segunda-feira, 28 de junho de 2010

O mal da publicidade

Chegou a hora de falar um pouco sobre esta carreira, me perdoem os publicitários, mas o que vou falar aqui são reflexões de um programa de TV na TVE (Rede Cultura) chamado Café Filosófico, o tema nesta ocasião era justamente o bombardeio a esta profissão. Num primeiro momento fiquei impressionado com o grau de profundidade do debate, era como se já existisse dentro da filosofia ou sociologia debates acalorados sobre o tema há muito tempo e levando a esta profissão os grandes males da sociedade atual.
Depois deste programa comecei a refletir um pouco sobre isto e desenvolver alguns argumentos sejam a favor ou contra, o que importa aqui é analisar cuidadosamente, sem preconceitos.
Vou começar sobre o princípio da propaganda atual surgidos nos primórdios da revolução industrial, a propaganda surgiu como um meio de divulgação de certos produtos e serviços, com o intuito de tornar o produto conhecido sem qualquer caráter de criação de necessidade ou qualquer outro conceito mais rebuscado.
Acontece que a publicidade tomou um caminho de importância muito maior dentro da sociedade, ainda mais numa sociedade pouco educada, onde pessoas não tem discernimento sobre o que é bom ou ruim, necessário ou não. Neste caso ela tornou-se um meio de manipulação importante de massa, seja política, seja religiosa, seja econômica, ou seja de idéias também.
Com este poder de manipulação tão grande esta matéria tornou-se alvo de muitos debates e de muitas reflexões dentro da academia, e merece sim algum tipo de critica e também de avaliações sobre os rumos que deve tomar no futuro. Acho que Marx não previu este poder e não imaginava que ele seria o principal veículo alienador dentro do sistema capitalista, buscando a manutenção do status deste sistema.
A propaganda deve servir a divulgação das coisas e não para a imposição de idéias, produtos, necessidades ou moda, parece que perdemos o poder individual de avaliar sozinho o que devemos comprar, pensar e fazer de nossas vidas, a mídia nos diz isto, nos mostra um pacote pronto, é mais fácil viver assim, não precisamos pensar nem refletir, a mídia já faz isto por nós. Neste ponto acho que a mídia tornou-se a religião moderna. Ela cria tendências, manipula vontade e determina nossos sonhos.
O debate na TV foi justamente neste ponto, na completa manipulação das pessoas que hoje é feito na mídia, principalmente na TV, e os principais comandantes disto são os publicitários, sim, eles são o veículo condutor, os criadores e os responsáveis pelo conteúdo publicado. Concordo que não são os mandantes do crime, mas deveriam ter a responsabilidade sobre o que levam ao publico e a sociedade.
Gostaria de exemplificar o exposto acima num episódio que aconteceu alguns anos atrás. O grupo de pessoas revoltadas com uma decisão do congresso que agora não lembro bem, provavelmente devido a aumento de verbas para os deputados ou alguma coisa terrível que às vezes eles nos impõem por seu poder de legislar, se revoltou e entrou com tudo no congresso para protestar, como os seguranças não deixaram, eles começaram a quebrar tudo, carros, vidros, portas, cadeiras, e também a ameaçar os próprios deputados que ficaram presos durante algum tempo dentro do plenário.
Não preciso nem dizer que este episódio foi repudiado e muito pelos jornais, principalmente pela Globo, colocaram reportagens com pessoas importantes dizendo sobre o crime contra a democracia e etc. Neste momento percebi a real intenção da mídia em geral, era de manipulação descarada das massas. O que mais o poder teme é justamente uma sociedade organizada, que cobre providencias, que busque se revoltar contra o status quo e que invada e destrua principalmente seus bens materiais.
Neste momento a mídia agiu para reprimir e manter sua importância, mas vamos avaliar melhor o fato. O povo revoltado, organizado e com vontade de protestar deve fazer como, senão fazê-lo na casa onde os representa? Se tiver que destruir algo material deve fazê-lo onde, senão na casa onde se pode mudar alguma coisa?
Desculpe Globo e mídia em geral mas o povo agiu da maneira mais correta possível, foi pressionar seus representantes e ameaçar as pessoas que mais podem mudar os erros de nossos poderosos que é justamente o congresso nacional. A casa é do povo e ele deve se revoltar lá, não vejo lugar melhor.
Percebi claramente o medo da parte mais alta da sociedade contra revoltas ou revoluções, e para inibir isto a mídia rapidamente agiu para manter as coisas em ordem. Agiu errado, agiu de acordo com suas idéias, para benefício próprio e não com uma visão social, nem procurou avaliar as razões do episódio.
Fica difícil mudarmos alguma coisa assim, o poder controla o principal veículo de analise atualmente e vai sempre buscar manipulá-lo da forma a manter-se no topo. O papel do publicitário deveria ser justamente de criticar e procurar veicular a verdade, seja de idéias, seja nos produtos que pretendem vender, ou pelo menos expor as várias correntes de pensamento sobre determinado assunto.
Deste jeito vivemos seguindo os pensamentos da elite, somos jogados de um lado a outro de acordo com esta conveniência; manipulados e desprovidos de opinião própria, sem analise, sem reflexão, sem individualidade, sem vontade, sem sonhos. Tudo se torna genérico, social, o individuo perde sua identidade para viver uma ordem maior.
Não quero viver numa sociedade assim, precisamos incentivar as criações individuais, as idéias contrárias, as reflexões, sem isto nenhuma sociedade evolui, não se cria nada novo e em algum momento este veto da vontade individual vai explodir de forma abrupta com um vulcão e eu quero estar vivo para participar de mais esta mudança social. Precisamos e muito de mais estudo e filosofia, precisamos conhecer mais a realidade a nossa volta.
Boa busca a todos e cuidado com o que vêem na TV.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Clima tropical x subdesenvolvimento

Para variar um pouco segue outro tema bastante polêmico. Há algum tempo venho questionando este tema durante minhas viagens pelo mundo. Percebe-se a incrível exatidão e provas deste fato: partes mais quentes do globo são menos desenvolvidas que as partes mais frias. Isto acontece também dentro dos próprios países, as áreas mais frias dos EUA, Itália, França, Brasil, Inglaterra, China, Índia, Austrália são mais desenvolvidas economicamente que as partes mais quentes destes mesmos países. Quando comparamos entre países o problema é maior, países de clima tropical. São bem mais pobres que os de clima temperado.
Resolvi tocar neste assunto bastante complicado, complicado porque existem várias exceções, porque a edição da revista Veja de 2166 de 26 de maio de 2010 trouxe uma entrevista com um renomado cientista e escritor chamado Jared Diamond que concorda com alguns dos argumentos levantados acima.
Para ele os países de clima temperado são, em média, duas vezes mais ricos que os tropicais. Uma razão é que, nos trópicos, a produtividade agrícola é mais baixa. Há pestes, insetos, doenças, e os solos tropicais tendem a ser menos produtivos. Na América do Sul, os países mais ricos em agricultura são os de clima temperado: Argentina, Uruguai, Chile e a metade sul do Brasil. O poder econômico no Brasil não fica na zona tropical, nas regiões Norte ou Nordeste. Fica mais ao sul, onde o clima é mais temperado. Obviamente, isso não quer dizer que as pessoas no Rio ou em São Paulo sejam mais inteligentes. É pura geografia.
Disse também que um país tropical que queira enriquecer precisa, em primeiro lugar, pensar em saúde pública, para evitar doenças tropicais. Se as pessoas adoecem durante metade do ano, com malária, febre amarela ou dengue, elas morrem mais cedo. Pegue-se o exemplo de um engenheiro que se forme aos 28 anos. Na África, pela expectativa de vida em alguns lugares, esse engenheiro morrerá aos 36 anos. Terá oito anos de vida profissional. No Japão, o engenheiro morrerá aos 81. São 53 anos de exercício de profissão. É indiscutível a vantagem. Malásia e Singapura são países tropicais do Sudeste Asiático. Há meio século, eram paupérrimos. Hoje, Singapura tem nível de Primeiro Mundo, e a Malásia está perto. Uma das primeiras coisas que os dois fizeram foi combater doenças tropicais. Depois, perceberam que sua vocação econômica não era plantar nem criar gado e viraram países de comércio e manufatura.
Tenho visto, inclusive na academia, professores me recriminarem por levantar um assunto deste, como se estivesse determinando o subdesenvolvimento do Brasil e do Nordeste, no entanto esta não é minha intenção. Apenas percebo isto claramente quando vejo um Mapa Mundi. Este assunto deveria ser melhor estudado sem preconceitos, levantando seriamente quais poderiam ser os fatores.
Apesar das exceções é difícil não perceber que o calor trouxe atraso tecnológico e econômico às regiões mais quentes, isto é visível em quase todo mundo.
Outro ponto não levantado acima é que gasta-se muito mais calorias para executar a mesma tarefa em países tropicais, o calor sufoca nossas forças e acabamos produzindo menos, juntando isto a um numero grande de indivíduos gera uma desvantagem muito grande nestas áreas.
Também percebemos a falta de interesse em produzir mais nas áreas tropicais, justamente por não passarem por invernos muito severos e, portanto não precisar gerar excedente em certas épocas do ano, as pessoas acabam se acomodando mais, deixando para depois suas tarefas. Sei que é difícil perceber isto, mas vamos olhar nossa realidade. Se as pessoas não precisam de roupas frias e caras, lares com calefação – na verdade no clima tropical as pessoas podem dormir em qualquer lugar – ou de se prepararem para temperaturas muito severas no inverno, elas não se sentem estimuladas a desenvolverem mais suas potencialidades.
Calma, não fiquem bravos novamente comigo, percebam as incoerências e reportem, porém não tenham medo de admitir certo grau de concordância.
Muitas pessoas tem medo destes determinismos humanos, seja do ambiente, seja dos instintos naturais, seja da linguagem, gostam de imaginar que são capazes de fazer qualquer coisa e que são livres para decidir sozinhos tudo a sua volta. Sinto informar para estes que temos muito pouca liberdade de escolha, quase tudo é determinado pelo ambiente, cultura, linguagem, formação familiar, etc. Então, não podemos ter pensamentos livres? Podemos, com muito conhecimento das coisas e de si mesmos. Parafraseando novamente meu colega Sócrates: conheça-te a si mesmo, esta é a única virtude realmente humana.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A Era do Twitter

Estamos definitivamente na era do superficial, do imediato e do provisório, portanto bem longe de algo que possa ser chamado de filosofia. Ao contrário do que muita gente possa achar, filosofia é uma ciência e como tal não tem “viagem” nenhuma, tem um objeto de estudo próprio e seus métodos racionais e lógicos de linguagem.
Fico imaginando o que podemos escrever em 140 caracteres que seja importante para alguma coisa ou para alguém. Um argumento ou uma idéia não pode ser desenvolvido em tão pouco conteúdo, então para que serve o Twitter? Ora bolas, para merda nenhuma, ou para informar alguém sobre a vida alheia, incrível como sites que contam sobre a vida cotidiana das pessoas prosperam, o facebook é um deles. Não vou mentir que não tenho uma conta lá, mas nunca falei sobre meus afazeres domésticos lá, quem iria querer saber se estou feliz ou triste? Ora bolas, que saco isto, recebo constantemente aviso sobre fulano feliz, sicrano cansado, realmente tem gente que não tem o que fazer, um escrevendo estas bobagens e outros comentando, incrível. Parece que estou mesmo fora de sintonia com o mundo.
Outro site destes é o Orkut, este nem posso falar muito, pois nem conta tenho, mas deve ser do mesmo estilo do facebook. Ora amigos, vamos discutir idéias, posições políticas, filosofia, ou alguma coisa que possa nos proporcionar algum conhecimento. O que está acontecendo com todos a minha volta? Todos parecem preguiçosos em ler algo que tenha mais de 140 letras, que pobreza de espírito. Outro dia um colega disse que não lia o blog da liga porque os textos eram muito extensos, que tristeza, realmente é melhor nem ler, não vai entender nada mesmo, se tem preguiça de ler, imagina para analisar a leitura, muito trabalho, rs.
A era do Twitter é a era do superficial, e encontrou neste site seu ápice, o cumulo do nada. Muita informação inútil. Estes dias li um artigo sobre o fim dos jornais e dos conteúdos jornalísticos, como ninguém quer pagar por nada na internet, os jornais não tem como prosperar e pagar os salários justos dos bons jornalistas. Dizem que será difícil produzir matérias bem feitas num mundo de blogs, facebooks e orkuts, ninguém está interessado em conteúdo, todos querem saber o que o próximo artista global comeu ontem, me poupem. Como alguns dizem por ai: parem o barco que eu quero descer.
Pois é, a Liga precisa fugir disto, e tentar, sempre, produzir conteúdo, idéias, discussões, ou qualquer coisa que estimule o conhecimento. Utilizamos um blog para fazer isto, e blog também não é a melhor ferramenta, não dá para produzir algo fundamentado em tão poucas palavras, no entanto esta é apenas uma ferramenta, vamos começar este ano nossas reuniões semanais onde buscaremos a discussão de textos e artigos com fundamento e também procuraremos produzir os nossos, como muito vinho é claro, aguardem.