terça-feira, 21 de setembro de 2010

Cachorros de Palha – 3º capítulo: Os vícios da moralidade (1ª parte)

Desculpem pela ausência do blog nas ultimas 2 semanas, andei bem ocupado.
Voltando ao capítulo 3 do livro Cachorros de Palha. Nesta parte do livro o autor quer demonstrar que a moralidade não é importante para o ser humano. Para introduzir melhor as ideias do autor, vou tentar fazer um resumo da parte 11 do capítulo 3º onde é feita uma excelente introdução sobre o inicio da moralidade nas sociedades humanas.
De acordo com John Gray a moralidade começou com Sócrates, sobre sua influencia a ética deixou de ser a arte de viver bem num mundo perigoso, e tornou-se a busca de um bem maior que nada possa destruir, um valor potente que derrota todos os outros.
Para Sócrates a virtude e a felicidade andavam juntas, nada pode causar dano a um homem realmente bom, então ele imaginou o bom para torna-lo indestrutível. Surgiu, então, a ideia de que a ética está preocupada com algum tipo de valor além da vida terrena, que pode, de algum modo, prevalecer sobre qualquer tipo de perda ou infortúnio. Criou-se a moralidade.
Pensamos a moralidade como um conjunto de leis ou regras a que todos têm de obedecer e que consiste nesses preconceitos que herdamos parcialmente do cristianismo e parcialmente da filosofia grega clássica.
No mundo antes de Sócrates não havia moralidade. Havia ideias sobre certo e errado, mas não havia nenhuma ideia de um conjunto de regras que todos devessem seguir, ou de um tipo de valor que superava todos os outros. A ética tratava de virtudes como coragem e sabedoria, mas não de valores ideais.
Preferimos basear nossas vidas na presunção de que a moralidade sempre vence, no entanto não acreditamos nisto realmente. No fundo sabemos que nada pode nos tornar a prova do destino e do acaso.
Para o autor não há progresso na moralidade humana, existem hoje mais assassinatos em massa do que em qualquer outra época humana. A ideia de criar uma raça humana superior sempre esteve presente no homem e o holocausto tinham preceitos totalmente progressistas que são utilizados até hoje.
Sócrates, também, trouxe a ideia de que a razão pode guia a vida, esta ideia está impregnada nos sociedades ocidentais e faz parte do humanismo moderno, porém está totalmente equivocada. Percebe-se isto quando colocamos o homem em situação extrema, como numa prisão perpetua sem esperanças, neste momento a vida humana não é trágica, mas desprovida de sentido, a alma é quebrada, mas a vida persiste.
A moralidade torna as leis universais, eternas e divinas, porém a crença de justiça e de ética são totalmente temporais, superficiais e transitórias. Leis utilizadas no século XVII são incompreensíveis hoje, e assim sempre será. A justiça é um artefato do costume, portanto instável e mutável.
Este capítulo é um dos melhores, destrói alguns conceitos de moralidade que veem principalmente das religiões modernas trazidas anteriormente pelos filósofos gregos e que permeia nossa sociedade hoje. As pessoas tendem a repugnar um ateu, principalmente pelo medo da amoralidade deste, entretanto não percebem que a falta de moral é justamente o principal preceito da virtude de viver bem, viver o presente e desfrutar a vida.
Semana que vem escrevo sobre a segunda e ultima parte deste capítulo.

Um comentário:

  1. Mesmo mutável e efêmera a moral é necessária à sociedade humana e rege a vida de quase todos os indivíduos. Até os criminosos tem sua própria moral, assim como os ateus.Esse é um conceito relativo entre sociedades e indivíduos. A ausência de moral é atribuída aos psicopatas, ou seja, apenas aqueles que possuem um distúrbio neuropsicológico estão inteiramente "livres" dela, por isso acredito que o "bem viver" relaciona-se com o viver de acordo com os princípios morais nos acreditamos verdadeiramente e não sob os que nos são impostos sem análise ou argumentação. Sabemos que não somos tão livres quanto imaginamos mas ao menos podemos escolher algumas das amarras que nos prendem. Imaginar-se livre de todas elas é ilusão.

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