural foi suprida e outras necessidades começaram a surgir.
O homem começou a se diferenciar pela competência individual, cada um passou a ser responsável pelas suas decisões. O grau de sucesso no capitalismo é medido pela diferenciação e pela capacidade individual de fazer mais que o outro. Criaram-se assim indivíduos que não precisam mais de proteção familiar. A mudança do bem do grupo para o bem individual trouxe muitas mudanças culturais e refletem a forma de viver do homem atual.
Ser solteiro é ser responsável por você mesmo, é fugir, também, do conceito: nascer - estudar – trabalhar – criar filhos – morrer. Os solteiros, em geral, saem um pouco deste padrão, eles querem conhecer lugares, ter mais amigos, descobrir o mundo.
Não estou defendendo os solteiros, nem tampouco os casados, acho que ambos têm seu lugar, quero aqui é criar um novo padrão, o Funeiro (junção da palavra em inglês “fun” com companheiro).
Esta classe seria formada por pessoas que gostem de ter relacionamentos com o outro sexo mais não querem deixar de descobrir o mundo. Nesta classe as pessoas se uniram apenas por quererem muito compartilhar experiências, conhecimentos, carinhos e sexo de forma completa. Cada um teria sua própria vida, suas individualidade, suas experiências, mas também compartilhariam as experiências do parceiro. Teriam sim, que ter muitas afinidades, mas poderiam aumentar suas capacidades individuais de experimentar e de descobrir novas potencialidades.
Os casais somente estariam juntos para viver a vida intensamente, sem obrigações, sem casamentos, sem filhos, sem buscar suprir necessidades e proteção nos outros, sem carências, sem compartilhar a vida financeira.
Poderiam viver num mesmo teto ou não (bem que dormir juntinho é bom demais), poderiam dividir a vida financeira, mas cada um precisa ter seu controle financeiro, viver junto não é dividir patrimônio (este conceito é de séculos atrás, quando o casamento era apenas para unir famílias). O interessante é que a convivência precisa ser livre, sem compromissos ou formalidades.
Estaríamos juntos apenas para vivermos intensamente nossas experiências e buscas. Seria um mix entre os solteiros e os casados, tentando unir o lado bom de cada.
Bem, já falei demais, podemos juntos pensar melhor nesta próxima etapa de convivência humana. Tragam-me mais idéias de como poderia ser os Funeiros. Vamos criar um novo mundo juntos.
Obs: se não gostaram do nome, me dêem alternativas, rs.
História: liga criada em 1780, por Henriette Herz na Alemanha com o propósito da virtude e produto das idéias iluministas, pregava a igualdade de todos os seres humanos. Era um local onde intelectuais se reuniam uma vez por semana para falar sobre Deus, política e sobre seus sentimentos. Re-criada em 13 de março de 2009 em Salvador, Brasil, para a expressão livre de pensamento baseada na razão.
O termo "funeiro" de algum modo me soa ruim, talvez pq me lembre a palavra "fuleiro"... hihihi.
ResponderExcluirComo dizer que vc está em um relacionamento "funeiro"? Seria: eu estou "funerando"?
A idéia é interessante, mas não estou bem certa se na prática ela funcionaria bem. Não na perspectiva feminina. Carência e ciúmes seriam dois problemas difíceis a ser controlados em algumas circunstanciais.
Coisas de "mulherzinha"... hehehehe
Bjs
Muito bom Sisi, você entrou no clima.
ResponderExcluirNão esqueça que o termo "Fun" em inglês se pronucia como "Fan", portanto a pronuncia seria "faneiro". De qualquer maneira traga outras opções.
Ah, Ciúmes? Coisa no século passado, os Funeiros não sabem o que é isto.
Legal, beijos.
Há sentimentos que podem ser coisas da época da pedra, mas ainda assim eles permanecem, pouco se evoluem.
ResponderExcluirVeja vc, em seu texto: "Esta classe seria formada por pessoas que gostem de ter relacionamentos com o OUTRO sexo mais não querem deixar de descobrir o mundo" ...
Pq vc delimitou o conceito aos heterossexuais? Não seria vc tb um adepto de pensamentos passado? Ou to enganada em minha interpretação???
Certissima Sisi, estava delimitando sim.
ResponderExcluirO problema do ciúme é que considero algo que deva ser superado, mas é claro que ainda não é possível, eu mesmo não conseguiria viver sem ciúme, o que estou propondo é viajarmos nesta utopia descrita acima.
Claro que vale também para os homossexuais
Outra questão que considero complicada neste tipo de relacionamento proposto,além do ciúmes, é não ter obrigações.Claro que duas pessoas só devem se relacionar por livre vontade de estar juntos, mas quando somos mesmo companheiro(a) de alguém nos vemos "obrigados" a fazer coisas que não gostaríamos própriamente simplesmente para apoiar ou estar ao lado do nosso companheiro(a).Pode parecer chato,mas sem isso acho que nos sentiríamos sozinhos mesmo tendo um funeiro.
ResponderExcluirRapaz, esse debate rende...tem um filme mto bom chamado singles, vale a pena ver, trilha sonora tb! Não vou me estender pq tem-se muito a discutir, concordo com varias coisas, mas estar só ou ser só é a questão, pra individualidade o que vale é a paz interior, seja vc solteiro, divorciado, viuvo ou monge, e o que nos move além de hormônios e o instinto primal é o amor, paixão e ódio, sejam fortuitos ou desenvolvidos, o que acho é que o ser humano que deixa de buscar, seja só, em par ou em grupo, se vc deixa de ter isso pode ter morrido por dentro. Recorra-se a poesia qdo diz "A vida é arte do encontro embora hajam tantos desencontros", seja de pessoas, lugares, sentimentos, etc.
ResponderExcluirValeu a escrita e tô nesse debate! Ah, não curti "funeiro"..deixa como pessoa bem resolvida mesmo!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirConcordo que a individualidade tem muito mais haver com a relação que temos com nós mesmos do que com os outros e, por isso mesmo, pode e deve ser preservada em qualquer tipo de relacionamento.Contudo,manter sua individualidade não é ser só, muito menos ser individualista, e neste ponto reside o perigo ao nos relacionarmos: traspor esses limites delicados que diferenciam os adjetivos.Afinal,por mais que não precisemos disso para viver, é muito bom ter alguém para dividir,somar e compartilhar.
ResponderExcluirAcho perfeitamente possível dividir, somar e compartilhar as coisas mantendo a individualidade. É como se fosse uma amizade, muitas vezes abrimos mão de algumas coisas pelos nossos amigos, mas nem por isto perdemos nossos desejos e sonhos que são individuais.
ResponderExcluirAbrir mão destes sonhos é que o funeiro não pode aceitar, neste caso perderia sua individualidade.
Após ler o artigo em questão me lembrei de horas atrás quando iniciamos uma discussão a respeito do tema "Amizades Coloridas". A cada dia a busca por amizades dessa natureza vem sendo na minha opinião mais comum também pelas mulheres. Comportamento este visto como machista a tempos atrás, hoje se torna mais presente uma vez que o antigo sexo frágil busca sua maior individualidade. A falta de um relacionamento sério e dependente deixou de ser problema uma vez que a sociedade feminina descobriu os benefícios em ter por perto alguém com muitas afinidades principalmente no quesito afetividade e que se queira estar em determinados momentos mas em outros não. Esse tipo de relacionamento desprendido de ciúme como foi dito acima em outro comentário é possível uma vez que os sentimentos sejam sempre os mesmos e que permanessam como no inicio da relação.
ResponderExcluirPelo jeito a maioria está gostando da ideia, não imaginava isto, cadê os romanticos?
ResponderExcluirRs