quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo VIII

Texto na Integra:
VIII
Após ter falado assim consigo, Zaratustra colocou o cadáver às costas e se pôs a caminho. Mal dera cem passos, surgiu um homem que lhe veio falar junto ao ouvido. E – vejam só! – quem lhe falava assim era o bufão da torre. “Vai-te embora daqui, ó Zaratustra”, disse-lhe, “há gente demais aqui que te odeia. Odeiam-te os bons e os justos, chamam-te inimigo e julgam que os desprezas; os fieis da verdadeira fé também te odeiam, consideram-te um perigo para o povo. Tua sorte foi terem rido de ti; e na verdade falaste como um bufão. Tua sorte foi teres te acumpliciado com esse cão morto; ao te rebaixares assim, te salvaste por hoje. Mas parte da cidade – senão amanhã saltarei sobre ti, eu que estarei vivo, sobre ti que estarás morto.” Com estas palavras, o homem desapareceu; e Zaratustra prosseguiu seu caminho através das escuras ruelas.
À porta da cidade, encontrou-se com os coveiros que, aproximando-lhe do rosto seus archotes, reconheceram Zaratustra e se puseram a fazer pesados gracejos a seu respeito: “Lá vai Zaratustra arrastando a cão morto; ainda bem que Zaratustra se fez coveiro! Porque nossas mãos são limpas demais para essa carniça! Zaratustra quer disputar ao diabo a porção que lhe cabe? Pois que faça bom proveito, se regale no festim” Isso, se o diabo não for melhor ladrão que Zaratustra, pois, do contrário, acaba então por devorar os dois!” E, falando uns para os outros, escarneciam entre si.
Zaratustra não disse palavra e seguiu seu caminho. Depois de caminhar por duas horas ao longo de pântanos e bosques, ouvindo o uivo esfaimado dos lobos, a fome o assaltou, por sua vez. Foi então que se deteve diante de uma casa solitária, onde brilhava um lume.
“A fome me assalta como um bandido”, disse Zaratustra. “Minha fome assalta-me no meio dos bosques e dos pântanos e no seio da noite profunda.
Minha fome tem caprichos estranhos. Não raro ela só me vem depois das refeições, e hoje, durante o dia inteiro, não me apareceu: onde teria andado?”
E enquanto assim falava, Zaratustra bateu à porta da casa. Apareceu um ancião, trazendo um lume, que lhe perguntou: “quem chama por mim e pelo meu mau sono?”
“Um vivo e um morto”, respondeu-lhe Zaratustra; “dá-me de comer e beber, pois disso não cuidei durante o dia. Quem nutre o faminto, conforta sua alma: eis a voz da sabedoria.”
O velho retirou-se para logo voltar, oferecendo a Zaratustra pão e vinho. “estas são más paragens para os famintos”, disse ele, “por isso moro aqui. Bichos e homens procuram por mim, o eremita. Mas convida teu companheiro também a beber e comer, ele está mais cansado do que tu.” Zaratustra respondeu: “Meu companheiro é um morto, vai ser difícil convencê-lo disso.”
“Tanto se me dá”, disse o velho, resmungando, “quem bate à minha porta deve aceitar o que ofereço. Comei e passai bem!”
Depois disso, Zaratustra caminhou outras duas horas, guiando-se pelo curso e a luz das estrelas: pois estava habituado a caminhar à noite e gostava de olhar a face de tudo quanto dorme. Mas quando despontou a aurora, Zaratustra se encontrou numa floresta sombria, onde nenhuma passagem parecia haver. Então, vendo uma arvore que tinha um oco à altura de um homem, ali depositou o cadáver – pois queria mantê-lo a salvo dos lobos – estendendo-se no musgo do chão. E logo adormeceu, o corpo fatigado, mas a alma tranqüila.

Comentários:
Nietzsche descreve no que se transformou as quatro virtudes cardinais, segundo a moral humana, são elas;
 Coragem
 Sabedoria
 Temperança
 Justiça
Podemos encontrar as quatro virtudes desenhadas no texto acima e sua crítica apontada pelo autor.
Estamos terminando esta leitura, faltam agora apenas 2 capítulos, onde o autor falará sobre o Eterno Retorno, aguardem.

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