sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O que é a morte? – Visão da ciência – A morte de uma célula

“Se você não sabe como morrer, não se preocupe. Em algum momento a natureza o instruirá plena e suficientemente. Ela o fará precisamente por você; não se preocupe com isto” – Montaigne
As células são os “átomos da vida” para os seres vivos, elas são responsáveis por toda a diversidade de vida em nosso planeta. Entretanto sabemos que a vida não começou na forma de animais pluricelulares como os humanos, na verdade a composição da terra há bilhões de anos atrás criou um cenário propicio para o surgimento dos primeiros seres vivos que foram as células unicelulares, a ciência já conseguiu recriar em laboratório este cenário e conseguiu reproduzir a criação destes primeiros seres.
Estes organismos iniciais ainda existem hoje como bactérias, fungos, amebas e muitas outras formas de vida unicelular. As células, sejam indivíduos isolados ou parte de um organismo pluricelular, agora surgem somente de outras células, isto quer dizer que as bactérias e seres unicelulares existentes hoje são descendentes dos primeiros organismos há bilhões de anos. Este ponto é importante uma reflexão: nem todo ser vivo é programado para morrer, na verdade os seres unicelulares são imortais, eles somente morrem em decorrência de acidentes ou mudanças no ambiente, é bem possível que ainda hoje encontremos bactérias de bilhões de anos de existência.
Outro ponto importante é que todos os seres vivos do planeta nascem de uma única célula, ou seja, todo ser humano começa com uma célula, formada pela união de um espermatozóide com um óvulo.
Uma célula pode morrer de 3 formas: acidente ou infortúnio, chamada de necrose; por morte programada em seu DNA, a senescência; ou por autodestruição ou suicídio, chamada de apoptose. Isto mesmo que você leu, uma célula pode se autodestruir, esta descoberta foi um dos principais avanços no estudo da morte, algumas células de nosso corpo são programadas ou podem ser levadas a se suicidar em decorrência de algum evento importante de nossas vidas. Quando comentem suicídio, as células estão reagindo a um programa que não podem alterar de jeito nenhum e o numero de situações em que esta necessidade aparece é surpreendentemente grande. Como exemplo temos os neurônios, sua morte é o estado padrão de sua criação quando são enviados ao sistema nervoso central. Somente quando encontra uma conexão com outra célula é que desativarão seu programa de morte, cada célula nervosa que não encontra ou não consegue fazer uma conexão deve morrer cometendo suicídio. As células do sistema imunológico seguem o mesmo padrão, se não encontram nada para eliminar, devem morrer.
Outra descoberta importante é que toda célula do corpo tem embutido em si um programa de autodestruição, que podem ser ativados por outras células.
Próximo texto: Porque morremos?

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O que é a morte? – Visão da Ciência – Introdução

Continuamos sobre o tema proposto anteriormente, segue abaixo os pontos mais importantes referentes aos primeiros capítulos do livro “Sexo e as origens da Morte – como a ciência explica o envelhecimento e fim da vida”.
O conhecimento realmente nos traz muita responsabilidade e ao mesmo tempo um medo muito grande das coisas que não podemos explicar. E a morte como o fim de nossa existência é o maior destes medos, somos os únicos seres no planeta que sabem que um dia vão morrer, criamos com isto inúmeras explicações para ela, nenhuma sociedade na história humana deixou de ter uma explicação para isto. A morte é tão importante para nós que ela influencia nossas vidas individuais e também nossos atos coletivos. Entende-la é uma parte muito importante da história humana.
Não existe uma área específica da ciência que estude a morte, na verdade a ciência tem até estudado muito pouco este assunto. Tem se preocupado mais em relação à vida das espécies e esqueceu que a morte ou o fim da vida é também importante para explicar a própria existência dos seres vivos.
Portanto, o que é a morte? A melhor maneira de estudar a morte é procurar entender a menor unidade indivisível da vida humana que é a célula. Neste ponto não somos diferentes dos outros seres vivos, todos são condenados a morrer como condição do nascimento e a morte de todos começa com a morte de algumas células.
Surpreendentemente, para os organismos unicelulares, evolutivamente mais antigos, a morte não é uma característica obrigatória da sua vida na terra. Parece que o envelhecimento e morte só tenham passado a existir muito após o surgimento dos seres unicelulares. A morte programada, ou morte por envelhecimento, ou senescência, somente apareceu quando as células começaram a experimentar o sexo ligado a reprodução. A ciência chama este período de perda da inocência, bem sugestivo.
Próximo Texto: A morte de uma célula.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O que é a morte?

Começaremos a partir de hoje uma série de artigos e debates sobre o tema: “O que é a morte?”, este tema é bastante complexo e gostaria que sugestões de textos e comentários fossem disponibilizadas para aumentar o conhecimento e o nível de discussão a ser travada.
Sugiro que a seguinte ordem seja seguida visando um melhor aproveitamento do tema e que os comentários enviados por email para mim fossem feitos nos comentários abaixo de cada artigo:
1. Visão da ciência
2. Visão das religiões
3. Visão da Filosofia
Nos próximos dias estarei publicando um resumo com meus comentários sobre a visão da ciência sobre a morte baseada no livro:
Sexo e as origens da morte: como a ciência explica o envelhecimento e o fim da vida
William R. Clark
Abraços a todos

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Idéia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita – Proposições 8º e 9º

Finalizando o tema “liberdade humana” onde começamos com a 1º de 9º proposições de Kant, descrevo abaixo um resumo das últimas proposições 8º e 9º. Quem ainda não leu da 1º a 7º favor dar uma olhada nos artigos anteriores para melhor compreensão.

Oitava proposição

Kant agora nos revela seu interesse em determinar a história humana, e que esta história é determinada pela disposição natural da raça humana e não depende da vontade individual de seus indivíduos.
Estas disposições naturais, na verdade, caminharão para o estabelecimento de uma constituição republicana, pois será determina pela vontade da maioria de seus cidadãos e das relações entre seus estados vizinhos.
Aparentemente não conseguimos hoje vislumbrar esta constituição perfeita, que Kant chama de estado cosmopolita universal, no qual poderemos desenvolver todas as nossas disposições originais da espécie humana. Vivemos ainda em conflitos de relações muito acirradas entre nações que impedem o estado de direcionar seus recursos para o aperfeiçoamento, através da educação, de seus cidadãos.

Nona proposição

A tentativa de Kant de estabelecer uma história universal do mundo e aonde esta historia irá nos levar, não é seu objetivo, e seria impossível esta determinação, a razão não pode ser determinada, pois não sabemos com exatidão o caminho e os obstáculos que serão encontrados, nem tão pouco podemos determinar aonde é o ponto de chegada.
Mas Kant procura deixar claro que seu objetivo não é determinar o ponto de chegada e sim estabelecer um fio condutor deste caminho e que poderá servir, como um sistema, para determinar um plano das ações humanas.
Podemos concluir ao observar o desenvolvimento humano até agora que existe sim um curso regular do aperfeiçoamento de uma constituição civil buscando revolver os conflitos gerados pelo excesso de liberdade entre os estados e seus cidadãos.
Parece-me louvável este estudo e a conclusão de Kant sobre o curso da história humana até os dias atuais, mas farei algumas considerações a seguir.

Considerações Finais

A história da humanidade realmente parece caminhar como Kant nos revela, o desenvolvimento da raça humana pressupõe o desenvolvimento da razão humana e esta acontece no estabelecimento de leis que regulam as relações entre os seres. No entanto parece-me um pouco exagerado a idéia que o desenvolvimento da razão e da sociedade humana seja regulado e determinado por leis naturais. Não me parece que a razão possa ter limites tão estabelecidos de seu desenvolvimento e que estes sejam totalmente determinados.
A liberdade do desenvolvimento da razão pode ser direcionada pelos conflitos gerados nas relações humanas e sociais, mas não podem ser controlados e determinados individualmente. Não creio que nosso fim como homens possa ser determinado.
A razão humana pode ser direcionada por leis naturais, entretanto não pode ser medida por estas leis. O desenvolvimento da razão humana, segundo Kant, não pode ser controlado individualmente, mas poderia e é medida coletivamente através do desenvolvimento das sociedades. Este argumento é forte mais ainda não foi provado, já que ainda estamos em estágios inicias desta história; o desenvolvimento humano também é marcado por idéias e brilhantismo de seres individuais que romperam as leis criadas pelas sociedades na história, e que influenciaram o modo de viver de gerações futuras. A liberdade no pensamento individual pode também influenciar o coletivo e não somente o contrário, e como este não pode ser determinado então às variáveis neste sistema, não podem ser determinadas, nem controladas, da maneira como Kant as apresenta.
As relações humanas moldam e amplificam nossa razão e nosso modo de pensar, mais não determinam isto, por isto não podemos afirmar qual será o destino da raça humana. As relações humanas podem ser alteradas e modificadas e por isto não podemos determinar qual será esta constituição perfeita universal. A razão em si também sofre evolução e uma constituição perfeita em determinado espaço e tempo, pode ser derrotada em outro.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Re-socialização x Punição

Primeiramente gostaria de dizer que não tenho a pretensão de discorrer de forma acadêmica sobre o assunto, já que não tenho formação em direito nem tenho embasamento jurídico para formar opinião conclusiva sobre o assunto. A intenção seria descrever um ponto de vista do cidadão, de um membro da sociedade sobre um assunto de tamanha importância e que deveria ser merecedor de muita discussão acadêmica e nos meios jurídicos.
Constantemente temos escutado decisões jurídicas baseadas na frase “... o papel de pena é a re-socialização do preso...” ou “... o preso que não oferece mais risco a sociedade não deve mais continuar preso...”, temos visto várias decisões de juízes baseadas nestas premissas. O que devemos avaliar neste momento não é se estas decisões são justas, ou são corretas, ou ainda se são baseadas em princípios universais, devemos analisá-las sobre o aspecto social, ou seja, esta decisão tem amparo nos anseios e expectativas da sociedade?
Desde Kant as leis foram criadas para transparecer um desejo social de convivência mútua e não de serem impostas pelos legisladores ou pelos princípios de justiça estabelecidos pelos juristas, alias qual seriam estes princípios? Não existem verdades neste terreno, não existe certo ou errado, quem define o papel de limitador para uma boa convivência social é a própria sociedade. Esta sim deve estabelecer os limites do certo ou errado e que é diferente em cada sociedade do planeta.
Após esta breve descrição sobre os princípios da justiça, vamos discorrer mais sobre os diversos pontos de vista deste tópico.
A re-socialização do preso deve sempre ser uma das metas a serem alcançadas, já que em algum momento este indivíduo será devolvido à sociedade e devemos nos assegurar que ele tenha condições de viver novamente sem cometer crimes. No entanto esta meta é de responsabilidade do sistema prisional, dos presídios e do poder executivo que é o responsável pelo cárcere destes presos. Considero inadequado que o poder judiciário tenha em suas leis a previsão de reduções altíssimas de pena, como exemplo de 5/6 em caso de bom comportamento, ora quem deve avaliar se o preso tem condições ou não de viver novamente em sociedade? Um juiz ou o responsável pela guarda deste elemento? Precisa-se ter muito cuidado quando o poder judiciário começa a participar demais da execução das ações sociais, o principal papel deste poder é de regular, controlar e julgar os atos cometidos pelos outros poderes, não te interferir em sua execução.
Dentro deste contexto considero que o papel do poder judiciário não é de buscar a re-socialização dos condenados e sim de puni-los, de avaliar a pena para o delito que cometeram e de estipular a pena que deve ser cumprida pelo erro cometido. Quando a sociedade prende um cidadão pelo erro cometido, em primeiro lugar, este cidadão deve pagar através de uma pena pelo seu erro. A função da justiça é estabelecer uma pena para o delito e não buscar a re-socialização do mesmo, esta busca é responsabilidade do poder executivo.
Esta dissonância entre os anseios da sociedade e o poder judiciário é a principal causa de descontentamento entre estes entes, a sociedade precisa ter a certeza que quando alguém comete um crime este será julgado e pagará a pena estabelecida como PUNIÇÃO pelo delito infringido.
Pelo pretexto de re-socialização soltam presos de crimes graves que cumpriram apenas 1/6 da pena, ora cadê a punição? Para que serve um julgamento sem punição? Toda a sociedade brasileira precisa de uma reformulação, os problemas não são somente políticos, o poder judiciário não atende mais os anseios da sociedade, sua principal função de reguladora não está sendo atendida; crimes considerados sem periculosidade como sonegação, corrupção são julgados através de penas leves como prisão domiciliar, liberdade condicional ampliada, cestas básica. Entretanto são estes crimes, entre outros, que destroem a sociedade por dentro, pois são crimes que envolvem a moral e ética de uma sociedade, sonegação é um crime gravíssimo, quando sonega, um cidadão está roubando seu próximo, está tirando de seu vizinho uma parte de seus benefícios sociais.
O poder judiciário deve começar a rever os princípios que tem regido a maioria de suas decisões, muitas vezes buscando diminuir o contingente de presos devido a falta de condições mínimas de dignidade no sistema prisional, a justiça passa para o descrédito quando solta criminosos que ainda não cumpriram a totalidade de sua pena com o pretexto de que este não oferece mais risco a sociedade. Volto a bater nesta tecla, o papel da justiça é estabelecer uma pena para um crime cometido, esta pena tem caráter PUNITIVO.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Idéia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita – Proposições 6º e 7º

Dando seguimento ao tema “liberdade humana” onde começamos com a 1º de 9º proposições de Kant, descrevo abaixo um resumo das proposições 6º e 7º. Quem ainda não leu da 1º a 3º favor dar uma olhada nos artigos anteriores para melhor compreensão. Posteriormente estarei enviando as proposições seguintes, da 8º a 9º.

Sexta proposição
Kant nos coloca agora a seguinte pergunta: como podemos desenvolver nossas potencialidades com liberdade de vontade, com oposição e coerção social e com limitação, sem gerar conflitos que tornem impossível o convívio social?
O homem sempre abusará de sua liberdade individual e sempre se inclinará em sua busca, por isto ele tem necessidade de um senhor, de alguém que o regule e quebre sua vontade particular e o obrigue a obedecer à vontade universalmente válida.
Esta realmente parece ser um dos maiores desafios para a espécie humana, como encontrar alguém, humano, que lance mão de suas vontades particulares e submeta-se a cumprir e a estabelecer metas universais, contrariando sua própria natureza egoísta e individual.
Parece-me que este ponto será atingido pela espécie em inúmeras tentativas de erros e acertos, onde a experiência adquirida irá, aos poucos, estabelecer critérios de escolhas onde se possa atingir uma constituição possível, e uma boa vontade de sua maioria para aceitar esta imposição.

Sétima Proposição
O estabelecimento de uma constituição civil perfeita é um objetivo que a razão deve alçar, e que somente pode ser alcançado com a resolução dos problemas gerados entre as próprias sociedades existentes. A relação entre os estados tem a mesma origem dos conflitos descrito na proposição sexta, ou seja, do mesmo desafio de limitar a liberdade de uma sociedade em contra posição a liberdade da outra.
Para uma sociedade atingir uma constituição perfeita, ela precisa primeiramente resolver seus problemas e conflitos com outros estados concorrentes e isto somente pode ser alcançado quando estas sociedades também saírem do estado sem leis dos selvagens e buscarem nas leis resolverem seus conflitos e desavenças.
Como comentado na proposição anterior, o estado precisa abdicar de sua liberdade total sem limites e buscar numa constituição seus limites em relação aos outros. Somente assim poderá encontrar um equilíbrio para o pleno desenvolvimento das finalidades naturais de seus cidadãos.
Um estado que não busque este equilíbrio estará privando seus indivíduos de seus propósitos e em algum momento e viverá em conflito até que perceba que seus propósitos expansionistas e muitas vezes egoísta, quando tentar impor seu modo de agir e pensar, estará indo de encontro com o perfeito desenvolvimento de suas partes, seus cidadãos.
Considero que Kant coloca com muita propriedade esta questão. O desenvolvimento dos humanos depende muito do desenvolvimento da sociedade em que estão dispostos, pois as relações humanas dependem das relações entre as sociedades e estas últimas moldam sua constituição civil.
O homem pode viver sem conflitos em seu estado selvagem, mais jamais atingirá suas disposições naturais sem conviver com seus pares. Contrariando Rousseau, é justamente na desigualdade gerada nas relações humanas que desenvolvemos nossas capacidades e saímos de um estado animal para uma realidade humana. Nossa razão somente é plenamente desenvolvida com a desigualdade e competição entre nossos pares.