segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Crenças: não podemos viver sem elas

Depois de uma longa ausência no blog e aproveitando a semana de comemoração da psicologia, não poderia perder a oportunidade de cutucar novamente os profissionais da área. Meu artigo neste mês será sobre o novo livro do psicólogo Michael Shermer chamado em português “Cérebro e Crença”. Já falamos muito por aqui sobre a necessidade humana de explicar as coisas por crenças, a imaginação parece fazer parte da nossa capacidade de processar as informações do mundo externo e de compreendê-lo. Este grande psicólogo procura mostrar que tudo não passa de um processo natural da espécie, o de viver no pensamento mágico totalmente fora da realidade.
Nossa dita inteligência, na verdade, nada mais é que uma espécie de máquina de reconhecimento de padrões naturais, estes padrões, às vezes são até reais, mas, em sua maioria, são fruto da imaginação. Porque isto acontece? Tudo na vida tem uma função para existir, pela teoria da Seleção Natural, tudo que fica, seja comportamento ou diferenças físicas ficam porque ajudaram em algum momento estes indivíduos na sua adaptação ao meio, então se temos como padrão a criatividade de imaginar as coisas, esta deveria ter uma função para a espécie, não é? Qual seria?
De acordo com Shermer este padrão, há milhares de anos atrás, ajudou o homem a se proteger de ameaças, ao ouvir um barulho vindo da mata o homem poderia supor que seria um predador e seria melhor se prevenir “imaginando” o perigo que ser morto depois. Imaginar o perigo e fugir garantiu a sobrevivência. Começou assim a capacidade humana de não conseguir adequadamente distinguir a ficção da realidade. Portanto a convicção que o pensamento mágico e ilusório é o que basta para compreender o universo gera uma sensação de prazer. Ficamos felizes em imaginar seres místicos, sejam Deuses ou extraterrestres, que cuidam de nós. Em geral somos muito solitários e inseguros em relação a vida.
Brilhantemente os psicólogos modernos pararam de viajar em matéria de coisas sobrenaturais e explicações fora do campo científico, ou seja, sem comprovação científica (coloco muito dos estudos de Freud aqui) e passaram a estudar mais o cérebro humano, com a neurociência. Hoje já é possível provar a sensação de prazer quando se ativa as partes ligadas a imaginação, isto alivia os momentos de tensão quando enfrentamos estresse elevado, como nos casos de morte de parentes ou quando ficamos mais velho e próximos do fim.  Somos mais abertos a religiões quando envelhecemos ou quando somos jovens, o apelo a Deus explica melhor a confrontação com a tragédia (morte em filosofia).
Shermer afirma que a religião empobrece o homem pois não há debates ou conhecimento em acreditar em algo que não se pode provar. Para ele a ciência alimenta o ceticismo e a busca para encontrar a verdade, com isto favorece o progresso humano. A ciência é democrática, qualquer um pode estudá-la. Cientistas estão sempre abertos à possibilidade de estarem errados, ao contrário da religião. A crendice é intolerante e ditadora, fixa uma verdade e não abre espaço para perguntas. Se continuássemos apenas nas crença é provável que ainda estivéssemos nas florestas.
Crer não é de todo mal, a crença, na verdade, move a ciência. Qualquer experimento nasce da premissa de que seja verdade, como ainda não foi provado, não passa de uma crendice. Mas a crença das verdades absolutas, como a religião, não fazem bem ao homem e são as grandes responsáveis pelas guerras e massacres durante a história humana.
Os países menos religiosos do mundo atualmente, são justamente os mais tranquilos e seguros para se viver. Os países do norte europeu tem apenas um quarto da população que acredita em Deuses ou seguem alguma religião, com isto tem índices de criminalidade, suicídios e de doenças sexualmente transmissíveis bem inferiores a outros países como Brasil e EUA. Levantamos assim outra questão, os defensores das religiões alegam que a crença controla os conflitos sociais, no entanto, se isto é verdade porque os estados teocráticos são mais suscetíveis a criminalidade e as guerras?
Muitos me perguntam porque tento combater as religiões. Na verdade acredito que esta crença faz mal ao homem e é perigosa. Acreditar na medicina alternativa é um exemplo, se os remédios homeopáticos são eficientes porque não passam nos testes de placebo? Na verdade podem sim fazer muito mal ao organismo já que não passam nos testes laboratoriais e no rigor das agencias reguladoras. Esta metáfora serve para demonstrar o perigo de se acreditar em qualquer coisa.
Quem tem que provar se Deus existe são os religiosos, já que afirmam que existe. O fato de não se provar que Deuses não existem não é motivo para acreditarmos neles. Não há diferença em acreditar em Deus, ou em Duendes, ou em fadas madrinhas, nenhum destes pode ser provado. Se realmente existe um Deus e este nos deu a capacidade para duvidá-lo então devemos fazer isto o tempo todo, ele com certeza não deixou nenhum caminho a seguir na terra, cada um de nós deve escolhê-lo.
Prefiro viver com minhas escolhas que com as dos outros, como fazem os religiosos. Façam a sua, mas, ao menos, utilizem a maior capacidade humana: a de buscar a verdade das coisas ou seja, a curiosidade.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Rio + 20: O medo da verdade

E mais uma vez o homem busca uma solução para salvar o planeta, sempre na esperança de encontrar algum avanço tecnológico que resolva o problema que ele criou ou algum jeitinho para alterar seu modo de vida. No entanto precisamos deixar uma coisa bem clara, a culpa para o desequilíbrio da natureza não está no modo de vida humano, e sim na sua própria existência.
Buscando encontrar uma solução mágica para um problema cada vez mais iminente, o homem senta novamente em exaustivas reuniões, tentando encontrar uma solução, sempre pautando-se numa suposta alteração da consciência coletiva. O curioso é que as soluções, ditas sustentáveis, concluem que a esperança do planeta está ou no avanço tecnológico ou na alteração do modo de vida humano. Já falei anteriormente sobre isto, não existe desenvolvimento sustentável, é apenas uma palavra bonita para ganhar notoriedade. Qualquer ação humana para minimizar seu impacto na natureza será apenas mais uma ação para MINIMIZAR, e nunca acabar com a destruição causada pela ação humana.
O homem vive sempre na esperança, vivemos por esperança, sonhamos com a esperança, ou seja, vivemos fora da realidade. Enxergo a palavra esperança com a conotação de espera, já que, uma palavra deriva da outra, portanto esperança denota “espera por um milagre”. Nunca gostei desta palavra. Salvar o planeta tornou-se um desafio para a ciência, e desenvolvimento sustentável tem uma base muita sólida na esperança de um avanço tecnológico. Não enxergamos o óbvio: a natureza é muito mais complexa que a capacidade humana de reinventar-se, portanto nunca salvaremos o planeta, nem a nós mesmos.
A habilidade humana em se adaptar ao ecossistema e de modifica-lo é notável, a destruição natural provocada por ele, ou contrário do que muitos pensam é normal e perfeitamente compatível com as leis naturais. Todos os seres vivos são egoístas quando se trata de sua própria sobrevivência, portanto nada mais natural o homem explorar os recursos naturais visando sua própria existência. Qualquer animal na terra que não encontrasse predadores, como nós, se multiplicaria até a destruição dos outros seres vivos, isto é natural e perfeitamente compatível com as teorias de seleção natural de Darwin.
O problema e a solução para salvarmos o planeta é bem simples, muitos cientistas já perceberam isto, mas ninguém tem coragem de falar publicamente. O medo da verdade é enorme.
O animal humano tornou-se uma praga para o ecossistema global (é tão obvio isto), estamos em todos os cantos do planeta, destruímos o habitat dos outros animais, utilizamos os recursos naturais para nossa sobrevivência e não nos importamos com a flora e a fauna, pois isto não nos diz respeito. Agimos de forma natural como todos os outros seres vivos, ou seja, nos preocupamos com nossa própria existência. Alguns intelectuais procuram em vão, através de reuniões, congressos e etc., que a ética e a moral humana mude, alterando assim o curso programado em seu DNA, ora, quanta ilusão.
O homem não age de forma consciente em 99% de suas ações, agimos de forma comportamental, programada, portanto nossas ações correspondem, na maioria dos casos, aos nossos instintos e a programação estabelecida para nossa espécie contida no nosso DNA. Quem ainda não percebeu isto, existem diversos estudos a respeito, alguns até já publicados em textos anteriores aqui no blog. Nossa parte consciente não é capaz de processar mais que 0,01% do que é percebido pelo cérebro. Porém, deixemos isto de lado, o fato é que não iremos mudar nosso comportamento natural, alguém poderia apontar em algum lugar do planeta onde o homem estabeleceu-se sem destruir parte da fauna e flora do local, apenas um exemplo?
A solução, como dito, é simples, precisamos diminuir a população humana com urgência, para isto precisamos estabelecer metas de controle populacional por país, afim de não acabar definitivamente com todos os recursos naturais do planeta. Precisamos fazer isto com urgência senão a natureza encontrará outras formas de impedir seu extermínio pelo parasita destruidor, o Ser Humano.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Cotas raciais nas universidades públicas

Mais um tema polêmico atinge o STF. Parece que as leis realmente não conseguem alcançar as mudanças sociais e precisamos de 10 senhores para nos dizer o que devemos fazer. Devem ser os Deuses do Olimpo. E novamente eles tomaram uma decisão com base na opinião pública, sem qualquer fundamento constitucional, nem racional. Nos julgamentos feitos pelos Deuses do Olimpo, percebemos  que os motivos foram pessoais, quase nenhum tomou sua decisão baseado nas leis já existentes, nem na constituição.
Continuamos julgando as pessoas pela sua cor, o ser humano não aprende nunca. Muitos intelectuais vêm defendendo o uso de cotas raciais para diminuição de um abismo social a um certo grupo social e para recompensar este grupo pelos anos de escravidão a que foram expostos, muito nobre. No entanto esqueceram-se de uma coisinha só, assumiram que existem raças entre os humanos e pior ainda atestaram que podemos ser diferenciados pela cor, ou seja, foram racistas, alias legalmente racistas agora.
Temos outros textos publicado aqui no blog sobre o racismo e não custa nada repetir, o ser humano não pode ser diferenciado pela cor, pois esta não determina nenhum característica especifica de diferenciação entre eles e é estupidez achar o contrário, portanto não podemos nos nomear branco, preto ou amarelo, somos todos SERES HUMANOS.
Segue o texto publicado por mim em 27/01/2010.
A institucionalização do racismo
Postado por Carlos
A palavra racismo denota algo pejorativo, pois em geral utilizamos para classificar um crime de discriminação de raças entre os humanos. Vamos começar buscando o significado no dicionário Michaellis. Racismo é a teoria que afirma a superioridade de certas raças humanas sobre as demais. Caracteres físicos, morais e intelectuais que distinguem determinada raça. Ou Ação ou qualidade de indivíduo racista. Ou ainda, apego à raça.
Ora você pode ser racista quando escolhe uma raça de cachorro ou gato em relação à outra, quando prefere uma onça em relação ao leopardo, ou gosta mais de papagaio em contra partida ao canário. No entanto a separação de humanos em raças é ilegal, é crime e não possui fundamento biológico.
Pode parecer que vou defender o racismo, mas não vou não. Não por querer ser politicamente correto, que todos sabem que não sou, mas por que não consigo admitir que seres humanos tenham raça. Nós não somos diferentes, pretos, brancos, pardos, índios, temos as mesmas características biológicas e, portanto não podemos ser separados por raça. Vejo muitos grupos étnicos, principalmente de negros afirmarem: “Raça Negra”, mas o que seria a raça negra, um labrador (cachorro) pode ser marrom ou preto e mesmo assim pertence à raça labrador. A cor não pode ser utilizada para separação de humanos em raça.
A espécie animal a que pertencemos, o homo sapiens, é nova, bem recente em termos de vida no planeta Terra. De acordo com estudos científicos temos no máximo 200.000 anos, ou seja, somos uma espécie muito nova. A terra tem aproximadamente 5 bilhões de anos. Não houve tempo ainda para que aparecessem características distintas entre nós que poderíamos classificar como separação de raças. Pode até ser que no futuro existam classificações para determinar alguma característica bem acentuada de uma divisão natural da espécie, mas hoje não há.
Outro argumento é que como não temos atualmente nenhum povo ou sociedade isolada, isto traz uma uniformidade na reprodução e não isola a espécie impedindo uma mutação e diferenciação acentuada.
Pois é, não consigo admitir nem aceitar qualquer discriminação entre humanos pela cor, é cientificamente inconsistente, socialmente imoral, e humanamente ignorante. Não existem características diferenciadas a determinada cor, entre humanos, que possa ser catalogada e identificada. Somos totalmente iguais e não podemos, nem devemos nos separar ou diferenciar por ser preto, branco, pardo, moreno ou amarelo. Sim, “amarelo”, na minha certidão de nascimento aparece minha cor como amarelo, já ri muito disto.
Do ponto de vista sociológico, também é absurdo a discriminação racial. Separar a sociedade em raças cria caos social, cria grupos isolados, cria minorias que constantemente exigem serem ouvidas gerando tensão e discriminação entre os indivíduos sem razão aparente. Neste contexto, não posso aceitar que a constituição ou qualquer lei neste país dê, ou favoreça qualquer separação entre humanos por cor ou raça. Leis como a disponibilização de cotas universitárias para determinada raça, leis que favoreçam índios em certos concursos públicos, e etc. Se temos determinados grupos (não raças) que encontram-se excluídos da sociedade, vamos incluí-los através de políticas públicas de participação e inclusão, não institucionalizando a discriminação com leis absurdas. As tensões sociais começam exatamente com a separação da sociedade em minorias, sejam lá quais forem. Levar esta separação as leis não me parece racional. Institucionalizar é a dar voz a elas para começarem a se unir e a se rebelar entre os diversos grupos sociais. Discriminação racial é burrice em qualquer circunstância e devemos, como humanos dotados de alguma razão, nos rebelar contra qualquer forma de separação de grupos em cores ou raças.
Somos humanos, homo sapiens, não importa a cor, mesmo os amarelos (risos).

sexta-feira, 9 de março de 2012

Democracia: ruim com ela, pior sem ela?

Eu realmente não gosto do comum, do trivial, do popular e nem das coisas ditas como verdades universais. Existem muitas ideias por aí que ninguém quer debater, temos a religião, temos as relações familiares, o amor, temos Jesus Cristo, temos Deus e temos também a dita salvadora Democracia. Salvadora? Sim, pois assim nos é apresentado este modelo de organização social. Bem, vamos decorrer um pouco sobre ela e analisar seus pontos positivos e negativos. A finalidade deste artigo é criar novas formas de organização social e evoluirmos em nossas interações com o próximo.
Qual a origem da palavra Democracia? Tal como “monarquia” significa “governo pelo monarca”, “democracia” quer dizer “governo pelo demos”. Mas o que é o demos? Em grego clássico tanto pode ser entendido como “o povo” ou “a populaça”. No segundo sentido, então, a democracia é o governo pela populaça: o governo da ralé, do vulgo, dos sujos, dos inaptos.
Como Platão dizia em sua mais renomada obra “A República”: a democracia é a segunda pior forma de governo (a pior era a Tirania). Podem não acreditar, mas ele disse isto mesmo, mesmo na recém-criada democracia grega. Platão percebeu os absurdos desta forma de governo desde seus primórdios e devemos sim voltar o tempo e dialogar com ele este pontos. Vamos a eles:

  1. A sua arma básica é a chamada “analogia das profissões”. O argumento é muito simples. Se estivéssemos doentes, e precisássemos de nos aconselhar com alguém em matéria de saúde, procuraríamos um especialista — o médico. Por outras palavras, quereríamos consultar alguém que tenha tido formação específica para desempenhar a tarefa. A última coisa que desejaríamos seria reunir uma multidão e pedir aos presentes que elegessem, através de voto, o remédio certo. Segundo Platão, é função que se deveria deixar aos especialistas. Permitir que o povo decida é como navegar em alto mar consultando os passageiros, ignorando ou desprezando aqueles que são verdadeiramente competentes na arte da navegação. Tal como um navio assim comandado se transviará e irá a pique, também — diz Platão — o navio do estado naufragará;
  2. A sociedade justa é impossível, a menos que os reis se tornem filósofos ou os filósofos se tornem reis. A formação filosófica, afirma Platão, é uma qualificação necessária para governar;
  3. À primeira vista, o argumento de Platão contra a democracia parece devastador. Se governar é uma arte, e uma arte apenas dominada por poucos, então a democracia parece obviamente absurda e irracional. O defensor da democracia tem de encontrar uma resposta para a analogia das profissões.
Platão tocou num ponto chave da democracia, ela iguala todos os cidadãos, para muitos este é o principal trunfo dela, este direito social conquistado e disseminado principalmente após a revolução francesa do século XVIII, colocou o mundo a seus pés e até hoje, mais de 200 anos depois, ninguém questiona sua eficácia. Bem, não até este momento, eu não posso deixar de analisar e criticar algo tão solido, não é mesmo?
Vou começar atacando seu coração, ou seja, o direito universal de igualdade dos cidadãos. Acontece que a democracia pode até funcionar de certa maneira bem numa sociedade bem equilibrada de pensamento e de um forte sentimento de nação como as sociedades mais antigas da Europa e das descendentes diretas como a Americana, Canadense e Australiana, minha discórdia vem de sua implantação nas sociedades em formação, que são formadas por diferentes culturas e etnias e que não possuem uma identidade bem formada de nação.
Para estas sociedades a democracia é um tormento, pois em geral uma etnia majoritária pode tornar suas ideias dominantes eternamente. Para os indivíduos sua raça ou grupo social é mais importante que sua nação. Partindo desta análise temos um problema bem grande nas mãos: como disseminar a democracia em sociedades sem uma identidade bem formada de nação?
A democracia também traz muita demagogia, pois os eleitos precisamos ser populares e para isto abdicam da razão e tornam-se escravos das massas, o alvo é tornar-se Deus para elas e para isto destroem a máquina administrativa e os recursos do estado, fogem da razão e viram dependentes de aplausos, ai começa o caos. Temos inúmeros exemplos na América Latina e Brasil e nenhum país desta região conseguiu sair deste imbróglio, talvez o Chile, mas ainda tenho minhas dúvidas.
Outro ponto da igualdade de direito vem da formação dos grupos sociais, indivíduos isoladamente não são capazes de fazer maldades, mas quando reunidos em grupo são capazes de atos muito cruéis. Indivíduos são seres morais, mas o povo, ou os eleitores não tem moral. O homem em grupo é um ser coletivizado e dominado e pode se vender e praticar qualquer ato escuso.
O povo, assim como os eleitores não agem de forma racional, segundo o principio de bem comum e de acordo com os interesses da coletividade. É sobre esse pressuposto que se constrói a democracia. Portanto os eleitores, como grupo, podem ser facilmente enganados, ele são movidos pelo interesse das imagens e da emoção. Quem acaba vencendo uma eleição são justamente aqueles que não deveriam alçar o poder, são aqueles que manipulam a produção de imagem e seduzem a massa popular. As ideias não importam, imagens criam heróis e deuses, não é mesmo? Como elegermos os melhores para nos governarmos assim?
A democracia não gerou desenvolvimento social e econômico em países em formação cultural, não vemos isto em parte alguma, importamos este conceito dos europeus mas ele não trouxe grandes ganhos para nós, nem para nenhum outro país fora do circulo cultural europeu. Não deu certo na Índia, na China, no Japão, na Rússia, em nenhum país latino, na África, ou seja, a democracia somente deu certo na Europa e em seus descendentes diretos, por causa de seu sentimento único de nação.
Acontece que a razão não pertence à massa, nem ao povo, portanto ele não pode, nem tem capacidade de escolher seu representante. Mas como fazer então? Como podemos determinar de forma arbitrária quem tem o poder de voto ou não? O homem é fraco, portanto os detentores deste poder acabariam legislando em causa própria, não é mesmo?
Um alternativa seria eleger os capazes de governar através de concursos públicos bem elaborados, mas os eleitos teriam poder demais nas mãos e duvido da moral cívica do homem sem uma devida cobrança efetiva de resultados.
Outra alternativa, imitando novamente a Grécia antiga, seria sortear dentro de um grupo de pessoas qualificadas aquelas que representariam o povo em um cargo legislativo com prazo curto de, no máximo, 1 ano.
Difícil, não tenho neste momento a resposta para estas perguntas, acho que com a democracia os países em formação serão sempre países em formação, pois nunca conseguirão eleger os melhores, ou seja, os detentores da razão. No entanto sem a democracia a sociedade não teria sua válvula de escape contra as desigualdades sociais, nem o ser humano é capazes de escolher, dentre muitos, alguns com virtudes suficientes para governar em nome dos outros. Platão não conseguiu criar uma alternativa a democracia, ele tentou governar duas cidades-estados sem sucesso através de um sistema aristocrático.
O importante é não desistirmos e continuarmos a procurar alternativas. No momento vejo como essencial esta questão no Brasil e no mundo a seguir, principalmente, após as revoluções árabes.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Ilusão Necessária


Como tema inesgotável que é, o amor reaparece aqui sob outro olhar e, diante de novas argumentações e reflexões, permito-me contradizer minhas próprias afirmações em outra publicação.
Identificamos como elemento diferenciador entre o amor e a paixão a idealização do ser amado originada através da deturpação dos sentidos provocada pela paixão, sendo esta ilusão a principal implicada no caráter conhecidamente efêmero da paixão. O amor, então, é tido como um sentimento mais duradouro por ter suas fundações bem estabelecidas no conhecimento aprofundado do outro, certo? Errado.
É certo que o amor nos permite enxergar além da paixão mas todo relacionamento é baseado em idealizações e decepções. Como Nietzsche constatou e não há como negar: idealizar é um vício humano. A duração do sentimento ou do relacionamento vai depender da capacidade dos indivíduos resgatarem os ideais criados no início para amenizar os efeitos das decepções inevitáveis ao convívio.
Somos seres mutáveis, em cada etapa da vida encontramos características que não reconhecíamos em nós mesmos há tempos atrás. Como os sentimentos podem ser conservados intactos ao longo dos anos? Simplesmente impossível. Nossos sentimentos mudam conosco, amadurecem (ou não). Assim sendo, como é possível manter um bom relacionamento amoroso por anos? Através da memória afetiva que nos permite revisitar o sentimento original e as idealizações construídas inicialmente. Além da capacidade de adaptação do casal às novas demandas individuais em cada fase, obviamente.
Não pretendo aqui desacreditar o amor, apenas valorizar a marginalizada ilusão, pois, para aqueles que desejam um longo e bom relacionamento a dois, este ingrediente torna-se indispensável. Segundo Freud, a ilusão pode ser um elemento de alienação ou de estruturação nos relacionamentos amorosos. Fiquemos com a segunda opção.
O amor proposto por Nietzsche, despido de qualquer idealismo romântico, natural, cru e cruel, elimina qualquer possibilidade de felicidade proveniente do relacionamento amoroso, assim fadado ao trágico. Contudo, o próprio Nietzsche coloca, em uma de suas conhecidas frases, um pouco de equilíbrio entre razão e emoção ao referir-se ao amor: “Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.”
Somos seres racionais mas não apenas isto, somos também seres emocionais. Utilizemos a racionalidade ao máximo, inclusive para decidirmos o momento de silenciá-la dando vazão à ilusão necessária.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Para que discutir ideias?

Discutir ideias é chato mesmo, engraçado como vivemos numa era sem identidade, aliás, com uma identidade bem esquisita. Parece que todos estamos num cruzeiro de diversão total, droga, sexo e axé, para que sair deste navio? Ninguém mais tem saco para aprender, parece que ler, estudar, desenvolver ideias e argumentos são coisas sem sentido no mundo de diversão total em que vivemos. A ilusão é mais prazerosa, para que ficar discutindo o sexo dos anjos, vamos viver tudo que a vida pode proporcionar. Melhor fecharmos os olhos e nos embriagarmos de prazer.
Uma vez li um ditado que dizia:
“Pessoas fúteis falam sobre pessoas
Pessoas normais falam sobre coisas
Pessoas inteligentes falam sobre ideias”
Porém quem tem paciência para discutir sobre ideias? O mundo está impaciente, vejo até um lado positivo nisto, nos esquecemos do paraíso e estamos vivendo o presente, o paraíso é agora, frase com a cara de Nietzsche.  Mas espera, vamos colocar um ponto ai.
Viver por viver, não é viver uma escolhida por você. Viver sem analisar o mundo a nossa volta é viver uma vida imposta, uma vida cultural lhe presenteada pela moral social na qual estamos inseridos, é viver totalmente na ilusão da vontade coletiva. Representação do mundo da vontade coletiva cultural e não individual, não foi desenvolvida por você. Estamos apenas surfando nela.
Outro problema da ilusão coletiva é que esta felicidade é proporcionada pelo ambiente externo, já discutimos isto aqui anteriormente, mas volto a deixar algumas perguntas no ar: será que a felicidade mais importante é aquela que parte de dentro de nós ou do mundo exterior? Estamos realmente felizes que o que nos tornamos? Alguém ainda se faz esta pergunta?
É bem mais fácil viver assim, não acham? Não precisamos argumentar nada, discutir coisas abstratas e nem questionar em porque as pessoas e o mundo são como são. Ainda mais que quando fazemos isto estamos sendo chatos, não é? Quem gosta daquele cara que tá sempre analisando tudo e apontando os rumos errados que tomamos. Que cara chato.
Como gosto demais de debater ideias, sou o cara mais chato de mundo, engraçado como a cada dia me acho mais chato mesmo, a sociedade está me convencendo a ser mais um na orgia de prazer que vivemos. O pior é que Schopenhauer, Nietzsche e John Gray concordariam com todos e já os vejo dizendo: Carlos é chato para caramba, kkkkkkkk.
Acho que nem 8 nem 80, a vida deve ser vivida pelo momentos e eles são criados culturalmente pela moral vigente, então não podemos ir contra isto. Mas sempre que possível deveríamos avaliar o rumo que estamos tomando, muitas vezes não é o rumo escolhido por nós, e nem a meta que trará alguma felicidade duradoura. Continuo afirmando que a felicidade deve vir de dentro e não de algo prazeroso vindo de fora do “Ser”, haja filosofia:
Ninguém no mundo nos fará mais felizes que nós mesmos
Bem, já fui chato demais, vamos tomar uma cambada.