quinta-feira, 14 de abril de 2011

A Sombra e A Maldade

Quando já certa de que nenhum ato cometido por seres humanos poderia chocar-me, sou surpreendida por imagens perturbadoras de crueldade. Não me refiro ao, tão explorado pela mídia, massacre de Realengo, mas a tantas outras cenas de violência que assistimos quase diariamente nos telejornais. Cenas estas que nos fazem pensar como o homem é mau. Será essa maldade natural ao ser humano? Se olharmos a história da humanidade, escrita sobre sangue e cadáveres, teremos certeza que sim. Por outro lado, sabemos de histórias sobre pessoas capazes de sacrifícios para ajudar outras em situações críticas (a exemplo dos brasileiros que viajaram horas de carro para levar água, comida e auxílio aos japoneses mais atingidos pela tragédia recente). Então o ser humano pode ser bom.

No caso do assassino de Realengo, há o atenuante do transtorno mental, o que não ocorre com os policiais que torturaram e friamente atiraram à queima roupa em um adolescente de 14 anos indefeso. Atiraram por 4 vezes no tórax do menino que teimou em não cair e insistiu em continuar vivo. Então o ser humano pode ser mau? Sim, infinitamente cruel. E a insanidade muitas vezes não justifica a maldade. Somos seres muito complexos, repletos de dualismos. Possuímos bondade e maldade naturais em nossa personalidade, entre outras características aparentes ou não. Desde pequenos somos “moldados” para reagirmos da maneira esperada e para assumirmos personalidades que atendam as expectativas sociais. Deste modo, ocultamos, de maneira inconsciente, sentimentos que consideramos inapropriados e, assim, é formada a chamada sombra. A sombra é, de maneira geral, um segredo que guardamos de nós mesmos e do mundo, aspectos inconscientes de nossas vidas e personalidades, mas que em algum momento manifestam-se. Momentos de descontrole nos quais falamos e fazemos coisas, nas quais não nos reconhecemos, geralmente, são manifestações da sombra.

A maldade existe em todos nós, só que suprimimos suas manifestações de maneira consciente ou inconsciente, por medo das consequências do ato ou pelo desejo de sermos virtuosos. Contudo, algumas pessoas, por razões diversas internas e/ou externas, deixam-se tomar pelo prazer da maldade e ainda encontram justificativas para seus atos. Guerras, massacres, roubos, homicídios, entre outros, são sempre justificáveis por aqueles que os cometem.

Todos, em algum momento da vida, descobrem que não são tão bons quanto pensavam (ou tão maus). Negar a existência da maldade em nós não nos ajuda a lidar com ela, precisamos descobrir e aceitar que somos seres dotados de maldade e bondade, e que podemos, em sã consciência, escolher qual predominará em nossas vidas. Não podemos nos desfazer de nossas sombras mas, ao tomarmos conhecimento dela, podemos escolher o que manter sob seu véu.

3 comentários:

  1. Viva Jung!!! Já estudou a obra dele, né???

    Nada como conhecer e aceitar a nossa sombra. Isso é admitir SER humano!!

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  2. Imaginar que a psicologia começou com Nietzsche e leio textos tirados de obras feitas por psicólogos falando deste jeito da realidade humana me dá calafrios. Esqueceram da fonte, definitivamente.

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  3. Não sou estudiosa de Jung nem de psicologia, sou apenas uma curiosa que gosta de ler um pouco de tudo. De qualquer maneira, acredito que as "fontes" são para inspirar, fundamentar nossas idéias mas também para serem interpretadas e questionadas. Se você lê, aceita e simplesmente reproduz o que foi escrito como lei universal e rejeita qualquer outra idéia defendida sob outro ponto de vista, ao invés de ampliar, você estreita sua visão. Ninguém, nem Nietzsche, é dono da verdade, até porque não existe uma única verdade.

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