terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Peixinho Doido

Há muito tempo atrás quando terminei minha primeira faculdade de Administração, tinha uma empresa de representação, uma namorada, um carro, acabara de me formar, ou seja, tinha tudo para começar uma vida boa, digamos padrão.
Depois que li este texto, repassado pela minha professora de comunicação, mudei totalmente minha vida. Vendi meu carro, peguei o dinheiro e me joguei no mundo em busca de experiências, deixei tudo que tinha para trás para viver o inesperado, o novo. Fui viajar o mundo por um ano e meio.
Procuro este texto há muito tempo e somente hoje achei na internet. Lendo-o agora novamente, me emociono ao ver que o vivi literalmente. Ele mudou minha vida e espero que também toque a de vocês e que novos peixinhos doidos nasçam pelo mundo e descubram que a vida pode ser muito mais do que achamos apenas vivendo como os outros.
Apenas lembrando e comparando com os pensamentos de Nietzsche, nos textos sobre Zaratustra, percebam que há muita semelhança entre eles.
O mais importante na vida é o querer.

Texto:

Era uma vez um peixinho que vivia em um aquário e, ele pensava que o aquário era o mundo. O pai, muito rico explorava as algas do fundo do aquário. A mãe era uma peixinha muito conhecida, por isso ele e os irmãos iam herdar as riquezas do pai.
Uma noite, ele acordou e perdeu o sono. Só que desta vez ao invés de ficar pensando na vida, resolveu dar uma volta e, então, descobriu que o mundo não era só um aquário; havia um rio que se perdia no infinito.
Ai o peixinho ficou muito grilado e acordou os irmãos para contar sua descoberta. Cada um achou uma coisa: o primeiro achou que ele estava com febre, o segundo que ele tinha bebido, o terceiro não achou nada, e o último achou que ele tinha ficado louco.
E contou pro pai (peixão preocupado) que conversou com a mãe (peixinha nervosa) e resolveram levar o filho a um peixiatra. Mas o peixiatra era daqueles que costumam jogar os livros na cabeça e no coração dos peixes; rapidamente achou que ele estava maluco mesmo, e o internou em uma clínica peixiátrica onde ele tomou muitos remédios para que continuasse a acreditar que o mundo era só um aquário mesmo.
O que é pior, ele quase acreditou que estava louco mesmo, mas conseguiu fugir da clinica e todas as noites ia namorar o mundo através do vidro.
Como era muito religioso resolveu procurar o grande sacerdote do aquário (peixão barbudo). Mas o sacerdote também sabia que o mundo não era só um aquário; não que ele tivesse visto, mas porque estava escrito em um daqueles velhos livros onde os sacerdotes aprendem coisas. Entretanto, por saber que todo aquele que pensa e sente de uma forma diferente dos outros pode sofrer muito, o sacerdote fez tudo para convencer o peixinho a desistir daquelas idéias; lhe ensinou um monte de rezas e lhe deu um terço cheio de conchinhas coloridas para que não pensasse mais nestas coisas. Aí o peixinho teve a sua segunda grande descoberta; não adiantava ficar no aquário reclamando dos outros; se ele não estava satisfeito, que fosse embora. Então, todas as noites, subia um pouquinho até que um dia, ficou deitadinho em cima do vidro olhando para frente e para trás. Quando olhava para trás pensava: este aquário é tão bom! Além do mais eu já sei quase tudo. Mas este rio me tenta porque eu não sei nada dele! De repente, Ploft! Até hoje não se sabe se pulou, se caiu, se escorregou e já estava do outro lado podendo ir ou voltar. Então, olhou para a mãe com a sacola do supermercado, o pai com sua pasta de homem importante, os irmãos indo para a escola e, se mandou...
O começo foi difícil. Ele foi aprendendo a se esconder, descobriu que ficar com raiva não era pecado mortal, como haviam lhe ensinado no aquário. Às vezes era preciso brigar, para sobreviver. Um dia ele fez um amigo e então se descobriram e seguiram a caminhada sem destino. Até que um dia o amigo olhou para um ponto da margem do rio e disse: vou ficar aqui, porque o meu objetivo era chegar até aqui. Mas o do peixinho não era; para falar a verdade ele não sabia o que era ter um objetivo. Aí descobriu que ia perder um amigo e ficou muito triste. Mas depois descobriu que ninguém perde ninguém; podia ser que um dia o amigo estivesse muito na sua frente, podia ser que ele, o peixinho voltasse. Podia ser tudo. Então como podia ser qualquer coisa, ele se foi.
Até que um dia ele encontrou uma peixinha. E, namoraram em cima dos corais, se descobriram e se foram. Até que uma noite a peixinha se fez bem bonita, botou vestido longo da cor das Águas e sentou-se em sua frente, olhando no fundo do seu olhar. Eles já se conheciam tanto que não precisavam mais das palavras para se dizer, e no silêncio ela lhe disse: - Sabe? Acho que a gente vai se separar, porque pelo menos hoje você é um poeta e eu sou uma peixinha; e o que eu queria é que a gente se casasse, que você comprasse tinta para eu pintar minhas escamas e fizéssemos uma casa bem bonita onde recebêssemos os amigos e pudéssemos criar nossos filhos. Mas se você ficasse porque eu estou pedindo sei que você seria um enfeite na minha sala. E o peixinho em silêncio disse: - Sabe? O que eu queria era que você seguisse comigo na viagem; podia ser que daqui a um segundo a gente se casasse e tivesse uma casa; mas se você fosse porque eu estou pedindo, será¡ que seria bom?E eles se separaram se amando.
E o peixinho chorou; descobriu que peixe que chora nem sempre é frágil, como lhe haviam ensinado no aquário; que às vezes é preciso chorar. E foi.
Até que um dia descobriu que o mundo não era só um rio, que o rio dava para o mar. No começo sentiu paz. Como é que peixe de Água doce vai viver na Água salgada? Enfim ele tinha chegado a um limite. Mas depois foi ficando tenso, e começou a estudar muito como ele era feito por dentro. Pesquisou, aprendeu até descobrir que as coisas podiam mudar, saltou para o meio do oceano.
Então, namorou a sereia, apaixonou-se por uma concha, brincou com a estrela do mar, e entrou na boca do tubarão, até que um dia descobriu que o mundo não era só Água. Havia o resto. Novamente paz! Como é que peixe vai viver no resto? Mas depois foi ficando novamente tenso, e começou a estudar como é que ele era feito por fora. Estudou, pesquisou muito, até que descobriu que poderia se transformar num passarinho.
Aí sentou-se em cima da nuvem, voou num raio de crepúsculo, bebeu uma taça de arco-íris, ganhou, perdeu, fez ninhos, desfez, até que um dia apaixonou-se por uma bolinha de sabão.
Ele vinha voando e ela vinha dançando, refratando a luz nas suas cores. Mas no momento que eles iam entrar um no outro, os dois tiveram medo. Cara, acho que não vai dar, porque eu tenho um dono; é um passarinho que vem me ver todos os anos, quando chegam às aves de arribação. Eu também estou com medo; afinal de contas também deixei uma peixinha no meio do caminho. Mas olhe só! Se minha peixinha ficou lá e o seu dono só vem daqui a um ano, porque a gente não pode namorar agora? Ah! Acontece que o peso dele eu já conheço e sei que quando ele entrar dentro de mim e eu dentro dele nós não vamos nos arrebentar. Mas eu não conheço o seu peso, nem você conhece o meu; pior que isto tenho muito medo que a gente se arrebente todo de tanta surpresa.E aí o peixinho e a bolha de sabão descobriram que, às vezes existe muito medo. E ele se foi.
Até que um dia descobriu que o mundo é muito maior que um planeta; novamente a paz. Como é que um peixe pode voar fora do planeta? Novamente tensão. E ele voltou a pesquisar muito, para saber como seria possível viver fora do mundo. Então fabricou uma roupa de aeronauta e pulou para o meio das estrelas.
Conversou com o sol, namorou com as estrelas cadentes, andou a cavalo num cometa, até que, um dia descobriu que era o rio, o aquário, a bolha de sabão, que era tudo. E viveu assim um segundo ou mil anos-luz, até que um dia sentiu uma enorme tensão, pois descobriu que ser tudo não é a última coisa. Então: Era uma vez um peixinho que morava num aquário e acordou assustado de tanto sonho!
O Peixinho Doido, de vez em quando, passa pela minha cabeça e pelo meu coração. Ele me conta que todo mundo é capaz de perceber suas passagens, mas como a maioria das pessoas vive muito ocupada com as suas ambições e com os seus sofrimentos, pouca gente se descobre.
Na última vez, ele me contou que sua viagem solitária lhe ensinou muito, mas agora ele está em busca de algo novo: ele quer companheiros. Mesmo sabendo que às vezes os peixes e as bolhas de sabão às vezes sentem medo!
Autor: Aluizio Collares

Seguem abaixo as sequencias do peixinho feitas por mim:

2) http://ligadavirtude.blogspot.com.br/search?q=peixinho+doido

3) http://ligadavirtude.blogspot.com.br/2010/03/peixinho-esquentado.html

4) http://ligadavirtude.blogspot.com.br/2010/04/peixinho-bobo.html

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo IV

Texto na Integra:
IV
Mas Zaratustra contemplava, admirado, a multidão e lhe falou assim:
“O homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem – uma corda sobre o abismo. Perigosa a travessia, perigoso o percurso, perigoso olhar para trás, perigoso o tremor e a paralisação.
A grandeza do homem está em ser ponte e não meta: o que nele se pode amar é o fato de ser ao mesmo tempo transição e declínio.
Amo os que só sabem viver em declínio, pois são os que transpõem.
Amo os que desprezam com intensidade, pois sabem venerar intensamente, e são flechas lançadas pelo anseio-da-outra-margem.
Amo os que não se satisfazem em procurar além das estrelas uma razão para serem declínio e oferenda, mas que, ao contrário, se sacrificam a terra para que esta um dia se torne a terra do super-homem.
Amo o que vive para conhecer, e quer conhecer para que um dia o super-homem viva. E quer assim o seu próprio declínio.
Amo o que trabalha e inventa para construir a morada do super-homem, e prepara para ele a terra, os animais e as plantas. Pois assim quer o seu declínio.
Amo o que ama a sua própria virtude, pois que a virtude é vontade de declínio e flecha do desejo. Amo o que não guarda para si nem uma só gota de seu espírito mas quer ser inteiramente o espírito de sua própria virtude. É dessa forma que ele, como espírito, atravessa a ponte.
Amo o que faz da virtude inclinação e destino, pois ele, por amor à sua virtude, quer viver ainda e não mais viver.
Amo o que não quer virtudes em demasia. Uma única virtude é mais virtude do que duas, pois ela é o nó mais forte onde se ata o destino.
Amo o que prodigaliza sua alma, e que, ao fazer isto, não visa á gratidão nem ao pagamento; pois sempre dá e nada quer em troca.
Amo o que se envergonha quando o dado cai a seu favor, e então pergunta: serei um trapaceiro? – pois é para sua ruína que ele quer se encaminhar.
Amo o que antecede com palavras de ouro os seus atos e sempre cumpre mais do que promete; pois ele quer o seu declínio.
Amo o que justifica os que serão e resgata os que foram; pois quer perecer por aqueles que são.
Amo aquele que pune seu Deus porque o ama; porquanto só poderá perecer pela cólera de seu Deus.
Amo o que, mesmo ferido, tem a alma profunda, e que um simples acaso pode fazer perecer. Assim, ele atravessa de bom grado a ponte.
Amo aquele cuja alma transborda e a tal ponto se esquece de si que todas as coisas nele encontram lugar. Assim, todas as coisas se tornam seu declínio.
Amo todos aqueles que são como pesadas gotas caindo uma a uma da negra nuvem que paira sobre os homens; anunciam a chegada do raio e perecem como anunciadores.
Vede, sou o anunciador do raio, uma gota pesada dessa nuvem. Mas o raio se chama super-homem.”

Comentários:
Viva Nietzsche, viva.
Precisamos destruir este homem, eliminá-lo, decliná-lo, para posteriormente construir outro, sem esta moral dualista e que afasta o homem de seu eterno recomeço.
Temos que explicar melhor a intenção de Nietsche, ele fala o tempo inteiro em declínio, não de forma negativa, ele apenas quer desmoralizar o homem existente para depois criar algo novo. Este novo homem, chamado de super-homem, também não tem uma verdade uniforme, para o autor este homem depende apenas de suas vontades para atingir suas metas. Nietzsche não busca uma meta ou verdade, para ele o importante é o querer, a vontade individual de cada um, aonde vai chegar? Não importa, o homem é ponte, não meta. Não existem padrões, nem verdades absolutas.
O importante agora é que o homem não seguirá mais nenhuma moral ou verdade, ele será um ser em eterna transmutação, querendo sempre algo novo, criando sempre algo novo, este é o novo homem, o super-homem.

A criação de uma nova metafísica
O Deus de Zaratustra não é o Deus do sofrimento, da culpa, não é o Deus judaico-cristão.
O Deus do autor é o da vontade afirmativa e criativa, com vontade de crescimento, de potência, de expansão, de afirmação de si mesmo, da espontaneidade, um Deus sem intenções nem morais nem lógicas.
Vejam as diferenças, Nietzsche não era ateu, ele muda os adjetivos do Deus conhecido e propõe um novo, ele cria uma moral, não é amoral.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Zaratustra – Nietzsche – Prólogo – Capítulo III

Texto na Integra:
III
Assim que chegou à cidade mais próxima, na orla da floresta, Zaratustra encontrou muita gente reunida na praça principal, para ver um funâmbulo que fora anunciado. E Zaratustra dirigiu-se assim à multidão:
“Eu vos proponho o super-homem. O homem é algo a ser superado. O que fizeste para isto?
Até então, todos os seres imaginaram algo superior, acima de si mesmos, e vós quereis ser acaso o reverso desse grande fluxo, preferindo antes voltar ao animal do que chegar ao super-homem?
O que é o símio para o homem? Objeto de riso ou ignomínia. E é justamente isso que o homem deve ser para o super-homem: objeto de riso ou ignomínia.
Já fizeste o caminho que vai do verme ao homem, mas ainda há muito de verme em vós. Outrora fostes símios, contudo ainda hoje o homem é mais símio que qualquer dos símios.
O mais sábio entre vós não passa de um conflito, um ser híbrido entre a planta e o espectro. Porventura ordenei que vos tornásseis espectro ou planta?
Vede, eu vos ensino o super-homem!
O super-homem é o sentido da terra. Fazei dizer à vossa vontade: que o super-homem seja o sentido da terra!
Eu vos conclamo, irmão, permanecei fiéis à terra e não acrediteis nos que vos falam de esperanças ultraterrenas! Não passam de envenenadores, conscientes ou não.
São gente que despreza a vida, seres agonizantes, igualmente intoxicados, dos quais a terra se cansou. Que eles, pois, desapareçam!
Outrora, a ofensa a Deus era a maior das ofensas, mas Deus está morto, e com ele morreram seus detratores. O terrível, agora, é injuriar a terra, pois seria dar mais valor às entranhas do insondável que ao sentido da terra!
Outrora, a alma olhava o corpo com desprezo, e esse desprezo era o que havia de mais sublime. A alma queria o corpo magro, horrendo, faminto. Pensava, assim, sobrepor-se a ele e á terra.
Oh, mas essa alma era também magra, horrenda e faminta, e a crueldade era toda a sua volúpia!
Mas vós, irmão, dizei-me: que vos informa o vosso corpo sobre vossa alma? Não é ela miséria, imundície e reles bem-estar?
Em verdade, um rio imundo é o homem. E só o mar pode absorver um rio imundo sem macular-se.
Qual o mais sublime experiência que poderíeis viver? É a hora do grande desprezo. Essa hora em que mesmo para vós a felicidade se transforma em náusea, e bem assim vossa razão e vossa virtude.
A hora em que dizeis: “Que é afinal minha felicidade? Simplesmente miséria, imundície e reles bem-estar. Ora, minha felicidade devia ser a própria justificação de minha existência!”
A hora em que dizeis: “Que é afinal minha virtude! Ela ainda não me fez revoltado. Como estou farto de meu bem e de meu mal” aqui só há miséria, imundice e satisfação grosseira!”
A hora em que dizeis: “Que é afinal a minha justiça? Não me sinto um carvão em brasa. Ora, o justo é um carvão em brasa!”
A hora em que dizeis: “Que é afinal a minha compaixão? A compaixão não é a cruz onde se prega aquele que ama os homens? Ora, minha compaixão não cruscifica!”
Já falastes assim? Já gritasse assim? Ah! Por que ainda não vos ouvi gritar assim?
Não é vosso pecado, mas vossa medida que brada aos céus, é vossa avareza no pecar que brada aos céus!
Mas onde está o raio que vos virá lamber com sua língua? Onde a loucura de que deveríeis inocular-vos?
Vede, eu vos ensino o super-homem: ele é esse raio, essa loucura!”
Ao terminar Zaratustra de falar assim, alguém exclamou na multidão: “Já ouvimos demais sobre o funâmbulo, queremos agora vê-lo!” E toda a multidão se riu de Zaratustra. Quanto ao funâmbulo, acreditando que estas palavras lhe dissessem respeito, logo se preparou para iniciar o seu trabalho.

Comentários:
Não posso deixar de falar sobre minha admiração deste capítulo de Nietzsche, somente ele poderia descrever tão bem o que é uma vida religiosa que transforma o homem em mero expectador do mundo e da vida.
Com isto ele anuncia um novo homem com as responsabilidades da superação e da direção de sua própria vida. A chegada do super-homem é o clímax do pensamento de Nietzsche em Zaratustra.
O que é afinal o super-homem? Vamos estabelecer algumas características do dele de acordo com o retirado do texto acima:
Ø Não crê no além, recusa a existência de Deus;
Ø Acredita na Terra;
Ø Recusa o dualismo entre bem e mal, céu e terra, mundo divino e terreno;
Ø Diz sim a vida, sim ao ser, sim a vontade de criar e de criar-se a si mesmo;
Ø Grande desprezo a moral vigente baseada na idéia de divino (bem e mal), de caráter pobre, temeroso e frágil;
Ø Felicidade como justificação da própria existência e finalidade da vida;
Ø Despreza a razão, Nietzsche quer desprezar as decisões previsíveis, esperadas e sem risco da razão, a razão e a ciência estão preocupadas com a segurança, uma verdade clara, não quer conhecer, quer tranqüilizar, querem um mundo previsível, lógico, onde o acaso não tem lugar nenhum;
Ø Despreza a virtude
Ø Despreza a Justiça
Ø Despreza a compaixão
Zaratustra mostra seu desprezo com a moral vigente e busca libertar o homem das amaras religiosas e científicas, recusa a religião moralizante e culpabilizante.
Outro ponto importante é que o autor começar a delinear algo novo na história da filosofia, que apenas evidenciamos assimilações superficiais na realidade e que em cada época as verdades se modificam, assim como o mundo, assim como as leis naturais, etc. Para Nietzsche mais importante que o “Ser” é o “Querer”, isto é chamado de vontade de potência.
Começa aqui meus problemas com a psicologia. Em geral, os psicólogos buscam a verdade no ser, no “eu” interior, na personalidade única de cada indivíduo, e acho que o foco está totalmente errado (os psicólogos vão me matar, mais a discussão é importante, sempre).
Para mim, assim como Nietzsche escreveu, o que importa não são nossos problemas, nem em nosso “eu”, o problema está justamente no querer de cada indivíduo, o foco deve ser direcionado no querer, no onde queremos chegar e não no problema em si. Por exemplo, as vezes vemos um individuo com muitos problemas pessoais mudar radicalmente apenas por ter entrado em alguma religião ou Igreja, isto acontece por que ele mudou o querer, este deveria ser o foco dos psicólogos, e aí está minha maior crítica a eles.
E que venham as críticas dos psicólogos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Com muito risco, please

Dando um pulo na continuação dos artigos sobre Zaratustra de Nietzsche, que voltam na semana que vem, gostaria de falar um pouco sobre uma palavra muito utilizada no meu ramo de trabalho, na economia, nas finanças e que tem tudo a haver com nossa própria vida, escolhas e liberdade. A palavra é Risco.
Vamos começar pela definição de risco para o mercado financeiro, prometo ser rápido: risco é a probabilidade de um determinado ativo ou acontecimento ocorrer ou não. E quanto maior for a distancia alcançada do alvo, maior o risco.
A vida não é exatamente assim? Não sabemos o que vai acontecer, não podemos determinar nada com 100% de grau de certeza. A imprevisibilidade é marca registrada em nossa existência, não sabemos quando começa nem quando termina esta.
A prova que o risco é inerente a tudo no universo, começa na determinação da matéria mais essencial, o átomo. Não é possível determinar a posição dos elétrons, os geradores de energia primária do universo. A probabilidade pode ser calculada, mas os riscos de imprevisibilidade estão lá e não podem ser 100% determinados. Que loucura, parece que tudo é relativo mesmo, e isto para mim é que é fascinante e maravilhoso. Tudo que é 100% determinado é monótono, chato e desestimulante.
Imaginem a vida determinada por destinos, como se tudo estivesse escrito. Sério, vamos analisar friamente: seria um tédio, seria muito chato imaginar que tudo está escrito e determinado a acontecer independentemente de sua vontade ou não. Volto a atacar a idéia de paraíso bíblico novamente, o paraíso onde todos são iguais e tem tudo que precisam, ora, isto também seria um tédio, o risco dos acontecimentos vem ao lado da necessidade que temos de querer mais, almejar mais, desejar mais, amar mais, etc.
Alguns têm medo deste risco todo; risco de amar, de desejar, de viajar, de morrer e de viver também, pois vida pressupõe coragem e riscos, muitos riscos que devemos nos defrontar.
Sem correr riscos não alcançamos nenhuma realização, não criamos nada para o mundo e nem para nós mesmos, não arriscamos, não sonhamos e não vivemos. Viver pressupõe correr riscos, e o risco é essencial à vida de qualquer ser vivo, aliás, a tudo que existe no universo. As mutações necessárias a evolução das espécies são determinadas justamente pelos riscos e complexidade da vida e da reprodução.
O ponto importante para mim é que o risco traz graça à vida, traz a responsabilidade dos acontecimentos, um pouco ao acaso, mesmo quando direcionamos nossas vidas não temos 100% de certeza dos eventos. Mesmo que tenhamos coragem de enfrentar os desafios e de realizar coisas, a imprevisibilidade traz um frio na barriga e ele nos mantém alertas.
A possibilidade de sair tudo errado e diferente do planejado existe, pode trazer alegrias e desapontamentos. Acho que não deveríamos ficar frustrados quando as coisas não saem como planejado, seria monótono também se todos os nossos sonhos se realizassem com facilidade ou da maneira que queremos. O risco faz toda a diferença de novo, ele nos traz para a realidade de que nem tudo depende de nós. O que seria a alegria sem a tristeza, o amor sem o ódio, o claro sem o escuro. O risco nos coloca os opostos. Todos vivenciamos os antônimos a todo o momento, não podemos determinar nossas experiências, nem nossos sentimentos.
Pois é, quanto maiores os riscos, maior será nossa ambição e consequentemente maiores os nossos sonhos. Isto mesmo, o risco de vida é proporcional ao tamanho dos nossos sonhos, sem riscos não há realizações.
É por isto que sempre digo, o paraíso é aqui e agora, não pode haver nada mais perfeito e fascinante que nossa existência. Não saber o que pode acontecer no próximo segundo nos deixa com uma vontade de viver o inesperado e o imprevisível, aquilo que ainda será escrito e que depende de nossas vontades e de nossas relações com o mundo. Viver o presente é viver os riscos e aceitá-los, quando aprendemos isto, vivemos com mais sabedoria e intensamente nossos momentos.
Quero viver com muito risco, please.