O que é o amor? Certamente, a grande maioria das pessoas tem uma resposta para esta pergunta baseada em experiências pessoais e idéias próprias. Mas o que dizem os especialista a respeito deste assunto? (Sim, existem muitos estudiosos sobre o amor e a paixão além de experimentos científicos para auxiliar no desvendar destes sentimentos).
Buscando respostas, encontrei contradições e deparei-me com a inexistência de um consenso. Inclusive, há pesquisadores que tratam amor e paixão como um mesmo sentimento. Particularmente, descordo desta idéia.
A paixão é o resultado de uma "descompensação" de neurotransmissores: elevação de dopamina e/ou noradrenalina (responsáveis pela excitação - todos os principais vícios estão associados com elevação de dopamina) e redução da serotonina ( neurotransmissor do prazer). A porção do cérebro responsável pelo desejo de recompensa é ativado, por isso, a pessoa apaixonada torna-se obcessiva por sua recompensa (aquela pessoa que eleva seus níveis de serotonina). Por esta razão, a paixão é tratada também como uma obsessão por alguns autores.
Um estudo visando avaliar o cérebro dos apaixonados, comparou as atividades cerebrais de pessoas saudáveis que não estavam apaixonadas, apaixonados confessos e pacientes portadores de transtorno obsessivo-compulsivo, e descobriram que os dois últimos grupos apresentam alterações semelhantes na atividade cerebral.
Apesar da definição não ser consenso, todos concordam que a paixão tem prazo de validade (por volta de 2 anos), que é responsável pelo distanciamento da razão e turvação da visão, pois, só quando a euforia da paixão abranda o (ex)apaixonado consegue realmente enxergar o outro. Quem nunca ouviu: "ele(a) não era assim quando o/a conheci"? Não se encontra controvérsias, também, quanto à paixão ser involuntária e incontrolável.
Para os estudiosos que separam esses sentimentos, só após o fim da paixão pode surgir amor verdadeiro mas este não depende de paixão prévia para acontecer. Outras divergências surgem quanto ao caráter volitivo ou involuntário do amor. Para alguns, o amor é uma escolha inconsciente pois, por mais que se identifique algo no jeito de ser, de sorrir ou na aparência do amado que agrade, nada disto explica a origem do amor. Outros autores assumem que o amor é uma escolha consciente, reunindo razão e emoção.Contudo, esta visão limita-se aos casais que, após o fim da paixão, decidem construir o amor, não abrangendo o amor que surge sem o estágio da paixão.
A paixão é um evento fadado ao fracasso. Uma fixação por um ser perfeito criado pela ilusão romântica e com prazo para expirar. Alguns autores afirmam tratar-se de um instinto natural humano na busca de parceiros para a cópula e manutenção da espécie, tendo em vista os estímulos sexuais intensos provocados por uma paixão.
O amor não nos priva da razão nem da visão plena, talvez aí esteja o segredo de sua maior longevidade. Conhecemos os defeitos do outro (e ainda assim amamos), não somos enganados pela fantasia de perfeição, não há o desejo de fundir dois seres em um (uma das maiores frustações dos apaixonados) pois olhamos o outro em sua individualidade e encontramos razões para amá-lo (mesmo que não justifiquem o surgimento do amor).
Acredito que a razão nos permite selecionar critérios mínimos para nos interessarmos por alguém mas o amor não depende só disso. Mesmo sem a euforia e a obsessão da paixão, o amor também tem a sua química, a química, ainda misteriosa, da compatibilidade. Dentre muitas explicações relativas ao amor e à paixão, não é possível encontrar nenhuma que ajude a entender porque uma pessoa é a "escolhida" entre tantas outras. Muitas pessoas podem atender aos nossos critérios racionais de escolha de parceiros, contudo, só aquela pessoa desperta a vontade persistente de estar perto e mesmo certos de que podemos viver bem sem sua presença, a certeza é de que a vida pode ser bem melhor ao seu lado. Ainda não há explicação para esta escolha.
Concordo com a teoria do amor involuntário, assim como a paixão, mas ao assumirmos o amor podemos deixar de ser objetos para nos tornarmos sujeitos de nossas histórias.
"...o amor é indissociável de um certo não-saber. Apresenta-se como um enigma e nunca se deixa decifrar totalmente." - Betty Milan