sexta-feira, 9 de março de 2012

Democracia: ruim com ela, pior sem ela?

Eu realmente não gosto do comum, do trivial, do popular e nem das coisas ditas como verdades universais. Existem muitas ideias por aí que ninguém quer debater, temos a religião, temos as relações familiares, o amor, temos Jesus Cristo, temos Deus e temos também a dita salvadora Democracia. Salvadora? Sim, pois assim nos é apresentado este modelo de organização social. Bem, vamos decorrer um pouco sobre ela e analisar seus pontos positivos e negativos. A finalidade deste artigo é criar novas formas de organização social e evoluirmos em nossas interações com o próximo.
Qual a origem da palavra Democracia? Tal como “monarquia” significa “governo pelo monarca”, “democracia” quer dizer “governo pelo demos”. Mas o que é o demos? Em grego clássico tanto pode ser entendido como “o povo” ou “a populaça”. No segundo sentido, então, a democracia é o governo pela populaça: o governo da ralé, do vulgo, dos sujos, dos inaptos.
Como Platão dizia em sua mais renomada obra “A República”: a democracia é a segunda pior forma de governo (a pior era a Tirania). Podem não acreditar, mas ele disse isto mesmo, mesmo na recém-criada democracia grega. Platão percebeu os absurdos desta forma de governo desde seus primórdios e devemos sim voltar o tempo e dialogar com ele este pontos. Vamos a eles:

  1. A sua arma básica é a chamada “analogia das profissões”. O argumento é muito simples. Se estivéssemos doentes, e precisássemos de nos aconselhar com alguém em matéria de saúde, procuraríamos um especialista — o médico. Por outras palavras, quereríamos consultar alguém que tenha tido formação específica para desempenhar a tarefa. A última coisa que desejaríamos seria reunir uma multidão e pedir aos presentes que elegessem, através de voto, o remédio certo. Segundo Platão, é função que se deveria deixar aos especialistas. Permitir que o povo decida é como navegar em alto mar consultando os passageiros, ignorando ou desprezando aqueles que são verdadeiramente competentes na arte da navegação. Tal como um navio assim comandado se transviará e irá a pique, também — diz Platão — o navio do estado naufragará;
  2. A sociedade justa é impossível, a menos que os reis se tornem filósofos ou os filósofos se tornem reis. A formação filosófica, afirma Platão, é uma qualificação necessária para governar;
  3. À primeira vista, o argumento de Platão contra a democracia parece devastador. Se governar é uma arte, e uma arte apenas dominada por poucos, então a democracia parece obviamente absurda e irracional. O defensor da democracia tem de encontrar uma resposta para a analogia das profissões.
Platão tocou num ponto chave da democracia, ela iguala todos os cidadãos, para muitos este é o principal trunfo dela, este direito social conquistado e disseminado principalmente após a revolução francesa do século XVIII, colocou o mundo a seus pés e até hoje, mais de 200 anos depois, ninguém questiona sua eficácia. Bem, não até este momento, eu não posso deixar de analisar e criticar algo tão solido, não é mesmo?
Vou começar atacando seu coração, ou seja, o direito universal de igualdade dos cidadãos. Acontece que a democracia pode até funcionar de certa maneira bem numa sociedade bem equilibrada de pensamento e de um forte sentimento de nação como as sociedades mais antigas da Europa e das descendentes diretas como a Americana, Canadense e Australiana, minha discórdia vem de sua implantação nas sociedades em formação, que são formadas por diferentes culturas e etnias e que não possuem uma identidade bem formada de nação.
Para estas sociedades a democracia é um tormento, pois em geral uma etnia majoritária pode tornar suas ideias dominantes eternamente. Para os indivíduos sua raça ou grupo social é mais importante que sua nação. Partindo desta análise temos um problema bem grande nas mãos: como disseminar a democracia em sociedades sem uma identidade bem formada de nação?
A democracia também traz muita demagogia, pois os eleitos precisamos ser populares e para isto abdicam da razão e tornam-se escravos das massas, o alvo é tornar-se Deus para elas e para isto destroem a máquina administrativa e os recursos do estado, fogem da razão e viram dependentes de aplausos, ai começa o caos. Temos inúmeros exemplos na América Latina e Brasil e nenhum país desta região conseguiu sair deste imbróglio, talvez o Chile, mas ainda tenho minhas dúvidas.
Outro ponto da igualdade de direito vem da formação dos grupos sociais, indivíduos isoladamente não são capazes de fazer maldades, mas quando reunidos em grupo são capazes de atos muito cruéis. Indivíduos são seres morais, mas o povo, ou os eleitores não tem moral. O homem em grupo é um ser coletivizado e dominado e pode se vender e praticar qualquer ato escuso.
O povo, assim como os eleitores não agem de forma racional, segundo o principio de bem comum e de acordo com os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia. Portanto os eleitores, como grupo, podem ser facilmente enganados, ele são movidos pelo interesse das imagens e da emoção. Quem acaba vencendo uma eleição são justamente aqueles que não deveriam alçar o poder, são aqueles que manipulam a produção de imagem e seduzem a massa popular. As ideias não importam, imagens criam heróis e deuses, não é mesmo? Como elegermos os melhores para nos governarmos assim?
A democracia não gerou desenvolvimento social e econômico em países em formação cultural, não vemos isto em parte alguma, importamos este conceito dos europeus mas ele não trouxe grandes ganhos para nós, nem para nenhum outro país fora do circulo cultural europeu. Não deu certo na Índia, na China, no Japão, na Rússia, em nenhum país latino, na África, ou seja, a democracia somente deu certo na Europa e em seus descendentes diretos, por causa de seu sentimento único de nação.
Acontece que a razão não pertence à massa, nem ao povo, portanto ele não pode, nem tem capacidade de escolher seu representante. Mas como fazer então? Como podemos determinar de forma arbitrária quem tem o poder de voto ou não? O homem é fraco, portanto os detentores deste poder acabariam legislando em causa própria, não é mesmo?
Um alternativa seria eleger os capazes de governar através de concursos públicos bem elaborados, mas os eleitos teriam poder demais nas mãos e duvido da moral cívica do homem sem uma devida cobrança efetiva de resultados.
Outra alternativa, imitando novamente a Grécia antiga, seria sortear dentro de um grupo de pessoas qualificadas aquelas que representariam o povo em um cargo legislativo com prazo curto de, no máximo, 1 ano.
Difícil, não tenho neste momento a resposta para estas perguntas, acho que com a democracia os países em formação serão sempre países em formação, pois nunca conseguirão eleger os melhores, ou seja, os detentores da razão. No entanto sem a democracia a sociedade não teria sua válvula de escape contra as desigualdades sociais, nem o ser humano é capazes de escolher, dentre muitos, alguns com virtudes suficientes para governar em nome dos outros. Platão não conseguiu criar uma alternativa a democracia, ele tentou governar duas cidades-estados sem sucesso através de um sistema aristocrático.
O importante é não desistirmos e continuarmos a procurar alternativas. No momento vejo como essencial esta questão no Brasil e no mundo a seguir, principalmente, após as revoluções árabes.